Emanuel morreu após dar entrada na UPA de São Joaquim de Bicas, na Grande BH. Ele foi levado até o local pela mãe. Conforme laudo do exame de necropsia, ao qual o
Estado de Minas teve acesso, a criança sofreu parada cardiorrespiratória, estava desnutrida e desidratada. A causa da morte foi uma pancada na cabeça por objeto contundente.
Ainda de acordo com o laudo, a situação da criança era bastante dramática. Ela apresentava hematoma roxo no olho esquerdo, machucado no lábio superior, machucados no lado esquerdo do rosto e hematoma na parte interna dos lábios. Estava muito magro, com costelas aparentes, escoriações no peito, escoriações na coxa direita, ferimentos circulares no tornozelo esquerdo e na perna direita, escoriações na lombar e hematoma intracraniano.
Para o Ministério Público, Kátia é responsável pela morte da criança. Além dela, Terezinha Pereira dos Santos - proprietária do imóvel em que a família morava em São Joaquim de Bicas e do apartamento em BH - também está sendo acusada pelo órgão. Elas estão sendo acusadas de homicídio por motivo torpe, mediante tortura, emprego de meio cruel e utilização de recursos que dificuldou ou impossibilitou a defesa da vítima.
Em conversa ao
Estado de Minas, o atual advogado de Kátia confirmou que na audiência desta sexta-feira foram ouvidas 20 testemunhas, incluindo o pai de Emanuel, que foi encontrado na cidade de João Pinheiro, Região Noroeste de Minas.
Wellington Camilo Gomes inicialmente havia sido dado como desaparecido, já que, conforme sua esposa, Terezinha havia lhe dito que ele havia morrido em decorrência de COVID-19, mas nenhum corpo foi apresentado.
Durante o depoimento, a defesa da mãe das crianças contestou o que foi dito por Wellington. Isso porque o depoente teria afirmado que ingeriu bebida alcoólica antes da audiência. Além disso, o advogado destacou que o homem deveria responder por abandono de incapaz, uma vez que ele havia abandonado a família.
A audiência foi adiada para o dia 1º de setembro após o defensor de Kátia alegar que uma testemunha, que teria grande importância para o caso, não havia sido intimada. Até lá, a mulher continua detida.
Outros crimes
Kátia também está sendo denunciada por manter seus outros dois filhos, de 6 e 9 anos, em cárcere privado e por submetê-los a trabalho forçado. Além dela, Diego Pinheiro dos Santos, filho de Terezinha, também foi acusado pelos mesmos crimes, mas o homem morreu enquanto estava detido no Presídio de São Joaquim de Bicas. Já Terezinha e sua filha, Lalesca Pereira dos Santos, foram denunciadas pelo abandono e cárcere privado das crianças.
Na terça-feira de Carnaval os meninos pediram comida para uma vizinha por um buraco na porta do apartamento onde estavam no bairro Lagoinha, na Região Noroeste de BH. Eles já haviam sido vistos entrando no local junto com Terezinha Pereira dos Santos e Lalesca Pereira dos Santos, mãe e filha, apontadas como as principais suspeitas de abandoná-los.
Depois de alimentar as crianças, a vizinha acionou a Polícia Militar. Ao chegarem no local os militares perceberam que a porta de entrada estava trancada com uma corrente e cadeado.
Dentro do apartamento os militares encontraram um colchão de solteiro no chão, vasilhas sujas na cozinha e nenhuma comida. Conforme o boletim de ocorrência, as crianças foram encaminhadas para o Hospital Odilon Behrens com quadro de desnutrição e desidratação severa.
Para o Ministério Público, Terezinha e a filha, Lalesca, são responsáveis pelo abandono dos meninos. A mulher mais velha, inicialmente identificada como avó das crianças, também seria responsável por mantê-las em “intenso sofrimento físico e psicológico, como forma de aplicar castigo pessoal”.
Segundo o laudo médico do exame de corpo e delito das crianças feito após o resgate, o menino mais novo, de 6 anos, pesava 13 kg, apresentava diversas escoriações pelo corpo e notória perda muscular. Nas imagens tiradas no momento do exame é possível ver os ossos da costela, ombro, joelho e outras articulações bem protuberantes.
Ainda conforme o relatório, a saúde do menino estava crítica devido a falta de nutrientes. O mais velho, de 9 anos, também estava desidratado e desnutrido, mas com menor gravidade.
Os meninos ficaram internados por cerca de 15 dias. Eles foram acompanhados pela equipe do Conselho Tutelar da Prefeitura de Belo Horizonte e pelo tio materno, que veio de Valparaíso de Goiás quando soube da morte de um terceiro sobrinho, Emanuel, também em fevereiro deste ano.