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Estado de Minas descobre vivo o homem que comeu amianto

O caminhoneiro aposentado José Alberto Siqueira, de 77 anos, morador de Matias Barbosa, na Zona da Mata mineira, ganhou fama em 1987 ao comer amianto, produto proibido no Brasil por ser classificado como cancerígeno para os seres humanos, segundo atesta o Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Por Redação

19/09/2023 às 07:55:54 - Atualizado há

À época, um caminhão, que trafegava pela BR-040, sentido Belo Horizonte-Juiz de Fora, tombou na pista, perto do trevo que dá acesso a Ouro Preto. Oito toneladas de amianto ficaram espalhadas na rodovia. Considerada perigosa, a substância da família dos minérios, muito utilizada pelo setor industrial, só foi recolhida da via depois de análises do Corpo de Bombeiros, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e um químico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Parte da equipe, inclusive, usou máscaras de proteção durante as diligências.
Em entrevista concedida na casa, dele, onde mora há 59 anos e desde que se casou, José Alberto lembra que, no dia do acidente com o veículo conduzido por um colega de trabalho, foi ao local, na função de encarregado da extinta empresa Transminas, responsável pelo transporte. Ao gravar entrevista para uma equipe de televisão, ele colocou o amianto na boca para demonstrar que não havia perigo. 
Hoje, aos risos, o motorista aposentado diz que não comeria a substância de novo, mas enfatiza que o ato de colocá-la na boca não foi tão impensado como as pessoas pensam. Além da repercussão em 1987, o ato inusitado viralizou em 2021 no TikTok e, desde então, ganhou visibilidade nas redes sociais. O vídeo, inclusive, é usado atualmente em treinamento do Corpo de Bombeiros e em empresas de segurança de transporte de cargas.


"As pessoas ficaram surpresas por eu ter comido amianto ao dar entrevista, só que, antes, eu liguei para o fabricante, que disse não ter risco, pois problemas respiratórios só acontecem a partir do momento que a pessoa trabalha com esse produto por um longo tempo. Além disso, eu só tive essa atitude porque a imprensa estava em cima querendo saber, e eu me senti pressionado", justifica, acrescentando não ter desenvolvido problemas de saúde.

"Não tive qualquer sequela. Faço tudo o que quero. Estou aposentado. Então, gosto de cozinhar e ler os jornais todos os dias, por exemplo", pontua. Entre as atribuições diárias, José Alberto dedica um momento para compartilhar a palavra de Deus com seus amigos e seguidores no Facebook e na sua rádio online Conheça a Jesus. Por nove anos, ele foi radialista na extinta rádio comunitária RMB FM 87,9. 
"Não gosto de rótulos e, por isso, não me intitulo pastor, apesar de ter feito muitos cursos de teologia. Costumo dizer que sou um pregador da palavra. Senti a necessidade de me converter. Encaro como um chamado, e não tem nada a ver com o fato de ter comido amianto", afirma ele, de forma bem-humorada. "Ao aceitar Deus na minha vida, comecei a ter novos hábitos. Um deles foi parar de fumar. E isso já tem mais de 30 anos", revela. 

Amianto proibido pelo STF

Em 23 de fevereiro deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) votou por manter a proibição, extração, industrialização, comercialização e distribuição do amianto no país. Na ocasião, a maioria dos ministros não acatou os embargos de declaração pedindo a suspensão de uma decisão de agosto de 2017 da Corte, que declarou inconstitucional um artigo da Lei Federal 9.055/1995, permitindo o uso do material, desde que controlado.
À época, o STF ainda não tinha determinado a proibição do comércio, fazendo com que as legislações estaduais divergissem nesse sentido. Porém, em novembro daquele ano, o uso acabou proibido pelo Supremo em todo o país. 

Também conhecido como "mineral mágico", o amianto foi utilizado principalmente na indústria da construção civil e para isolamento acústico ou térmico. O INCA, porém, aponta esse material como cancerígeno para os seres humanos, não tendo sido identificados níveis seguros para a exposição às suas fibras. 

A exposição ao amianto pode acarretar três doenças: câncer de pulmão, asbestose - que é uma redução da capacidade respiratória por causa da deposição de fibras de asbesto nos alvéolos pulmonares - e mesotelioma, forma rara de tumor maligno que afeta a pleura (membrana que reveste os pulmões), o peritônio (tecido que cobre órgãos abdominais), o pericárdio (membrana serosa onde o coração é envolvido) e a túnica vaginal, podendo produzir metástases por via linfática em aproximadamente 25% dos casos, segundo o INCA. 
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