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Política

Jovens e crianc?as trans esta?o sendo mortas cada vez mais cedo, diz autora de dossiê


De 175 pessoas trans assassinadas no Brasil em 2020, 8 tinham entre 15 e 18 anos, segundo associação. A idade mínima já baixou em 2021, com a morte de Keron Ravach, de 13 anos, no Ceará. Manifestação pede que homicídio da adolescente trans Keron Ravach, em Camocim, no Ceará, seja julgado como transfobia

Reprodução/Mães pela Diversidade

Keron Ravach, de 13 anos, foi assassinada com pauladas, chutes e socos em Camocim, no Ceará, nos primeiros dias deste ano. Seu corpo foi encontrado em um terreno baldio. O motivo do crime, segundo a polícia, foi ela cobrar uma dívida de R$ 50 por um encontro sexual que teve com o suspeito, de 17 anos.

A idade de Keron corresponde à idade média estimada em que travestis e mulheres transexuais são expulsas de casa pelos pais, observa Bruna Benevides. Mulher trans, negra, militar e uma das principais referências sobre o tema no país, ela é coautora do dossiê sobre assassinatos dessa população, divulgado nesta sexta (29), pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

A publicação, assinada ainda pela professora Sayonara Nogueira, também travesti e vice-presidente do Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE), contabiliza os crimes a partir de reportagens e relatos de organizações LGBTQIA+, na falta de dados oficiais.

Entre 175 assassinatos reportados em 2020, 8 vítimas tinham entre 15 e 18 anos. A morte de Keron, que entrará para o relatório de 2021, baixa essa mínima em 2 anos, algo inédito para a pesquisa, que começou em 2017. Naquele ano, a vítima mais jovem tinha 16.

Keron Ravach é a vítima mais jovem nos relatórios da Antra, que contabiliza as mortes de transexuais no Brasil desde 2017

Arquivo pessoal

A idade média das vítimas no ano passado, pelo relatório da Antra, foi de 29,5 anos. A expectativa de vida de pessoas trans no Brasil é de 35 anos, enquanto a da população brasileira em geral passa dos 70 anos.

"Ser negra, mulher trans ou travesti, periférica ou favelada, do interior faz esta média (de 35 anos de vida) cair muito", diz o relatório da Antra.

Bruna Benevides afirma ainda que as chances de ter a vida interrompida aumentam se, além de negra e pobre, a mulher trans for "fora do padrão, segundo a leitura social". Ou seja, "se ela é aquela que de longe as pessoas já identificam como travesti", explica.

Isso porque as transformações que podem aproximar as mulheres trans e travestis do "padrão" que a sociedade considera aceitável para uma mulher são privilégios de quem tem mais renda.

Ciclo de exclusões

O relatório da Antra mostra um ciclo de exclusões e violências que vai até a morte das trans. Ele começa com a expulsão de casa, aos 13 anos, em média, passa pelo abandono da escola, da negação ao convívio social, ao emprego e pela falta de acesso a direitos fundamentais, sociais e políticos.

"Pessoas trans têm enfrentado níveis assustadores de rejeição familiar, geralmente, desde a mais tenra idade", destacam Bruna e Sayonara no dossiê. "Essa rejeição pode ter um impacto devastador sobre os indivíduos e isolá-los dos espaços sociais essenciais ao seu bem-estar, além de provocar um aumento das dificuldades de acesso e continuidade na formação escolar."

Dados do projeto Além do Arco-íris/Afro Reggae mencionados no relatório da Antra mostram que somente 0,02% da população trans está na universidade, 72% não possuem o ensino médio e 56%, o ensino fundamental.

Sem formação e rejeitadas do convívio social, 90% das trans recorrem à prostituição. E 72% das travestis mortas em 2020 eram profissionais do sexo.

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Ódio pelo desconhecido

A Antra estima que 75% da população não conhece, teve contato ou se relaciona socialmente ou em seu cotidiano com uma pessoa trans. Para muitos pais, ter uma pessoa trans dentro de casa pode ser a primeira experiência com essa população.

"Infelizmente, o medo do desconhecido e do estigma antitrans causado por elementos como narrativas violentas como a falaciosa 'ideologia de gênero', o ódio religioso que trabalha pela manutenção do binarismo de gênero e o cissexismo, a implementação de políticas institucionais antitrans... esse cenário leva muitos a inicialmente rejeitarem ou negarem o reconhecimento de seus filhos e filhas, pelo que são", diz o dossiê da Antra.

A associação destaca ainda o aumento da violência nas redes sociais.

"Assassino não é apenas quem puxa o gatilho. Mas quem dissemina ódio e estigmas, nega direitos, vulnerabiliza, adoece e expõe pessoas trans a riscos", resume Bruna.

"O que a gente tá tentando a todo instante dizer é que essas tentativas de assassinatos, a negação para (uso do) banheiro (feminino), agressões... são narrativas que nos desumanizam, nos colocam como não dignas de convívio familiar, social. Introjetam que as trans não podem ser reconhecidas como gente."

Maioria das trans assassinadas são negras, prostitutas e são mortas em espaços públicos, com requintes de crueldade

Anderson Cattai/G1

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