Um dia para trazer de volta uma grande história e conectar o presente às belas tradições culturais de Minas.
Um dia para trazer de volta uma grande história e conectar o presente às belas tradições culturais de Minas. Moradores e visitantes de Ouro Preto, na Região Central do estado, participaram, neste sábado (22/7), da recriação do Triunfo Eucarístico, realizado em 1733 e considerado a maior festa do Brasil colonial. Trata-se da quarta edição do evento, que encantou a cidade em 1993, ao completar 260 anos, em 2006 e 2011.
Na noite deste sábado, com muitas jovens vestidas de anjo no cortejo, a multidão nas ruas reviveu o evento que marcou a conclusão das obras de ampliação e embelezamento da Igreja de Nossa Senhora do Pilar, no Centro Histórico da primeira cidade brasileira reconhecida como Patrimônio Mundial (1980). Aos duzentos e noventa anos, a festa é rebatizada de "Triunfo Barroco". Atores, dançarinos, músicos, personagens e alegorias mitológicas fazem parte do cortejo.
As comemorações começaram de manhã, com repique de sinos nas Igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e Basílica Menor de Nossa Senhora do Pilar. À tarde, os arautos convidaram para o grande cortejo, iniciado às 18h, ao som dos sinos (sinerata). Houve missa solene na Igreja Nossa Senhora do Rosário, com a Orquestra Jovem de Ouro Preto e o Coral Francisco Gomes da Rocha).
O professor de história Leandro Gonçalves de Rezende chegou cedo a Ouro Preto para acompanhar a programação. "É muito importante recriar essa memória, trazer de volta um momento histórico e mostrar nova narrativa de algo que aconteceu em 1733", disse Leandro, que reside na capital e leciona em Florestal, na Grande BH. Para ele, o Triunfo Barroco impede que a festa dos tempos coloniais caia no esquecimento e permite que a geração atual conheça a história.
Emocionada e feliz com a recriação do Triunfo Eucarístico em sua terra natal, Valéria Tomé França, especialista em arte sacra e doutoranda na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acompanhou o cortejo desde a Igreja do Rosário. "As festas religiosas, no século 18, tinham grande importância na sociabilidade. Trazer de volta o Triunfo Eucarístico, 290 anos depois, é valorizar a cultura de Ouro Preto", disse Valéria.
Com realização do governo de Minas e da Prefeitura de Ouro Preto, com patrocínio da Cemig, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, o "Triunfo Barroco" é uma releitura do histórico Triunfo Eucarístico, o qual foi registrado com detalhes no libreto de Simão Ferreira Machado, publicado em Lisboa, Portugal, em 1734. Na obra, o autor relata que a união do sacro com o profano resultou em acontecimento único que movimentou toda a Vila Rica, antigo nome de Ouro Preto.
O coordenador geral do Triunfo Barroco, Gilson Antunes, da Holofote Cultural, empresa proponente do projeto, disse que Ouro Preto é um dos mais importantes destinos turísticos brasileiros e tem sua reputação reforçada por uma rica programação de eventos que, ao longo do ano, atrai milhares de turistas, garantindo renda para a população. "O Triunfo Barroco é um evento que envolve cultura, história, arte e religiosidade, que são as características positivas dos melhores eventos de Ouro Preto", disse o produtor.
Para elaboração do projeto, a Holofote convidou o jornalista Victor Stutz, que é escritor, autor de livros e professor de arte. Ele, que assumiu também a coordenação da produção, explica que o Triunfo Eucarístico, de 1733, foi um acontecimento registrado em livro, o que é raro: "Na concepção do projeto, buscamos apenas recuperar as cenas históricas com base na narrativa da época, e mais uma vez a população atuará como protagonista na trama, não como simples figurante", contou Stutz, em nota divulgada pelos organizadores. Ele explicou que o "cortejo monumental" é o translado do Santíssimo Sacramento da Igreja do Rosário para a Matriz do Pilar revigorada.
Para o prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo de Araújo Santos, a reconstituição do Triunfo Eucarístico não se limita ao aspecto religioso, pois tem uma significância cultural.
"Após 290 anos, estamos reconstituindo o Triunfo Eucarístico, não apenas no sentido religioso, mas principalmente no âmbito cultural. É claro que há uma dimensão de fé, mas é também um exemplo cultural e histórico que busca recriar o que foi essa procissão. Considerado um dos maiores eventos barrocos produzidos no Brasil durante o período colonial, estamos reconstituindo esse cortejo em 1993, quando completava 260 anos, e novamente em 2006 e 2011, quando celebrei o meu mandato como prefeito dos 300 anos de Vila Rica", disse Angelo.