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Escalada da chikungunya liga alerta em Minas



“O  estado de Minas Gerais é infestado do mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue, chikungunya, zika e, potencialmente, a febre amarela (urbana). Sendo assim, as chances de um arbovírus se espalhar pela população suscetível é muito grande”, informou a pasta, na noite de ontem, ao responder a questionamento do Estado de Minas sobre o risco de outras regiões do estado, diante dos surtos já verificados em municípios do Norte de  Minas e dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri. “O momento é de unir forças do poder público e da população. As pesquisas dizem que 88% dos focos do mosquito transmissor estão dentro das residências. Não podemos deixar água parada, que é onde o mosquito coloca os ovos e nasce”, alertou a pasta. 
De acordo com os números da SES, em fevereiro (até ontem), foram registrados 7,5  mil casos prováveis de chikungunya no estado, contra 10,8 mil notificações de janeiro. Montes Claros, no Norte de Minas, é uma das cidades onde os casos da doença explodiram neste mês: 2.981 notificações (até segunda), segundo a Secretaria Municipal de Saúde do município, que tinha registrado 1.093 casos da enfermidade em janeiro. Outros municípios do Norte de Minas também registram surtos da chikungunya, com pacientes evoluindo para a fase crônica da doença. Entre eles estão Januária,  Pirapora e  Capitão Enéas.
O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia,  Carlos Starling, alerta que existe um grande risco de os surtos de chikungunya se espalharem para outras regiões do estado, o que deve ser evitado com o combate ao mosquito transmissor. “Existe um  sério risco de a doença se disseminar para outras regiões do estado, principalmente para aquelas onde há alta infestação do mosquito, um elevado  LIRAa (Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti). “A medida  mais importante para controlar e se evitar o avanço (da doença) é exatamente o combate aos focos do mosquito, a resídios e lixo jogados em locais inadequados e o controle das condições sanitárias”, completou o infectologista.
Starling adverte que a chikungunya pode se tornar muito grave  e provocar complicações sérias, principalmente causando dor nas  articulações de  maneira imobilizante. “Algumas pessoas (em torno de 10%) permanecem com essa dor por um período longo, de 30 dias ou até meses com os sintomas, o que leva à necessidade de afastamento do trabalho e uso prolongado de medicamento. É uma do- ença complexa, que pode ser prevenida com o controle da disseminação do Aedes aegypti.”
“Um pouco diferente da dengue.” A SES explica que,  embora ambas sejam transmitidas pelo Aedes, a chikungunya e a dengue são “um pouco diferentes”. “Apesar de apresentar um número menor de pacientes para internação e risco de óbito, a chikungunya tem uma fase febril ou que podemos chamar de aguda, com duração que pode ser de cinco a 14 dias, podendo ocorrer um fase pós-aguda, que tem um curso de até três meses, e ainda uma fase crônica, quando os sintomas persistem por mais de três meses após o início da doença, podendo durar anos. Alguns dos doentes vão se recuperar e outros demandarão por longo tempo cuidados em saúde, cuidados médicos, paliativos para dor, apoio para exercer as atividades diárias e exercícios de reabilitação’, diz a pasta estadual. 
Sobre as medidas para o combate  à chikungunya, a  Secretaria Estadual de Saúde informou que tem feito, via Vigilância em Saúde, monitoramento epidemiológico constante, laboratorial, de circulação viral e entomológico, além de ações de apoio ao controle vetorial, comunicação e mobilização social. Há um Comitê de Enfrentamento das Arboviroses ativo, e profissionais são enviados para apoio aos municípios mais necessitados. Além disso, é oferecida orientação, qualificação e treinamento de técnicos e agentes de controle de endemias (ACE) dos municípios e fomento da Política de Enfrentamento das Doenças Transmitidas pelo Aedes por meio de repasses financeiros para municípios desenvolverem ações.
A pasta  destaca ainda  que “o controle vetorial é a peça mais importante, principalmente as atividades do ACE e da mobilização social, para que todos cuidem de suas casas e quintais. A forma mais eficaz de conter o aumento da população do mosquito é interrompendo o ciclo de desenvolvimento que acontece na água parada”, destaca. (Colaborou Mariana Costa)

Montes Claros em emergência

O time do Montes Claros América Vôlei, que disputa a Superliga Masculina, teve suas atividades prejudicadas,  com  quatro dos seus jogadores contaminados pela chikungunya. A situação enfrentada pelos atletas é a mesma de milhares de moradores da cidade-polo do Norte de  Minas, de 414,3 mil habitantes, que desde janeiro enfrenta um  surto da doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, também vetor dos vírus da dengue e da zika. Além dos impactos no atendimento à saúde, o surto pressiona também as empresas, devido ao afastamento dos empregados.
De acordo com os números da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, a cidade teve 78 casos de chikungunya em dezembro, número que se multiplicou e alcançou 1.093 em janeiro, com nova explosão neste mês, com 2.981 casos notificados até ontem. O aumento dos casos da doença também é verificado em outras cidades do Norte de Minas, como Capitão Enéas,  Januária e Pirapora, com o registro da evolução de pacientes para a fase crônica da enfermidade, caracterizada por sintomas como dores nas articulações, que persistem por mais tempo.
E não é só a chikungunya que preocupa a região. Desde 16 de fevereiro, Montes Claros encontra-se em estado de emergência na saúde pública  por causa das três doenças infecciosas transmitidas pelo Aedes aegypti. Em sua justificativa, o decreto afirma que a cidade enfrenta “um cenário alarmante para a ocorrência de dengue, chikungunya e zika vírus”. A situação emergencial  foi decretada por 120 dias. 
De acordo com a coordenadora de vigilância epidemiológica da Secretaria de Saúde do município, Aline Lara Cavalcante Oliva,  os casos de chikungunya na cidade avançaram na  primeira quinzena de fevereiro e motivaram 165 internações nos hospitais locais, sendo 140 pacientes de  Montes Claros e 25 de outros municípios. Dessa forma, diz Aline, o surto da moléstia acabou provocando “alta demanda por atendimentos, gerando sobrecarga no sistema de saúde” . 
Aline Lara explica que a municipalidade reforçou a assistência aos pacientes contaminados pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, que estão sendo atendidos em 142 postos de saúde da família (PSFs), laboratórios, clínicas particulares e na unidade de pronto-atendimento (UPA) do Bairro Chiquinho Guimarães, além do Pronto-Socorro Municipal Alpheu de Quadros. 
Uma das ações desenvolvidas no atendimento aos pacientes, realizada nas unidades básicas de saúde, é a hidratação venosa. Isto porque a desidratação é um dos principais sintomas da chikungunya. Entre os sintomas da doença estão febre, mialgia, artralgia, vômito, dores nas costas, náusea e artrite. Contaminada há duas semanas, a radialista Thaysa Silva vem enfrentando a lista de sintomas.“Hoje (ontem) estou no 14º dia de sintomas e ainda sinto dores ao fazer movimentos de rotina”, contou Thaysa. “Na minha rua, todas as casas tiveram pelo menos uma pessoa infectada.” 
No Montes Claros América Vôlei, outras pessoas, além dos jogadores, acabaram sendo contaminadas pela doença infecciosa. Foi o caso de Gian Marlon Soares,  assessor de imprensa da equipe.  Ele conta que, inicialmente, na tarde de sábado (25/2), sentiu muita dor de cabeça, febre e tontura repentinamente. No dia seguinte,  as dores  se intensificaram e atingiram as articulações e os olhos também. “Estou com um pouco de dificuldade de andar porque doem os pés e as juntas”, disse Gian, ontem. 
A explosão dos casos de chikungunya também traz prejuízos econômicos, afetando o comércio. Que o diga Teresinha Castro, proprietária de uma loja de decoração em Montes Claros. 
“O surto de chikungunya teve impacto significativo sobre a produtividade da nossa empresa. Dos nossos 28 empregados, quatro do mesmo setor foram afastados por 15 dias, para tratamento de saúde”, diz. “Após o retorno, a produtividade deles ficou extremamente comprometida em função das dores articulares constantes”,  completou.

Outras cidades

Situada às margens do Rio São Francisco, Pirapora, de 56,6 mil habitantes, é outra cidade do Norte do estado que enfrenta surto de chikungunya. Segundo a Secretaria  Municipal de Saúde de Pirapora, a cidade teve 87 registros da doença em fevereiro, com maior número de notificações  entre 4 e 8 de fevereiro. 
Sobre a evolução dos pacientes contaminados da fase aguda para a fase crônica da doença, a Secretaria Municipal de Saúde de Pirapora respondeu: “Ainda é precoce para mensurar sobre a fase crônica, considerando que os casos diagnosticados ainda não têm três meses de evolução. Após os três meses, a mensuração de pacientes em fase crônica será mais precisa”. 
Ainda no Norte do estado, em Januária (67,82 mil habitantes), também banhada pelo Velho Chico, a  Secretaria Municipal de Saúde informou que a cidade enfrentou uma explosão de casos de chikungunya em dezembro, com 986 notificações. Mas de lá pra cá, a incidência diminuiu e foram registrados 67 casos neste mês, até a semana passada. 
A Secretaria de Saúde de Januária informa que implementou uma ação para auxiliar as pessoas que ficaram com sequelas da chikungunya (forma crônica). 
“Inevitavelmente, há pacientes com sequelas decorrentes da chickungunya. No entanto, o município vem adotando medidas no sentido de reabilitá-los por meio de atividades de orientação continuada com atividades físicas, caminhada orientada, entre outras, acompanhadas por equipe interdisciplinar de médicos, fisioterapeutas, psicólogos  e educadores físicos”, informou a pasta municipal.
Ainda no Norte de  Minas, em Capitão Enéas, cidade de 15,4 mil habitantes, a prefeitura revela que o  município começou a enfrentar um surto de chikungunya em meados de dezembro e que, neste mês, foram registrados na cidade 161 casos da doença, dos quais 18 suspeitos na semana passada. A Prefeitura de Capitão Enéas também informa que diversos pacientes contaminados pela chikungunya retornaram aos serviços de atendimento ambulatorial do município com “sintomas persistentes”, que caracterizam a evolução para a forma crônica da doença. (LR)

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