Quem duvida que a Fórmula 1 é um esporte provavelmente vai mudar de ideia ao acompanhar as postagens dos pilotos nesta época do ano nas mídias sociais. Sessões intermináveis na academia, quilômetros correndo ou na bicicleta e outras atividades que mexem com o corpo todo como esqui cross country e surfe costumam estar no cardápio. Além dos já famosos treinos para os músculos do pescoço, os mais exigidos numa corrida.
E o pior de tudo isso é que, por mais que eles treinem, simplesmente não é possível simular exatamente o que acontece dentro de um carro de corrida com aceleração e desaceleração ou capacidade de fazer curvas carregando tanta velocidade como um F1. Mesmo quem se prepara forte sabe que vai acordar no dia seguinte da primeira atividade de pista pelo menos com o pescoço dolorido.
Alguns pilotos já devem ter passado por isso ou estão passando. Nenhum carro de 2023 foi lançado até agora (a Haas mostrou a pintura e a Red Bull deve focar no anúncio de uma nova parceria ao invés do carro novo no lançamento desta sexta-feira, em Nova York), mas já tem piloto na pista. A Mercedes fez um teste com o carro do ano passado para a Pirelli nesta semana em Paul Ricard, a AlphaTauri também colocou os pilotos para andar em Imola em janeiro, a exemplo da Ferrari.
Isso acaba ajudando os pilotos na sua preparação física também, até porque, neste ano, cada um deles terá apenas um dia e meio de testes na pré-temporada, que será realizada no Bahrein entre 23 e 25 de fevereiro.
Mas então por que os pilotos treinam tanto antes da temporada se o que vale mesmo é pilotar?
Essas dores no pescoço e na região da lombar e glúteos para alguns pilotos é somente parte do problema.
Os batimentos cardíacos durante uma corrida ficam em cerca de 85% do máximo, então é como se você estivesse correndo em um ritmo moderado a forte por 90 minutos. Daí a necessidade dos treinos aeróbios.
Para frear o carro, é preciso fazer muita força, de maneira explosiva. Então é outra musculatura que precisa estar treinada. O pescoço é um clássico porque tem de segurar a cabeça nas curvas (em que a força lateral chega a 6 vezes a força da gravidade) e desacelerações. E a direção também exige força, em uma posição não muito confortável.
A parte da lombar também é muito solicitada porque o piloto fica em uma posição quase deitada no cockpit, que não é acolchoado ou feito para dar qualquer conforto. Ele fica, inclusive, perto do assoalho do carro, então é a lombar dos pilotos que sentem as ondulações. Especialmente com esses carros atuais, que têm sofrido com quiques.
Até aí, cobrimos só a parte física. Muitos pilotos dividem sua preparação entre 50% de treinamento físico e 50% mental. A ideia é que a concentração, o raciocínio rápido, a coordenação e a adaptabilidade sejam tão automatizados que gastem o mínimo possível de energia do corpo. Assim, eles conseguem tomar as melhores decisões até o final da corrida.
Com 23 corridas em quatro continentes, 21 países diferentes e 39 semanas a partir do GP do Bahrein em 5 de março, não há muito tempo para treinar tudo isso ao longo do ano. Então a hora é agora para fazer o treino de base de toda a temporada. (Julianne Cerasoli/Folhapress)
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