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Em algumas cerimônias de posse dos novos ministros, foram utilizadas expressões neutras para que pessoas não binárias (que não se identificam nem com o gênero masculino nem com o feminino) ou intersexo se sintam representadas. Em algumas cerimônias de posse dos novos ministros nesta semana, integrantes do governo Lula usaram o termo "todes", da linguagem não binária, também denominada linguagem neutra.O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foi um deles. Começou seu discurso com a frase: “Boa tarde a todas, a todos e a todes”.Alexandre Padilha discursa na cerimônia de posse no Palácio do PlanaltoReprodução/TV BrasilAssim como “todes”, "menine" e "amigues" são exemplos dessa linguagem cada vez mais comum nas redes sociais e entre membros da comunidade LGBTQIA+ e que representa também um fenômeno político e de inclusão.O objetivo em substituir o artigo masculino genérico pelo “e” é neutralizar o gênero gramatical a fim de que as pessoas não binárias (que não se identificam nem com o gênero masculino nem com o feminino) ou intersexo se sintam representadas. Saiba mais no vídeo abaixo:Mas o que é o gênero neutro?É a substituição dos artigos feminino e masculino por um "x", "e" ou até pela "@" em alguns casos.Assim, "amigo" ou "amiga" viram "amigue" ou "amigx". As palavras "todos" ou "todas" são trocadas, da mesma forma, por "todes", "todxs" ou "tod@s".A mudança, como é popular principalmente na internet, ainda não tem um modelo definido."Elu"Os defensores do gênero neutro também preferem a adoção do pronome "elu" para se referir a qualquer pessoa, independentemente do gênero, de maneira que abranja pessoas não binárias ou intersexo que não se identifiquem como homem ou mulher.Nas Olimpíadas de Tóquio, a narradora Natália Lara o comentarista Conrado Santana, do SporTV, jogaram luz sobre o tema durante uma partida de futebol entre as seleções femininas do Japão e Canadá. Os profissionais utilizaram o pronome "elu" para se referir a Quinn, atleta canadense que se identifica como pessoa trans não binária.Além dos pronomesPara Jonathan Moura, professor de língua portuguesa na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e doutor em linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a neutralidade de gênero na língua é abrangente e vai além de questões relacionadas a pronomes. Na ginecologia, profissionais já utilizam 'pessoas grávidas', em vez de 'mulheres grávidas', porque há a noção de que pessoas trans também podem engravidar e não necessariamente são mulheres. Isso também é neutralidade de gênero.Norma padrãoDe acordo com a norma padrão da língua portuguesa, o artigo masculino cumpre papel de pronome neutro no plural. Por exemplo, se um grupo de pessoas é composto por homens e mulheres, mesmo que majoritariamente feminino, pode-se referir às pessoas do grupo como "eles" ou "todos". Por isso, vestibulares ou concursos públicos que exigem o uso da norma culta da língua não aceitam a linguagem neutra. Pronome neutro no português? Atualmente, no português, o masculino também cumpre função de plural. No entanto, nem sempre foi assim. No latim, havia um pronome neutro, além do feminino e do masculino."Isso mudou quando o latim virou o português arcaico. Decidiu-se pela abolição do neutro e adoção do masculino para o plural", explica Moura. Para o especialista, não é impossível que a linguagem neutra passe a integrar oficialmente o idioma no futuro, mas ressalva que tudo dependerá de haver adesão pública."Uma linguagem precisa ser praticada para se manter viva, ou, neste caso, viver. Só assim ela passa a fazer parte do cotidiano das pessoas", explica.LEIA TAMBÉM:EUA emitem pela primeira vez passaporte para pessoa de gênero neutroJustiça de SC reconhece que pessoa pode se declarar com gênero neutroMais que uma letra: membros da comunidade LGBTQIA+ explicam o significado de cada letra