Há 17 anos trabalhando com encomenda de bolos em Mauriti (CE), Gorete Nogueira, 39, fez sucesso nas redes sociais quando começou a compartilhar um modo inusitado de realizar as entregas. A confeiteira faz o transporte na garupa de uma moto, equilibrando os bolos na cabeça, e com um largo sorriso no rosto.
A prática veio da necessidade. Por não ter um carro próprio, ela fazia as entregas a pé. Sem tempo para andar até a casa de uma cliente, e por ser muito caro pagar o frete a um motorista, ela propôs ao ex-marido que a levasse numa motocicleta.
"Comecei a entregar meus bolos de moto há quase 10 anos, porque terminei um bolo já bem atrasada, e vi que não ia dar tempo de chegar. Pedi que ele [o ex-marido] me levasse. Na hora, ele disse que eu era 'doida', mas eu sabia que ia dar certo. Entregamos em bem menos tempo, porque eu só entregava a pé", contou.
Agora, a motocicleta é pilotada pela filha da confeiteira, Ana Clara, 18. A jovem foi o motivo pelo qual Gorete começou a fazer bolos, já que a mulher foi mãe solo e precisava sustentar a criança.
"Vi em mim uma obrigação, um compromisso muito grande de criar uma filha sozinha, já que o pai não assumiu. Então, comecei a fazer bolos bem simples, bem caseiros, vendendo em escola e de porta em porta. E, então, fui criando gosto aprimorando. Fiz até um forno a lenha, porque nem fogão a gás eu tinha. Não tinha quase nada, mas tinha a vida e tinha a coragem", lembra, emocionada.
Segundo a confeiteira, em todo esse tempo, apenas um bolo foi perdido durante a entrega, mas garante que não foi culpa dela. No dia, um carro invadiu a contramão e acabou derrubando ela, a filha e a encomenda.
Os bolos são transportados equilibrados na cabeça da confeiteira por até 8 quilômetros. Ela garante já ter levado até três bolos por vez, alguns de três andares e batendo "até 25 quilos". Gorete também garante que os clientes não se incomodam, e que, na maioria das vezes, não cobra a entrega.
SUCESSO NAS REDES SOCIAIS
Após o alcance dos vídeos de Gorete, que passou de 300 mil visualizações em apenas uma postagem, ela diz ter ganhado uma panela elétrica para fazer os recheios e uma bailarina -um suporte giratório que facilita o trabalho no momento de decorar bolos e tortas.
A primeira postagem mostrando o inusitado serviço de entrega da confeiteira tinha o objetivo de chamar a atenção de um perfil que realiza encontro de confeiteiros no Cariri. Ela conseguiu, participou do evento, mas foi ainda mais longe. Em poucos dias, a confeiteira viu o número de seguidores saltar de pouco mais de mil para mais de 35 mil.
Os comentários -bem como as críticas à prática- se multiplicaram. "Sucesso! Mas me tira uma dúvida. E a poeira, nunca teve um problema na aparência do bolo?", questionou uma seguidora. "Admirável, mas poderia aderir uma embalagem para cobrir o bolo, assim evita sujeira", sugeriu outra.
"Com o sucesso vem, sim, muitos comentários desagradáveis. Mas, graças a Deus, já sou vacinada contra isso. Tem muita fofoca, muitas pessoas que se incomodam com o crescimento da gente. Nos comentários maldosos, dou apenas um curtida, ou então nem vejo. Não absorvo. Tento absorver só as coisas boas", contou a confeiteira.
"Me preocupo com o risco de estragar o bolo por alguma poeira ou bicho, mas graças a Deus, os clientes nunca reclamaram e não se incomodam. E os que querem um bolo mais requintado, que não querem que leve assim, vêm buscar na minha casa de carro", explicou.
(Mariana Durães / Folhapress)
O TEMPO