Nova captação de água do Rio Paraopeba, em Brumadinho, deverá ser repassada para a Copasa em dezembro, trazendo maior oferta de abastecimento para a Grande BH. A informação foi adiantada à reportagem do Estado de Minas pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que intermedeia as ações de segurança hídrica da região por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2019 com a Copasa e a mineradora Vale. Desde aquele ano, após o rompimento das barragens de rejeitos B1, B4 e B4A na Mina Córrego do Feijão, responsáveis por 270 mortes, as águas do Paraopeba usadas pela Copasa deixaram de abastecer a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Por esse motivo, a Vale, operadora da mina, investiu cerca de R$ 550 milhões na construção de uma nova captação, 12 quilômetros acima da antiga e que terá as águas tratadas e distribuídas pelo sistema da Estação de Tratamento de Água (ETA) Rio Manso. A previsão inicial de entrega da nova captação era setembro de 2020 e a última estimativa apontava fevereiro de 2023 como o prazo de conclusão. A antiga captação no Rio Paraopeba foi inaugurada em dezembro de 2015, após um ano de dificuldades de abastecimento e crise hídrica admitida pela Copasa depois de a reportagem do
EM mostrar com exclusividade, em janeiro daquele ano, que os principais reservatórios de abastecimento da Grande BH se encontravam no limiar de seu volume morto (nível abaixo da captação). A construção possibilitou injetar 5 mil litros por segundo (l/s) de água no sistema integrado de distribuição da Copasa, ao custo de R$ 128,4 milhões. Mas tudo foi perdido em consequência do rompimento. A nova captação tem a mesma capacidade da antiga e foi instalada a uma distância de 12 quilômetros para se distanciar do ponto onde os rejeitos da barragem que se rompeu chegam ao Rio Paraopeba. Foram realizados muitos testes e adaptações negociadas entre a Copasa e a Vale, por intermédio do MPMG, até que a captação pudesse finalmente atingir sua capacidade máxima, possibilitando a previsão de entrega para a Copasa em dezembro de 2023. Como mostrou reportagem de ontem do EM, as dificuldades enfrentadas e o perigo de barragens para o abastecimento levaram o MPMG a firmar com a Vale e a Copasa um plano de contingência para o Rio das Velhas, também em 2019. O manancial é responsável pelo abastecimento de 45% da Grande BH e tem 67 barramentos acima da captação da Copasa na ETA Bela Fama, em Nova Lima. Perfuração de poços, novas captações em rios e ribeirões estão entre as medidas para evitar que novo rompimento leve a região ao desabastecimento. “O MPMG informa que a nova captação já foi testada com atingimento da vazão esperada e, atualmente, está passando por manutenções e correções pontuais. A previsão é de que tudo esteja concluído até dezembro”, informou o MPMG.
AJUSTES A Copasa informou que a planta está em fase de ajustes, comissionamentos e adequações de obras, para iniciar as etapas de pré-operação e operação assistida. “A Companhia esclarece também que a Vale segue executando as obras de implantação dos últimos 3,5 quilômetros da adutora, que também faz parte do compromisso assumido no TAC Águas. Em fevereiro de 2023, o novo sistema de abastecimento de água construído pela Vale entrou em teste com bombeamento de água variando entre o volume de 1 mil e 5 mil litros por segundo”, informa a Copasa. As fases de pré-operação e operação assistida deverão ser iniciadas a partir de novembro/2023, após as intervenções necessárias em execução pela Vale, durante o período de estiagem. “Todas as etapas são monitoradas pela Vale, pela Copasa e também pela auditoria do MPMG de forma a garantir o funcionamento seguro e eficiente do sistema”, informou a Copasa. Atualmente a Copasa capta 15 mil/s nos sistemas Velhas e Paraopeba. No tocante à atual participação percentual de cada uma das suas captações no abastecimento da Grande BH e de Belo Horizonte, a Copasa ressalta que o Sistema Rio das Velhas contribui para cerca de 45% do abastecimento da RMBH e 65% de Belo Horizonte. Por sua vez, o sistema produtor da Bacia do Paraopeba representa cerca de 55% do abastecimento da RMBH e 35% de Belo Horizonte. Plano de contingência envolve pontos no Velhas O Rio das Velhas é responsável pelo abastecimento de água de 45% dos 5 milhões de habitantes da Grande BH. No entanto, 67 barragens de mineradoras localizadas acima do rio representam uma ameaça ao abastecimento de água. Como mostrou a reportagem do EM publicada na edição de ontem, em 2019, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a Copasa e a Vale assinaram um Termo de Ajustamento de Condutas (TAC) que prevê a implantação de um plano de contingência para o Rio das Velhas. O plano inclui a instalação de comportas ensecadeiras para impedir que a captação da Estação de Tratamento de Água (ETA) Bela Fama, em Nova Lima, seja atingida por rejeitos de um rompimento. Prevê, também, a perfuração de poços e a construção de reservatórios. O plano de contingência ainda está em andamento, mas já foi realizado um grande avanço, com projetos de engenharia e estudos de viabilidade sendo preparados para a construção de três novos reservatórios para tratamento nas ETAs Bela Fama e Rio Manso. O plano de contingência ainda não é perfeito, mas é um passo importante para garantir o abastecimento de água da Grande BH. O ambientalista Marcus Vinícius Polignano, diretor do instituto Guaicuy criticou a escolha de uma das novas captações, a que fica próximo à Ponte de Arame, em Itabirito. Ele afirmou que não foram feitos levantamentos de impactos ambientais e que a questão não foi debatida nem chegou ao comitê da bacia. O gerente de Engenharia da Vale, Luciano Alvarenga, afirmou que a empresa está comprometida em garantir o abastecimento de água da Grande BH. Ele disse que a integração dos sistemas de abastecimento Rio das Velhas com o Rio Paraopeba vai garantir maior oferta de opções caso um dos dois sistemas apresente algum tipo de problema.O ambientalista Marcus Vinícius Polignano afirmou que é urgente que se discuta as áreas de recarga das bacias hidrográficas do Rio das Velhas e do Rio Paraopeba. Ele disse que sem isso, mesmo antes de uma contingência, pode-se não ter água suficiente.
ABASTECIMENTO Plano contra rompimento no Rio das Velhas - Construção de barreiras de proteção na captação da Copasa em Nova Lima- Implantação de sistemas de captação e tratamento capazes de remover rejeitos- Uma adutora e duas interligações dos sistemas Velhas e Paraopeba- Reativação e perfuração de poços para Lagoa Santa, Sabará, São José da Lapa e Vespasiano- Bombeamento de água do barramento de Cambimbe, em Raposos, para o município e Nova Lima- Três novas captações: Ribeirão Macaúbas, Ribeirão da Prata e Alto Rio das Velhas- Perfuração de poços e reservatórios para 32 serviços essenciais (hospitais, instituições de ensino e penitenciárias)Fontes: MPMG, Copasa, Vale