“Sem culpa e sem fórmulas”. É assim que Carol Solberg define a maternidade no esporte. A atleta de vôlei de praia é mãe de dois meninos: José e Salvador. Ela se espelha no maior exemplo que já teve – sua mãe, Isabel Salgado, ícone do esporte brasileiro. A ex-jogadora de vôlei trilhou os mesmos passos na profissão bem antes de Carol e com a missão de criar quatro crianças.
- Eu sempre falava pra ela: ‘Não sei como você conseguia, mãe’. Na verdade, eu não consigo nem imaginar como é que era. Com dois (filhos) eu já estou enlouquecendo. Cresceu muito a minha admiração por ela depois que eu fui mãe, multiplicou absurdamente, de entender como ela conseguia fazer tudo isso - conta Carol em entrevista ao Superesportes.
Em novembro de 2022, Isabel morreu aos 62 anos após complicações de uma inflamação pulmonar. A perda prematura da mãe foi um baque para a família, que tem tido “dias bons e dias difíceis”, segundo Carol.
- Ainda não sei exatamente como a gente tá caminhando, mas vamos do jeito que dá. Tem dias que dou alguns passos para trás, mas tenho que continuar, porque sei que era o que a minha mãe gostaria. Conheci uma nova dor, uma dor que eu nem sabia que existia. A vida ficou pior, óbvio, muito pior, mas eu tô tentando. Minha mãe me deixou os maiores presentes do mundo que são os meus irmãos. Estamos mais unidos do que nunca. Se um cai, o outro ajuda a levantar - revela.
Com a chegada do Dia das Mães, Carol diz que se blindar de “ter um dia horrível” é uma tarefa impossível. O que a tem ajudado a tornar os dias mais leves, além da família e dos filhos, é o esporte. A jogadora está em ciclo olímpico para os Jogos de Paris em 2024 e tem um foco muito bem definido: a qualificação. - Gosto de pensar torneio a torneio, jogo a jogo, sabe? O nível tá muito alto, tá muito difícil, e essas competições todo mundo está encarando com muita muita vontade. Por isso, tô dando tudo o que tenho. Eu e a Bárbara (Seixas) estamos numa fase muito boa juntas e isso tem ajudado a tornar as coisas mais leves. A cada torneio tentando levar de jeito legal - acrescenta.
Leia outros trechos da entrevista com Carol Solberg:
SE: Como você lida com a maternidade tendo que desempenhar o esporte de alto rendimento?
Carol: A maternidade é uma grande loucura, uma loucura total. Mexe com tudo, mas eu amo ser mãe do José e do Salvador. A coisa que eu mais amo no mundo é olhar para a cara deles depois de chegar dos torneios. Dar de cara com eles… Eu nem lembro como é que era antes, porque eu imagino que era chegar em casa quando eles não existiam não devia ter a menor graça. E é tão bom abrir a porta e dar casa dar de cara com eles, sabe? Eles não tão nem aí se ganhou, se perdeu. Agora, é muito intenso lidar com tudo isso, né? Tem dia que é um caos, e ainda tem a parte emocional, da saudade durante os torneios. Essa parte da logística é caótica também.
Você lida com comentários machistas sobre ter que viajar e deixar seus filhos com o pai?
O que rola comigo é mais nesse sentido de que toda vez que eu tô num campeonato, vem alguém perguntar: ‘Ah, mas cadê os meninos?’. O pai tá em casa com eles, ué. É isso. Tá tudo certo. O Fernando tá em casa, entendeu? É engraçado até, porque ninguém pergunta para os pais atletas, né?
Você se inspira na sua mãe na profissão e também nessa dupla jornada com a maternidade?
Sim. Eu ia muito para os treinos da minha mãe. Sempre que tinha um campeonato em algum lugar mais legal, ela levava a gente. Nas férias também.Ela jogou no Japão, na Itália, então a gente morou no Japão, na Itália. A gente acompanhava geral, e ela também não ficava mais do que três semanas longe, sabe? Ela sempre dava um jeito de carregar a gente. Isso porque nós éramos quatro, né? Hoje em dia, que eu tenho dois filhos, penso ‘cara, como é que a minha mãe conseguiu com quatro?’. Minha mãe com 27 anos tinha já quatro filhos. Ela jogava o ano todo, porque não tinha férias, sabe? Nas nossas férias, a gente ia com ela para onde ela estivesse jogando fora do Brasil.
Como vai ser o primeiro Dia das Mães sem ela?
Vai ser horrível, mas é isso. Não tem não tem como falar sobre isso, porque é só tristeza, mas vamos embora. Era isso que ela iria querer.