É com o envelhecimento que o ser humano aprende a renunciar ao excessivo controle que deseja ter sobre si mesmo e sobre a vida, inclusive a dos outros. Quando jovens, somos tentados a acreditar que nossa vida está integralmente sob nosso controle e que temos ascensão sobre a vida dos demais, mas quando a maturidade chega aprendemos que vivemos em um mundo instável e que, a qualquer instante, tudo em nossas vidas pode mudar completamente. Entendemos que cada pessoa é singular e que nossos valores, por mais que os amemos, não precisam necessariamente ser compartilhados pelos outros e, com isto, aprendemos a deixar que os outros vivam segundo suas convicções.
A mania de controle vai cedendo espaço para uma relação mais amistosa com o mundo, na qual vamos aprendendo a conviver com a impermanência e com a instabilidade das coisas. Se o trem atrasou, não há o que ser feito. Se o carro enguiçou, o melhor é mandar ao conserto. As resoluções parecem mais simples e aquilo que antes significava uma “catástrofe” passa a ser percebido como um movimento natural das coisas: que em alguns instantes dão certo e em outros dão errado. A maturidade pode nos ensinar que tão importante quanto planejar é ter um pouco de confiança no acaso, já que a vida não acontece apenas segundo as nossas expectativas.
Com o amadurecimento aprendemos a confiar mais no universo do que na força das nossas mãos. Entendemos que nossas vidas são o resultado das boas e das más escolhas que fomos fazendo ao longo da nossa existência e que, ao lado de alegrias, conquistas e vitórias, não fossem as dores, as tristezas e as decepções que sofremos, nós nunca seríamos quem somos hoje. Aprendemos a ser gratos por quem somos, nos reconciliamos com nosso passado e vivemos sem renunciar nenhuma parte de nós em nome de agradar aos outros.
Não tem nada melhor do que amadurecer para termos uma relação mais saudável e feliz conosco. Quando jovens somos dominados pela insegurança e pelo temor de não sermos aceitos por nossos pares, com a idade nos tornamos mais amigos da gente e passamos a amar e a admirar a pessoa que nos tornamos, a ponto de deixarmos o personagem de lado em nome da nossa autenticidade. Nos reconciliamos conosco e dissipamos muitas das dúvidas que nos incomodavam. Entendemos que viver sem máscara pode ser bem mais prazeroso e mais leve do que quando acreditávamos que elas nos serviam de proteção social. É claro que tem dias ruins, mas a maioria dos dias é boa.
Aprendemos que sair, viajar, divertir-se e estar cercado de gente é bom, mas que não há nada mais extraordinário que aquela hora do dia em que os negócios terminam, os afazeres acabam e as obrigações cessam para que possamos simplesmente jantar, tomar um banho e nos deitar para descansar. A idade nos ensina a valorizar o simples, o essencial e o cotidiano, já que é isso que realmente dá significado a vida.Como nossa relação conosco passa a ser de admiração, respeito e cuidado, o peso da opinião alheia, tão vital quando se é jovem, passa a representar apenas o que sempre foi: uma opinião. Não levamos demasiado a sério o que as outras pessoas acham de nós, pois com maturidade passamos a ter noção de quem somos de fato e o que as pessoas pensam ou falam sobre nós não mais arranha nossa percepção sobre nós mesmos. Eis a liberdade que sempre sonhamos!
Como foi dito antes, não temos dúvida que as perdas acontecem durante o envelhecimento, pois elas são resultado de um processo natural de deterioração do corpo, o qual podemos, no máximo, retardar um pouco - e desde que tenhamos em mente que não há nada mais natural do que as transformações que o passar dos tempos nos trazem. No entanto, há também um outro lado, por vezes pouco explorado por aqueles que estão, como nós, em processo em envelhecimento, que é essa suprema liberdade de ser... sem se preocupar se nos assistem ou não a dançar a música da vida!
Estado de Minas