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Covid-19: Estudo mostra que novo medicamento pode reduzir em 51% hospitalizações


Pouco mais de um ano após a agência reguladora dos Estados Unidos aprovar o uso do Paxlovid para combater os sintomas da Covid-19 na fase inicial da doença, um novo medicamento pode ser utilizado para minimizar os danos da infecção pelo Sars-CoV-2 no organismo. Trata-se do Interferon Peguilado Lambda, medicamento em fase de testes que pode reduzir até 51% as hospitalizações e atendimentos de emergência, e até 81% as causas de óbitos em decorrência da enfermidade .

O resultado consta em estudo divulgado pela revista científica New England Journal of Medicine (NEJM), considerada uma das mais importantes na área de medicina no mundo. A grande novidade, conforme pesquisadores brasileiros e canadenses, é que o medicamento, diferentemente do Paxlovid - principal medicamento utilizado no combate aos sintomas do coronavirus -, combate infecções causadas por todas as variantes do vírus: desde a cepa inicial surgida em Wuhan, na China, até a ômicron e suas variações, com transmissão iniciada em 2021.

O professor Gilmar Reis, adjunto do Departamento de Medicina da PUC Minas e associado do Departamento de Métodos de Pesquisa em Saúde, Evidências e Impactos da Universidade McMaster, no Canadá, é um dos pesquisadores à frente do ensaio científico. Ele relatou que o estudo, iniciado em 2020, foi feito com 2 mil voluntários - sendo a grande maioria brasileiros -, e obteve resultados promissores apenas com uma dose do medicamento para a redução do risco de internações.

Durante a pesquisa, 931 pacientes voluntários receberam o medicamento e 1.018 receberam o placebo - composição à base de soro fisiológico. O grupo contou com pessoas contaminadas com a Covid-19 ou diagnosticadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave. Ao todo, 84% dos participantes foram vacinados contra a doença. Entre os pacientes com alta carga viral no início do estudo, o grupo que recebeu o interferon lambda apresentou cargas virais mais baixas do que os que receberam placebo já no sétimo dia de sintomas.

Já a incidência de eventos adversos foi semelhante nos dois grupos. O ensaio ainda observou que quando os pacientes receberam o tratamento com o medicamento três dias após o início dos sintomas, foi observada uma redução de 65% da hospitalização relacionada à Covid-19 e redução de 81% das causas de morte. “O estudo mostra que quanto mais precoce você aplicar, maior será a probabilidade de redução dos eventos”, atestou Reis.

Ao todo, 14 fármacos foram alvo de estudos. O Interferon Peguilado Lambda, segundo o médico, foi o que apresentou os resultados mais promissores. O remédio pode ter um custo mais baixo que outros disponíveis no mercado, além de não ter limitações de uso. O Paxlovid, por exemplo, chegou a custar até R$ 4 mil e é indicado para pacientes de alto risco e maiores de 12 anos, segundo a Pfizer, responsável pelo medicamento.

“É um estudo feito praticamente no Brasil, conduzido aqui por um grupo de cientistas brasileiros em uma rede de pesquisa que foi criada na Covid-19 e estamos nos preparando para estudar essa medicação em outra virose, muito importante, que é a Influenza, que ainda ceifa milhares de vidas”, observou o médico e pesquisador Gilmar Reis.

Interferon

Os testes foram feitos considerando uma injeção subcutânea, única, na região do umbigo, inferior a 0,5 ml. O medicamento é desenvolvido pela farmacêutica Eiger BioPharmaceuticals e busca a produção de respostas imunes para infecções virais por vias áreas. Apesar da eficácia apontada no ensaio científico, o remédio ainda depende de aval das agências reguladoras de cada país.

O pesquisador Gilmar Reis reforça que já há versões do fármaco para tratamento de tipos de esclerose e hepatite. A versão Lambda é adaptada às infecções por vias áereas. “Imagino que deve ser uma medicação mais barata que o Paxlovid. Mas temos ainda que aguardar. O estudo existe e em fundamento muito bem feito desse possível benefício. O ensaio clínico mostrou isso, sendo bem conduzido e controlado por placebo, como manda o figurino da boa prática científica”, destacou o docente.

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