Em 5 de novembro de 2015, a tragédia de Mariana, em Minas Gerais, abalou o Brasil e o mundo, causando a morte de pessoas e um desastre ambiental de proporções colossais. Quase oito anos depois, muitas questões permanecem sem solução e o caso ganha um novo capítulo com o julgamento previsto pela Corte britânica em outubro de 2024.
A tragédia de Mariana continua a ecoar e a deixar suas marcas profundas, quase oito anos após o rompimento da barragem de Fundão, em Minas Gerais. Em 5 de novembro de 2015, essa catástrofe chocante tirou vidas e causou uma devastação ambiental sem precedentes, afetando comunidades e ecossistemas em uma vasta região. Entretanto, mesmo com o tempo passando, muitas questões permanecem sem respostas e uma solução para as vítimas permanece pendente.
A tragédia, que teve repercussão internacional, envolve diretamente a Samarco, controlada pelas gigantes brasileira Vale e britânica BHP Billiton. Os danos se estenderam por várias cidades, atingindo ainda o Rio Doce e o litoral do Espírito Santo, causando impactos devastadores na fauna, na flora e nas comunidades locais.
A esperança de justiça e reparação ganha força com o agendamento do julgamento pela Corte britânica para outubro de 2024. Contudo, as partes envolvidas têm demonstrado disposição para chegar a um acordo prévio, evitando assim uma tramitação ainda mais longa e custosa nos tribunais do Reino Unido.
Visita do Escritório Britânico às Comunidades Afetadas
Nesse contexto, o escritório britânico Pogust Goodhead, responsável pela defesa das vítimas brasileiras, está visitando as cidades mineiras e capixabas que sofreram com o rompimento da barragem. A caravana teve início em 4 de outubro e tinha, a princípio, a duração prevista de dez dias, percorrendo localidades como Mariana (MG), Resplendor (MG), Governador Valadares (MG), Baixo Guandu (ES), Linhares (ES), Colatina (ES), Vitória (ES) e outras.
Thomas Goodhead, sócio-administrador global do escritório, explicou como tem sido o processo: "Este caso já está em andamento há mais de cinco anos, período em que estive visitando todos na bacia do Rio Doce, os municípios, os clientes, os quilombolas e indígenas, conversando com as pessoas, debatendo, chamando para a conversa, para que possamos atingir uma reparação justa e integral."
Goodhead destacou que a equipe tem se dedicado a dialogar com as vítimas ao longo dos últimos 18 meses, utilizando especialistas, colaboradores e advogados parceiros para entender as necessidades e anseios das comunidades afetadas.
A Busca por um Acordo
O escritório Pogust Goodhead e as partes afetadas buscam, neste momento, um acordo com as empresas envolvidas, como a BHP e a Vale. Há a percepção de que essas empresas, evitando um julgamento, poderiam ser responsabilizadas não apenas financeiramente, mas também criminalmente. "O julgamento mostraria que a BHP sabia dos riscos do colapso da barragem de Fundão e não fez nada para prevenir. Eles sabem que seriam responsabilizados criminalmente, então as condições para um acordo são muito favoráveis", explicou Tom Goodhead.
Embora algumas vítimas estejam dispostas a levar o caso a julgamento em busca de justiça, há o entendimento de que um acordo poderia beneficiar um número muito maior de pessoas afetadas pela tragédia.
Reparação Individualizada
Em relação à forma como as indenizações seriam feitas, o escritório Pogust Goodhead estima que seja formado um comitê de clientes, representando várias comunidades afetadas. As prefeituras negociam separadamente.
Goodhead esclareceu que o valor de reparação não será uniforme, uma vez que houve diversas formas de dano. Alguns perderam familiares e suas casas, enquanto outros enfrentaram problemas como a falta de acesso à água potável. Cada caso será analisado individualmente para determinar o valor de indenização apropriado. As quantias serão distribuídas aos credores por meio de transações bancárias.
Preocupações com Comunidades Indígenas
A tragédia afetou especialmente comunidades indígenas e quilombolas, causando danos físicos, ambientais, morais, perda de práticas culturais e tradições. Algumas comunidades consideram o Rio Doce como uma entidade sagrada, o que torna o dano cultural ainda mais significativo.
Para o povo Krenak, que vive próximo a Resplendor, o Rio Doce é sagrado, conhecido como Uatu, e é considerado seu pai e mãe espiritual. A reparação não se limita a danos materiais, mas também abrange a preservação e reconstrução de identidades culturais profundamente afetadas.
Um Longo Caminho para a Reparação
A tragédia de Mariana é um lembrete trágico dos impactos devastadores que os desastres ambientais podem causar. À medida que o caso se encaminha para uma possível resolução, a esperança é que a justiça seja feita e que as vítimas recebam a reparação que merecem.
É um processo que durou anos e envolveu um esforço conjunto entre as partes afetadas, advogados, especialistas e comunidades. Independentemente do resultado, a tragédia de Mariana deixará uma marca indelével na história e na luta por justiça e reparação em casos de desastres ambientais.