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Ciência e Saúde

"O olhar dos outros é que inventa a velhice, devemos parar de prestar atenção nele"


Prestes a comemorar 77 anos, Rosiska Darcy de Oliveira lança livro de ensaios que festeja a liberdade e a resistência ao obscurantismo Imortal faz aniversário e, no dia 27 deste mês, Rosiska Darcy de Oliveira, ocupante da cadeira dez da Academia Brasileira de Letras, completa 77 anos em plena atividade. Exilada na década de 1970, a jornalista, advogada e doutora em educação acabou de lançar o livro de ensaios “Liberdade” (Editora Rocco). A obra descreve o quadro de intolerância e autoritarismo do Brasil contemporâneo, mas também discorre sobre como as mudanças ocorridas nos séculos XX e XXI são o combustível para a construção de uma sociedade melhor: entre elas, o feminismo e o movimento negro. “A esperança tem vida própria e nos expulsa das cavidades da memória onde se escondem fundadas decepções”, escreve, afirmando que é preciso ter cuidado para que “a voz da depressão não comece a nos autodescrever como um inferno que não somos”. Sobre a longevidade, brinda: “a uma geração a quem se promete mais vinte ou trinta anos de vida, em boa saúde, física e mental, estão colocados uma possibilidade de liberdade e um convite à invenção”. Aqui estão os melhores momentos da conversa que tivemos.

Rosiska Darcy de Oliveira: “não deixo de fazer nada do que tenho vontade e não me interessa o que vão pensar de mim”

Divulgação

Envelhecimento, um convite à invenção:

“Ganhamos a chance de uma vida mais longa e uma série de mudanças no mundo nos permite uma liberdade que antes não existia. Depois das realizações profissionais, dos filhos criados, e com uma segurança que talvez não tivéssemos aos 30 anos de idade, é hora de se perguntar: o que eu quero fazer da minha vida? Porque, por dentro, a gente não envelhece. Os sonhos e os desejos não envelhecem. O olhar dos outros é que inventa a velhice, devemos parar de prestar atenção nele”.

Os novos velhos:

“Algumas décadas atrás, esperava-se que as senhoras da minha idade bordassem. No entanto, o adolescente e o velho convivem na mesma pessoa. Só se deve é tentar escapar do ridículo de tentar parecer ter 30 anos quando se tem 70. Vou fazer 77 e continuo com a mesma vontade de escrever de sempre. Acabei de lançar um livro e em breve começarei um outro. A vida social está em suspenso por causa dessa tragédia que é a pandemia, mas sigo trabalhando, faço Zoom com as amigas. Todas estamos nos realfabetizando no mundo virtual”.

Receita para envelhecer:

“Não sou um exemplo ou guia para ninguém. Nunca pintei o cabelo, nem fiz plástica. Não sou nenhuma sílfide. Gosto de comer, de tomar um bom vinho. Entrei numa academia uma única vez, e detestei. Estou longe de ser uma atleta, mas caminho no jardim. Tenho horror da punição: não entendo por que as pessoas se maltratam comendo uma alface e fazendo exercícios extenuantes. Na minha idade, temos uma noção clara do tempo, dos limites. Embora me preocupe com a saúde, não me privo de prazeres. Sinto muita falta de um deles: ter os amigos em volta da mesa para almoçar”.

Legado:

“Quando fui procurada pela cineasta Bianca Comparato, que queria fazer um filme (o documentário “Elogio da liberdade”) sobre a minha trajetória, concordei porque achei importante como um legado, para contar o que tinha sido a luta das mulheres. Estou há muito tempo no que chamo de movimento de mulheres, que agora se transformou em mulheres em movimento. Todas se mexendo, em busca de direitos, autonomia, felicidade, cada uma no caminho que lhe é permitido. Minha geração pagou um preço alto por isso, que eu pagaria de novo. As mais jovens têm que saber que não estão sozinhas, que fazem parte de um caudal, de uma longa história. É fundamental mostrar às novas gerações que as coisas são possíveis. Não se trata de otimismo, mas sou uma esperançosa. A esperança é arquiteta de destinos, num sentido ativo de construção de novas realidades”.

Compromisso com o tempo:

“Falar de legado também é falar sobre como o tempo é precioso. O homem mais rico do mundo não o compra. Não deixo de fazer nada do que tenho vontade e não me interessa o que vão pensar de mim. No nosso tempo, viver exige autoria. Temos que ser os autores da nossa história”.

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