A restauração de São Francisco da Penitência, incluída num grupo de 24 imagens, foi realizada pelo Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor) da Escola de Belas Artes da UFMG (EBA/UFMG), no âmbito do Projeto Extramuros, viabilizado por meio de convênio celebrado entre o Ministério Público de Minas Gerais, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), com o repasse de recursos advindos de medida compensatória obtida com a celebração de Termo de Ajustamento de Conduta com empreendimento minerário. Em madeira policromada, a escultura de São Francisco tem 1,27 metro de altura e pesa aproximadamente 16kg, pertencendo à Paróquia de São Caetano, vinculada à Arquidiocese de Mariana. Segundo os especialistas do Cecor, a cabeça da escultura é a parte da obra atribuída ao Aleijadinho "a partir de rigoroso trabalho técnico, científico e interdisciplinar, que exigiu estudo completo da materialidade da escultura, contemplando desde análise iconográfica e das características formais da peça até análises físico-químicas, radiografias, análise botânica da madeira, além da importante pesquisa histórica sobre a presença de Aleijadinho na região de Cipotânea ou Rio Espera". Estavam presentes em Cipotânea o procurador-geral do MPMG, Jarbas Soares Júnior, o titular da Coordenadoria de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC/MPMG), promotor de Justiça Marcelo Azevedo Maffra, a presidente do Iepha-MG, Marília Machado Palhares, professores Alessandra Rosado e Luiz Antônio Cruz Souza, da diretoria do Cecor/EBA/UFMG.
Segundo o professor Luiz Antônio, o trabalho só será dado por completo após a instalação no altar permanente. "A equipe está toda presente acompanhando a entrega. O trabalho será concluído quando deixarmos a imagem no altar permanente. Essa restauração foi parte do projeto Extramuros e as escolhas foram feitas pelas paróquias e prefeituras, com assistência do Iepha", explica. O projeto levou anos para ser finalizado e, durante o processo de restauração, a equipe confirmou a hipótese da imagem de São Francisco da Penitência. "O projeto demorou, porque houve muitos métodos de análise envolvidos. Além dos estudos de história da arte, na escultura de São Francisco, fizemos o processo formal de atribuição à Aleijadinho. A partir das análises, comprovamos a hipótese, mas ela estava muito descaracterizada, agora, voltou ao estado original, de quando foi feita por Aleijadinho", diz o professor.
Vida e obra
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nasceu em Vila Rica por volta de 1738 e morreu na mesma cidade em 1814. É o principal artista do período colonial brasileiro, muito estudado por especialistas e reconhecido pelo público em geral, nacional e internacionalmente. Sua formação artística, de cunho regional, foi feita nas oficinas locais de artistas portugueses, nas primeiras décadas do século, incluindo o próprio pai, Manoel Francisco Lisboa. No campo da escultura religiosa em madeira policromada, a obra de maior significação de Aleijadinho é o conjunto dos sete Passos da Paixão do Santuário de Congonhas, na Região Central de Minas, executadas entre 1796 e 1799. São 64 imagens em tamanho natural compondo os grupos da Ceia, Horto, Prisão, Flagelação, Coroação de Espinhos, Caminho do Calvário e Crucificação. Faz parte do conjunto de Congonhas o também emblemático conjunto dos 12 profetas em pedra sabão, executado nos primeiros anos do século 19, que compõem o cenário no adro. Também comprovadas, de acordo com informações do Cecor, são as importantes obras dos santos carmelitas São Simão Stock e São João da Cruz, da Ordem Terceira do Carmo de Sabará, na Grande BH, com documentação histórica do ano de 1778.