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Empreender também é coisa de mãe, mostra artesã e doceira mineira

Grávida pela primeira vez aos 13 anos, Kely Cristina Oliveira Martins não teve alternativa.

Por Redação

02/06/2023 às 04:59:16 - Atualizado há

Grávida pela primeira vez aos 13 anos, Kely Cristina Oliveira Martins não teve alternativa. Sem contar com a ajuda de um companheiro, deixou a escola para encarar as dificuldades de ser mãe precocemente, agravadas pela situação de extrema pobreza. Foi empregada doméstica, fez bicos na distribuição de panfletos, trabalhou em padaria, caiu e se levantou várias vezes até dar um passo decisivo 12 anos depois, quando retomou os estudos no projeto de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Filomeno Ribeiro, em Montes Claros. Além concluir o ensino médio, ela aproveitou bem as aulas de incentivo ao empreendedorismo ministradas pelo educandário, diversificou o artesanato que fazia desde os 22 para sustentar as filhas e ainda começou a fazer salgados, doces e bolos para festas. “Sou muito criativa e descobri um dom para fazer as coisas. Acho que sou do tipo “mil e uma utilidades”, afirma Kely, que integra o vasto grupo de empreendedoras de áreas carentes mineiras que atuam por conta própria para sustentar os filhos. Hoje aos 34 anos, Kely tem origem em uma família humilde, de três irmãos e pais analfabetos, do Bairro Alto São João, em região carente de Montes Claros, no Norte de Minas, incluída na pesquisa Empreendedorismo nas Favelas de Minas Gerais, realizada pelo Sebrae Minas em parceria com o Data Favela /Instituto Locomotiva. O levantamento apontou que 70% das mulheres que têm o próprio negócio nessas áreas são também mães. Como Kely, mãe de Maria Clara e Bianca Emanuelly – que nasceu quando a empreendedora tinha 16 anos – muitas enfrentaram a gestação precoce, que responde por 13,61% dos partos no país, de acordo com os dados do Ministério da Saúde referentes a 2021 – ainda preliminares. Naquele ano, segundo a pasta, 363.795 brasileiras com idade entre 10 e 19 anos eram gestantes. Em 2020 – último ano de informações consolidadas pelo ministério –, foram registrados no Brasil 381.653 casos de gravidez na adolescência, que representaram 13,98% do total de gestações. Kely começou a trabalhar como empregada doméstica quando a primeira filha, Maria Clara, ainda era bebê. “Consegui um emprego em uma casa, onde eu podia levar minha filha e dormir. Mas foi muito sacrificante”, recorda. Antes da segunda gravidez, ela deixou o serviço doméstico e até conseguir o primeiro emprego com carteira assinada, aos 18, como auxiliar de serviços gerais, fez “bico” na distribuição de panfletos de propaganda de uma clínica odontológica. Foi ainda atendente em uma padaria até os 22, quando se viu obrigada a deixar o emprego. “Como mãe solo, tive que parar de trabalhar para cuidar de minhas filhas, pois queria dar um melhor caminho para elas, longe de coisas ruins do mundo, como as drogas”, justifica. A decisão, entretanto, a colocou no que descreve como um dos momentos mais difíceis de sua vida. “Na minha casa, várias vezes, faltou comida. Às vezes, só tinha arroz ou arroz com ovo. Até hoje me dói lembrar o que é uma filha pedir uma bala, um picolé e um sorvete e a gente não ter como comprar”, relembra. Há quem diga que são nas dificuldades que descobrimos nossas verdadeiras forças. Kelly colocou isso na prática, se valendo da criatividade e do empreendedorismo para vencer as barreiras. Primeiro, tentou ganhar algum dinheiro “fazendo unhas”. Mas o trabalho de manicure não deu certo. Foi aí que começou a tirar o sustento da produção de pequenas peças artesanais como chaveirinhos, imã de geladeira e porta-bombom. “Coisas baratinhas”, resume.  A vida melhorou um pouco e, aos 25, ela pôde retomar os estudos que lhe abriram as possibilidades de empreender com mais profissionalismo, adicionando ao trabalho artesanal a atividade de salgadeira e doceira. Em 2020, no pico da pandemia da COVID-19, ela se mudou para a comunidade de Canoas, na zona rural de Montes Claros, junto com o atual companheiro, Nivaldo Francisco Alves da Silva, que trabalha em uma fazenda da região. Kely levou as duas filhas, hoje com as idades de 20 e 17 anos, que consideram Nivaldo como um pai. Mesmo na zona rual ela continuou a empreender e atende encomendas de moradores da área urbana da cidade, especialmente em datas comemorativas, como o Dia das Mães. Para isso, recorre às redes sociais para divulgar seus trabalhos e fazer contato com a clientela urbana.Crescimento e superação são as palavras de ordem de Kely. “Eu durmo e acordo pensando em vencer. Nunca durmo sem nada em mente sobre o que vou fazer no futuro”, afirma. “A pessoa não pode se acomodar e ficar satisfeita com o que está vivendo em determinado momento. Precisa ter força de vontade e acreditar naquilo que está fazendo”, avalia a polivalente artesã e empreendedora.

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