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Governo federal diz que aeroporto Carlos Prates será desativado em abril

Por Redação

15/03/2023 às 05:25:43 - Atualizado há

A aposentada Neuza de Fátima Gonçalves, moradora de uma das casas atingidas pelo avião que caiu na rua Morro da Graça, no Bairro Jardim Montanhês, no último sábado, recebeu a notícia com ceticismo. “Desde que eu entendo por gente, 1º de abril é o Dia da Mentira. Será que vai ser verdade mesmo?”, questiona em tom de brincadeira. Alheias ao temor dos moradores, as aeronaves passam de cinco em cinco minutos sob a casa de dona Neusa.
No momento em que conversava com a reportagem do Estado de Minas, ela tomou um susto com um avião passando rasante na rua. “Quase enfartei. Espero que agora acabe esse pesadelo, essa tristeza. Aqui não pode nem dormir mais”, disse mostrando as mãos tremendo. A aeronave que caiu no sábado era pilotada pelo oftalmologista José Luiz de Oliveira Filho, de 65 anos, que morreu. A filha dele, Jéssica de Oliveira Carvalho, de 33, segue internada no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.
Nas ruas, o sentimento geral é de alívio com a perspectiva de fechamento do aeroporto. “Isso aqui tem que acabar, já morreu muita gente”, afirma a aposentada Nelsi Manuelina Souza, de 68. Ela morou por mais de 40 anos no entorno do aeroporto e, hoje, já longe dali, teme pela segurança da neta, que ainda mora no Padre Eustáquio. “Tinha muito medo. Ainda tenho quando venho visitar minha família, fico preocupada com eles”, disse.
Vicentina Colares, de 87 anos, dona de outro imóvel atingido pelo avião, também não está confiante com a notícia. “Sempre falei que nunca ia cair aqui, e aconteceu. Eu não tinha medo, mas a gente não sabe o perigo que corre”, conta, ainda perplexa com o acidente. “Essa conversa já é antiga, tem 42 anos que eu moro aqui. Quando mudamos pra cá, o aeroporto já estava aqui e duvido que isso vai mudar”, comenta.


FORMAÇÃO DE PILOTOS

A conclusão desse impasse abre nova discussão: onde alocar as atividades do aeroporto? Segundo a Voa Prates, associação que representa as empresas do aeródromo, não existe na Região Metropolitana de Belo Horizonte nenhum outro local com estrutura suficiente para receber as atividades do aeroporto. O terminal é voltado principalmente para a formação de pilotos, inclusive os da Polícia Militar e Federal e Corpo de Bombeiros, aviação desportiva e de pequeno porte e construção de aeronaves. “As escolas de formação são altamente regulamentadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Para conseguir mover uma escola, você precisa de toda uma estrutura, ela tem que ser previamente aprovada pela Anac. Hoje, não existe na nossa região nenhum aeroporto que tenha essa infraestrutura”, afirma Estevan Velásquez, presidente da associação Voa Prates.
O encerramento das atividades do Carlos Prates, segundo Velásquez, pode causar um colapso na aviação do país. Para ele, a decisão foi tomada no calor das emoções, sem levar em consideração o impacto da medida. “Esse é o segundo maior formador de pilotos do Brasil. Nós recebemos alunos de todas as regiões do país. Falam muito da Pampulha, mas não existe um único hangar disponível lá, que de toda forma não comportaria o volume de atividades que temos aqui”, reclama.
Procurada pela reportagem, a CCR Aeroportos, empresa responsável por operar o Aeroporto da Pampulha, informou que “não possui nenhuma restrição operacional para atender qualquer demanda de voo de aviação geral, mas não tem atividade na formação de pilotos”.Atualmente, o Carlos Prates tem 15 empresas, que geram cerca de 500 postos diretos de trabalho. Ele ressalta, ainda, que os acidentes registrados na região não envolviam aeronaves de instrução. “As decisões estão sendo tomadas sem nenhum tipo de diálogo. Parece que se desconsiderou os empregos que serão perdidos, as empresas que serão fechadas”, criticou.


ALUNOS 

Ainda segundo o presidente da Voa Prates, os principais prejudicados serão os alunos de programas como Fies e Prouni, que não irão conseguir sustentar os estudos práticos em escolas no interior de Minas ou em outros estados. “Eles são obrigados a ter carteira de voo e completar um banco de horas de voo para se formar. São pessoas que trabalham, estudam, e fazem as aulas no tempo livre. Não tem condições de fazer um deslocamento desses, fora o custo”, comenta.
O policial militar Gabriel de Franco Fernandes veio do Distrito Federal para fazer o curso de aviação no Carlos Prates. A formação ainda seguiria até meados de julho. “Vai ter um impacto significativo, a gente ainda não sabe quais são as opções, o que podemos fazer. Se efetivamente tiver a desativação, vamos ter que pensar em um plano B”, contou à reportagem. Para ele, a localização é o ponto forte do aeroporto e um facilitador para os alunos. “Para a formação é muito importante essa centralização na capital. Outros estados não têm isso”, comenta. A desativação do aeroporto ainda vai pesar mais no bolso dos alunos. “Pra gente tudo fica mais caro. São gastos com deslocamento, moradia em outra cidade, que não entravam no orçamento”, aponta.


PBH faz pedido formal a ministra

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, enviou ofício ontem à ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, com o pedido formal de doação do terreno onde está localizado o Aeroporto Carlos Prates. A medida é o primeiro passo após o início da desativação e transferência da gestão do local para a prefeitura, previsto para 1º de abril, para que as intervenções possam ser realizadas.
“Hoje, durante a minha posse como vice-presidente para a Região Sudeste da Frente Nacional de Prefeitos, tive a oportunidade de encontrar o presidente Lula e agradecê-lo pelo empenho e apoio em resolver o problema do Aeroporto Carlos Prates, bem como outras demandas de BH. Como prefeito e, agora, vice-presidente do Sudeste na FNP, seguirei com o diálogo constante com o governo federal. Belo Horizonte tem muito a ganhar com esta parceria. Muito obrigado, presidente", disse Funad.
Mais cedo, o prefeito já havia se manifestado. “É um grande passo para que Belo Horizonte possa resolver o problema de moradia, levar paz e tranquilidade para a região do Carlos Prates e, ainda, evitar esses acidentes trágicos que têm acontecido”, disse ele vídeo publicado nas redes sociais, na manhã de ontem.
A previsão é que sejam investidos cerca de R$ 500 milhões nas intervenções. As conversas para resolução da destinação do aeroporto na capital começaram em janeiro, com a posse do atual governo federal. Fuad Noman participou de agendas com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, além de conversas com o ministro Márcio França, de Portos e Aeroportos.
A Prefeitura de Belo Horizonte já apresentou ao governo federal um projeto social para o local: construção de cerca de 2 mil casas populares, um parque e um polo industrial não-poluente. Segundo o prefeito, esses são projetos iniciais que, a partir de agora, passarão a ser detalhados e discutidos com os envolvidos.
Para a transição a partir de 1º de abril, a Anac irá emitir um documento chamado Notam (Aviso para Aeronavegantes) informando a desativação do aeródromo e a transferência da gestão para a Prefeitura de Belo Horizonte. Após a emissão do documento, a PBH pode começar a realizar as primeiras intervenções como o cercamento, vigilância com a participação da Guarda Civil Municipal e o início da arborização de parte do terreno. O passo seguinte é o trâmite da doação do terreno da União ao município, iniciado nesta terça-feira com o envio do ofício ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.
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