Em uma das mensagens enviadas para uma amiga, Rafaela detalha como foi uma discussão com o delegado da unidade policial. A briga teria começado por causa de um pedido de mudança na escala de folgas, uma das principais reclamações da escrivã enquanto trabalhava. “Ele falou que eu tinha cismado com isso, falando que ele tava de implicância. Ele disse que eu não gosto de receber ordens. Mas não é isso, ele estava implicando por causa do carnaval”, disse.
A infelicidade com o delegado continua em outra mensagem. A escrivã conta como foram os dias seguintes a briga. “O delegado é aquele tipo de pessoa que gosta de colocar o terror psicológico, gosta de atazanar. E eu não abaixo quando estou certa, por isso toda essa confusão. Tenho vontade de nem voltar lá. Ele colocou tanto terrorismo em cima de mim que eu não aguentei. Quando estou certa, eu rebato. Agora, já percebi. Vou chegar lá só e fazer minha parte.”, relatou.
Já em outro áudio, Rafaela desabafa sobre a instituição. Ela reclama da falta de apoio após denunciar as situações que enfrentava dentro da delegacia e se diz cansada da rotina. “É uma vergonha. Só os bonitões para aparecer no jornal. Sobra tudo pro escrivão, é tudo uma palhaçada. Ele fala que está fazendo e acontecendo, mas é só mídia. A gente é tratado como lixo. Não somos valorizados pelo governo, sociedade e nem dentro da polícia. Quando a gente fala algo, vira um inferno na nossa vida. Não estou aguentando mais, porrada de todos os lados da minha vida. O ser humano é um lixo e daqui duas semanas ninguém nem vai estar lembrando. Quem tem culpa, sabe”, desabafou.
Relembre o caso
Rafaela Drumond, de 32 anos, foi vítima de suicídio. Na sexta-feira (9), ela estava na casa dos pais, na cidade de Antônio Carlos, na região do Campo das Vertentes, quando tirou a própria vida.
A escrivã trabalhava em uma delegacia em Carandaí. Nos últimos meses, Rafaela teve mudanças em sua personalidade, passando a ficar mais retraída e calada. O fato chegou a incomodar os pais que, após uma conversa com ela, foram informados de que ela estava estudando para um concurso de delegada da instituição.
Semanas antes do ocorrido, Rafaela denunciou casos de assédio moral e sexual dentro da delegacia em que era lotada. Imagens e áudios que circulam nas redes sociais mostram relatos da policial que, em alguns deles, detalha os assédios que sofria. Ela também reclamava das escalas de trabalho e da falta de folgas. “Ele ficava dando em cima de mim. Teve um povo que foi beber depois da delegacia, pessoal tinha mania disso, de fazer uma carne. Ele começou a falar na minha cabeça, e eu ficava com cara de deboche, não respondia esse grosso. De repente ele falava que polícia não é lugar de mulher. No fim das contas, ele me chamou de piranha”, disse ela em um dos áudios.