O trabalho começou em 2015, quando Rafael era monitor de fotografia na Escola Municipal Senador Levindo Coelho. Na época, segundo ele, não era possível sair da escola com as crianças para fazer imagens novas, devido a um conflito entre facções. "Comecei a fotografar a favela vazia e daí levar as imagens para eles."
A tarefa dos alunos era unir foto e palavra para criar uma poesia sobre o lugar onde moravam. A atividade acontecia no contraturno escolar com crianças e adolescentes entre sete e 14 anos.
Uma das alunas, no poema, disse sentir falta de flores na paisagem que via de sua janela. "Isso me incomodou demais, saí para procurar, e realmente não tinham flores no morro."
Rafael comprou sementes e plantou em uma das encostas da comunidade. As flores nasceram. As pétalas brancas e amarelas começaram a ser usadas como adereços na pele negra e no cabelo crespo de quem ele retratava.
Dois anos depois, ele reuniu sua turma de 2015 e levou até a encosta para ver o quanto o local estava florido. Além das fotografias, rodas de conversa sobre autoestima e negritude fazem parte do seu trabalho. Os encontros, que começaram na escola, tomaram praças e parques da região. "Como não temos um espaço, é importante tentar ocupar os lugares públicos."
As rodas de conversa deixaram de ser periódicas após a pandemia, agora são marcadas em um grupo de WhatsApp. Atualmente ele ensina fotografia para jovens da região em encontros gratuitos.
Seu trabalho, que já vinha sendo notado nas redes sociais por nomes como Lázaro Ramos e Babu Santana, foi exposto no no Memorial Vale, centro cultural da capital mineira, pela primeira vez em novembro de 2022.