Cerca de 5 meses após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional referente à COVID-19, a taxa de incidência da doença cresceu em Belo Horizonte. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Belo Horizonte nesta quarta-feira (4/10), desde o dia 11 de setembro, o número de novos casos por 100 mil habitantes quase dobrou. Enquanto no último mês a taxa era de 11,4, no dia 1 de outubro o número saltou para 22,1.
De acordo com Leandro Curi, infectologista do Hospital Felício Rocho, o aumento do número de casos é esperado, já que a retomada dos hábitos pré-pandemia por parte da população facilita e aumenta a circulação dos vírus. No entanto, apesar da diminuição no número de óbitos e hospitalizações em decorrência da COVID-19 em BH, o cenário exige atenção da população. “Quando a OMS lá no início do ano declarou o fim da emergência, o pessoal entendeu que decretou o fim da pandemia e não teve isso, o vírus continua aí pandêmico e dinâmico, sempre evoluindo”, explica. LEIA:
COVID-19: Alta de casos esbarra em baixa procura pela vacina O médico explica que um dos motivos para o aumento da taxa de infecção é a quantidade maior de variantes circulando, que é favorecida pela diminuição dos cuidados com a infecção. “A gente sabe que isso tem muita relação com as variantes atuais que estão extremamente virulentas. A Omicron e outras variantes estão contaminando muito rápido.O vírus continua por aí e a prova disso são esses números”, afirma. Além disso, as mutações que o vírus sofre também facilitam a transmissão da doença. O infectologista conta: “Ele consegue ser transmitido no calor, no frio, na chuva na época seca, então o COVID-19 especialmente não tem sido muito afetado pelas estações ou mudanças climáticas.”.
Falta de vacinação preocupa
Além do aumento no número de casos a cada 100 mil habitantes, o baixo número de vacinações também deve ser um sinal de alerta para a população belorizontina. O último boletim epidemiológico da PBH também aponta que apenas 21,3% da população total de Belo Horizonte se vacinou com a segunda dose de reforço.
Para Leandro, a eficácia da vacina foi justamente uma propaganda ruim para a importância que ela tem. “A vacina funcionou tão bem em diminuição de mortalidade e morbidade que a população relaxou. Então na hora de fazer o esquema vacinal completo o pessoal pensa ‘a para que, ninguém mais ta morrendo disso, vacinei uma, duas doses e está ótimo. Mas a pessoa só está bem justamente porque vacinou.”, afirma. Ele explica que a disciplina com a aplicação das doses da vacina deve continuar, já que o número de anticorpos vão caindo com o tempo, o que diminui as chances de proteção do indivíduo contra a doença e pode aumentar os sintomas.
O infectologista ainda afirma que o baixo número da cobertura vacinal das doses de reforço pode ser explicado pelo medo que ainda existe da população em relação à vacina, graças à pseudociência amplamente divulgada em redes sociais. “A gente não tem dado de crianças no brasil que morreram com a vacinação mas a gente tem dados de várias milhares de crianças que morreram pelo COVID-19”. LEIA:
PBH deixa de oferecer teste rápido para COVID-19 em todos os centros de saúdeAumento do número de internações em São Paulo
De acordo com dados da plataforma SP COVID-19 InfoTracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp com apoio da Fapesp para acompanhar a evolução da pandemia, houve um aumento de 35% no total de hospitalizados por COVID-19 no estado de São Paulo em UTIs públicas e privadas.
Enquanto 665 pacientes estavam internados por COVID-19 em 5 de setembro, na última terça-feira (3/10), o total subiu para 896. Quanto à média móvel de internações, o número ficou estável -101 e 102 nos dias 5 e 12, respectivamente--, mas depois cresceu. No dia 19, chegou a 108. Em 26 de setembro, passou a 126 e, na última terça, chegou a 139. A média móvel permite analisar se o número tem aumentado ou diminuído ao longo das semanas.
Na opinião de Leandro Curi, a baixa cobertura vacinal observada em Belo Horizonte pode levar a cidade a passar pelo mesmo aumento no número de internações visto em São Paulo. “Com o aumento das variantes já estamos experimentando o aumento do número de casos. Mesmo que agora os sintomas sejam brandos, se a população não voltar a se atentar à vacinação o cenário pode sim evoluir e piorar.”, explica.
O infectologista ainda defende: “Isso tem que ser mais divulgado pelo governo e pelas autoridades, é perigoso e problemático o fato da gente não estar com uma boa vacinação. Temos que bater na tecla que a nossa salvação contra a COVID-19, as variantes que virão e as que já existem é de fato a vacinação.”
O que diz a Prefeitura?
De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, apesar do aumento da positividade dos testes para a detecção da COVID-19, não há pressão assitencial em decorrência de quadros de síndromes respiratórias. A Secretaria Municipal de Saúde segue monitorando diariamente a situação epidemiológica da capital.
Através de nota, o órgão ainda ressaltou que “a testagem está disponível para pessoas sintomáticas nas nove regionais da cidade, mediante agendamento prévio. As marcações devem ser feitas on-line. O município reforça ainda que a aplicação da vacina bivalente também segue nos 152 centros de saúde.”
Além da vacinação nos centros de saúde, há também pontos extras que funcionam em horários variados. Também ocorrem ações programadas em escolas municipais, estações de ônibus, parques, shoppings e edições do Movimento Belo Horizonte Mais Feliz.
“Também para garantir a orientação e o acesso das pessoas, durante as visitas domiciliares os profissionais conferem a situação vacinal dos usuários e reforçam a importância da imunização. A sensibilização também é feita durante as consultas e atendimentos nos centros de saúde e nos acompanhamentos de rotina.”, finaliza a nota.
Os endereços de todos os locais de aplicação podem ser verificados no portal da Prefeitura. (www.prefeitura.pbh.gov.br)
*Estagiária com supervisão do subeditor Diogo Finelli.