A reportagem não conseguiu contato de ninguém da Seplag para confirmar se será ou não instalada da mesa de negociação pedida pelo MLB.
De acordo com Leonardo Péricles, coordenador do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), entidade responsável pela ocupação, as famílias só deixarão o local se for garantida moradia digna para todos. “Nos viemos para morar. O que a gente solicitou é uma mesa oficial de negociação com o governo de Minas. Queremos que ela seja instalada”, diz Péricles.
Ele disse que as negociações com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), proprietário do prédio, seguem, apesar de o MLB considerar insuficiente a proposta apresentada pela entidade, que prevê cursos de qualificação profissional e auxílio-moradia de R$ 1 mil por três meses.
“Estamos em um país que tem, segundo censo recente do IBGE, 18 milhões de imóveis vazios e 8 milhões de sem-teto, sendo que 11 milhões desses imóveis são perfeitamente passíveis de serem adequados para moradia. Então essa conta não fecha”, acrescenta o coordenador do movimento. O que o MLB deseja, segundo Perícles, é que o prédio ocupado, que antes era comercial, seja transformado em residencial.
Por dentro da ocupação
A reportagem do
Estado de Minas visitou a ocupação, batizada de Maria do Arraial, e conversou com algumas das pessoas que participam do movimento por moradia. A maioria dos integrantes, segundo o MLB, são mulheres negras mães solo.
Caso de Aline Maria de Oliveira Gonzaga, 32 anos, que ocupa o local juntamente com suas duas filhas de 13 e nove anos. Desempregada, Aline morava de favor na casa da mãe, no Barreiro, mas antes disso chegou a viver nas ruas da capital mineira com as filhas.
“Casa é o sonho de toda mãe, porque morar de favor é uma humilhação muito grande, só não é pior do que morar na rua. Na rua a gente vive sem nenhuma condição e com muito medo”, conta Aline que integra a comissão de limpeza da ocupação.
Todas as tarefas na ocupação são dividades entre os moradores, sempre seguindo a regra de paridade de gênero. Além do grupo responsável pela limpeza, foram formadas também equipes para dividir as tarefas da cozinha, creche, segurança, portaria e infraestrutura.
Na hora da chegada da reportagem, as pessoas lavavam as escadas com água e sabão, faziam instalações de luz, preparavam o jantar comunitário e cuidavam das crianças pequenas. As salas antes comerciais do prédio de dez andares foram transformadas em quartos. Cada família tem o seu. Também chegavam muitas doações de água e alimentos.
Um dos responsáveis pela instalação elétrica é Cleiton Barroso Batista, 38 anos, que também vivia de favor na casa do irmão, no bairro Taquaril, na Região Leste de Belo Horizonte, junto com a mulher e dois filhos.
Apesar de ser eletricista, instrutor de pilates e ser formado em psicologia, Cleiton não tem emprego formal. “A gente não tem salário. Eu vivo da misericórdia de Deus, mas como vou arcar com aluguel se não tenho renda?”, questiona ele.
No terceiro andar do prédio já foi instalada uma creche para as cerca de 30 crianças pequenas da ocupação, que ficarão no local somente na hora em que não estiverem na escola, cuja frequência obrigatória é regra dentro da ocupação, conta Aldeice Silva, 37 anos, auxiliar de educação. A moradora da ocupação vivia de aluguel, com as duas filhas, na Vila Pinho, no Barreiro. “O aluguel vive com a gente, come com a gente, dorme com a gente, quem mora de aluguel sabe o que estou falando”, afirma ela.