Minas Gerais Gerais

Após denúncia, 99 diz que retirou termo 'cracolândia' da Lagoinha, em BH

Por Redação

23/12/2022 às 22:50:47 - Atualizado há
 Uma moradora, que optou por não se identificar, enviou à reportagem uma captura de tela comprovando a classificação feita no mapa do aplicativo. Ela conta que, na última segunda-feira (19/12), estava encontrando muita dificuldade para conseguir um carro que a levasse para casa. Após muita insistência, o pedido foi aceito.  “Quando comecei a acompanhar o trajeto do veículo pelo aplicativo, o nome cracolândia chamou a minha atenção. Fiquei muito indignada, pois moro aqui há 14 anos”, inicia a moradora, destacando que, dependendo do horário, é mais difícil ter uma corrida aceita. “Isso acontece principalmente à noite”, completa. 
“Aqui é uma região que já tem rótulo negativo muito grande e não é isso tudo que as pessoas acham. É um prejuízo gigantesco para a comunidade quando um aplicativo de corrida tacha a região com um termo tão pejorativo”, reflete.  Para além dos estereótipos, o bairro é berço de Belo Horizonte, conforme aponta o professor e advogado Daniel Silva Queiroga, autor do livro "Nossas ruas, nosso patrimônio (in)visível: Dicionário toponímico da região da Lagoinha".  Relembre a reportagem – Lagoinha: as curiosidades que cercam o bairro considerado 'berço de BH' Ao Estado de Minas, o músico e doutor em Educação pela UFMG, Bodô Alcântara, de 46 anos, reconhece os problemas sociais da região, afirmando que “o crack é um problema de saúde pública”, mas destaca que os estereótipos ali lançados não representam a pluralidade que há no bairro.  “Sou um historiador da região e moro aqui há 23 anos. Não há roubo ou assaltos na Lagoinha. É uma regra imposta até pelo tráfico. Recentemente, tivemos o festival de jazz neste ano, que movimentou muito a economia na região. Aí vem um aplicativo e coloca que aqui é a cracolândia. Isso é muito prejudicial para nós”, avalia Alcântara, que também é fundador da Universidade Popular do Som, nascida na Lagoinha em 2019.  Idealizador do Viva Lagoinha – iniciativa que conecta pessoas que acreditam na requalificação do bairro – , Filipe Thales também lamenta a classificação da região no aplicativo. “Sofremos na pele diariamente, pois demora muito para um carro chegar aqui. O índice de cancelamentos – ao pedir um carro para ir a Lagoinha ou sair daqui – é grande”, afirma.  

O que diz a 99 App

Em nota à reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte disse que “irá avaliar as medidas cabíveis a serem adotadas”.  Já a 99 App afirmou que a denominação da região foi ajustada após as reclamações de moradores. A empresa ainda reforçou o compromisso em ser “a melhor opção de mobilidade urbana para as pessoas”, pontuando que tem “uma política de tolerância zero a qualquer tipo de discriminação”.  

Leia a nota na íntegra:

 "A 99 após cruzamento de dados ajustou a denominação da região apontada pelos moradores do bairro Lagoinha, em Belo Horizonte.  A empresa reforça que atua para ser a melhor opção de mobilidade urbana para as pessoas, oferecendo um transporte acessível e democrático para as 1.600 cidades em que está presente. Para equilibrar a necessidade dos motoristas parceiros por segurança e sem excluir regiões específicas, a 99 trabalha com transparência e possui uma política de tolerância zero a qualquer tipo de discriminação, seja ela de raça, gênero, religião, orientação sexual, idade, classe social, local de moradia, entre outras."
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