O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, assinaram, nesta segunda-feira (4), uma declaração conjunta de intenções durante a 2ª Reunião de Consultas Intergovernamentais de Alto Nível, em Berlim, na Alemanha O documento engloba instrumentos de cooperação em áreas como meio ambiente e mudança do clima, agricultura, bioeconomia, energia, saúde, ciência, tecnologia e inovação, desenvolvimento global, integridade da informação e combate à desinformação.
Outro ato assinado hoje foi a declaração sobre integridade da informação e combate a desinformação. O chanceler alemão disse que os atos de 8 de janeiro, quando vândalos invadiram as sedes do Três Poderes, em Brasília, foram um "evento triste", com "imagens horríveis". "Não só as janelas do palácio foram quebradas. Se quebrou algo em matéria de democracia. Ficou claro que nossas democracias têm que ser resilientes, por isso vamos combater a desinformação, as campanhas de ódio nas redes sociais", disse.
Lula acrescentou que as "forças antidemocráticas" atuam internacionalmente de forma coordenada para fomentar o extremismo, por isso a importância do acordo bilateral.
As Consultas de Alto Nível são o mais elevado mecanismo teuto-brasileiro, que teve sua única reunião em Brasília, em 19 e 20 de agosto de 2015. A então Chanceler Angela Merkel visitou o Brasil acompanhada de sete ministros e cinco vice-ministros federais. A partir do encontro de hoje, os dois países realizarão as consultas a cada dois anos.
A presidência brasileira no G20, que teve início em 1º de dezembro, e o acordo Mercosul-União Europeia também foram discutidos na reunião.
Na agenda de hoje, Lula também tem reunião com altos representantes de empresas alemãs e brasileiras e participa da sessão de encerramento do seminário empresarial Brasil-Alemanha. Segundo Lula, será a oportunidade para apresentar os projetos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O presidente desembarcou em Berlim neste domingo (3). Antes da Europa, Lula esteve no Oriente Médio onde participou da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 28), em Dubai, nos Emirados Árabes. O presidente também cumpriu agendas em Riade, na Arábia Saudita, e em Doha, no Catar.
A programação da comitiva brasileira na capital alemã teve início ainda ontem, com um jantar de trabalho oferecido pelo chanceler Olaf Scholz. Nesta segunda-feira, Lula iniciou o dia numa agenda com o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e, na sequência, com a presidenta do Conselho Federal da Alemanha, Manuela Schwesig.
Com Frank-Walter Steinmeier, o presidente tratou sobre investimentos em infraestrutura via Novo PAC; avanços no processo de melhoria do cenário econômico brasileiro; reafirmação da prioridade à proteção ambiental e uma perspectiva de almejar protagonismo na transição energética. De acordo com o Palácio do Planalto, durante o diálogo, o presidente alemão agradeceu, "em nome da Alemanha e do mundo", a retomada da proteção do meio ambiente e da Amazônia com as políticas adotadas desde janeiro de 2023 pelo governo federal.
Já o encontro com Manuela Schwesig teve o objetivo de profundar as relações entre governadores de regiões da Alemanha com o Brasil, ampliar cooperações já existentes no setor de bioenergia e sinalizar novas oportunidades para a relação entre empresários do Brasil e do país europeu. O Conselho Federal da Alemanha reúne governos locais, no que seria uma espécie de Senado, numa comparação com os moldes de governo brasileiro. A presidente da entidade também é governadora de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental.
Em comunicado, a Presidência da República informou ainda que Lula e Schwesig reforçaram a importância da democracia, "em especial diante de ameaças representadas pela extrema-direita". "Schwesig agradeceu a volta de um Brasil democrático e saudou a longeva e sólida relação entre Brasil e Alemanha, inclusive com empresas do seu estado com negócios em bioenergia no Brasil, no Paraná e Santa Catarina, aproveitando sobras da criação de animais para gerar energia", diz.
Terceira maior economia mundial, atrás dos Estados Unidos e da China, a Alemanha é um importante parceiro do Brasil, sobretudo nos campos tecnológico e industrial. Mais de mil empresas alemãs atuam em território brasileiro e, segundo o Banco Central, o país germânico é a oitava maior fonte de investimentos no Brasil, com US$ 23,73 bilhões em estoque.
O comércio bilateral alcançou US$ 19 bilhões em 2022. Entre janeiro e outubro de 2023, já somou US$ 15,9 bilhões.
Durante a conversa com a imprensa, o presidente brasileiro e o chanceler alemão foram questionados sobre as posições diferentes sobre o conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas, na Faixa de Gaza. Enquanto o Brasil defende um cessar-fogo permanente, a Alemanha defende o direito de Israel "se defender e derrotar o Hamas".
Lula disse que os conflitos internacionais não foram objeto de ampla discussão na reunião de hoje e que continuará brigando pela paz e pela reforma dos organismos internacionais, capazes de decidirem sobre as controvérsias do mundo. Para o presidente, o ato do Hamas foi terrorista e irresponsável, ao atacar Israel, e as Nações Unidas deveriam ter interferido para evitar a intensificação do conflito.
"A única solução para o conflito entre Israel e os palestinos é a consolidação de dois países, para viverem nos seus territórios pacificamente, harmonicamente. E é preciso ter vontade. Já conversei com muita gente de Israel e da Palestina, mas parece que tem gente que não quer paz, que não quer dois países. O povo quer, quem não quer é porque tem outros interesses", afirmou, lamentando a grande quantidade de mortes de mulheres e crianças na Faixa de Gaza. "Ninguém deve morrer por irracionalidade de chefes de governos, de grupos, ninguém deve ser vitimado pela irracionalidade", acrescentou.
O chanceler Olaf Scholz endossou a necessidade de se evitar as vítimas civis e defendeu a entrada de ajuda humanitária duradoura em Gaza. Sholz concorda com a importância de reforma da governança global e disse que s agressão a países vizinhos é inaceitável.
"O ataque do Hamas é um crime hediondo, que violou todos os princípios da humanidade. Por isso que Israel tem direito a autodefesa, que também deverá ter direito de derrotar o Hamas e impedir que conduza novos ataques", disse o alemão. Para ele, ao fim da guerra, é possível um futuro que passa pela convivência de dois Estados. "Mas não é possível com o Hamas, que quer destruir Israel. Agora, a perspectiva de paz com dois Estados e com autogestão por parte dos palestinos é uma ideia que apoiamos", completou.
No dia 7 de outubro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um ataque surpresa de mísseis contra Israel e a incursão de combatentes armados por terra, matando civis e militares e fazendo centenas de reféns israelenses e estrangeiros. Em resposta, Israel bombardeou várias infraestruturas do Hamas, em Gaza, e impôs cerco total ao território, com o corte do abastecimento de água, combustível e energia elétrica.
Os ataques já deixaram milhares de mortos, feridos e desabrigados nos dois territórios. A guerra entre Israel e Hamas tem origem na disputa por territórios que já foram ocupados por diversos povos, como hebreus e filisteus, dos quais descendem israelenses e palestinos.