Ritual e travessia na brasa
O ritual começa com a construção comunitária de uma enorme fogueira acesa no final da tarde, quando acontece a reza do terço, ladainha e cânticos de louvor a São João Batista. Do altar em homenagem ao santo, os devotos saem com a bandeira no mastro em pequena procissão. Com a bandeira hasteada é hora de fazer os pedidos e agradecimentos. É neste momento que se inicia o Candombe de Boiadeira (com “a” mesmo), “onde o tirante, candombeiro ou capitão inicia o cântico e a reposta vem em até 6 vozes”, explica Lindomar. Em seguida, há o recolhimento da brasa e, durante meia hora, à partir da meia noite as brasas são espalhadas pelo chão de terra formando um incandescente tapete por onde os fiéis caminham. “Não é coragem. Eu não tenho coragem de fazer isto, é a fé mesmo! Em Nossa Senhora do Rosário e a na sabedoria dos nossos ancestrais passadas pelas nossas famílias e que, por isto, não vai morrer nunca!”, frisa Pedro Eduardo da Silva Santos, 24, nascido e criado na comunidade do Açude, vizinha do Mato do Tição. Ele acaba de cumprir a promessa de passar pela terceira vez em três anos pela brasa da fogueira sagrada de São João. Interrompida pela pandemia, foi em 2023 que conseguiu finalizar a penitência. “O que entendi desse ritual de passagem é que, dependendo de sua fé no ano, você machuca os pés. Em 2019 e hoje, eu não tive nada, mas ano passado eu queimei muito, pois a fé estava mais abalada. É a firmeza da fé que faz você atravessar”, confessa.Estado de Minas