Educação

Não passou no Sisu e deu ruim no Prouni? Saiba como avaliar se dá para pagar a faculdade sem travar a renda familiar

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Por Redação

08/02/2024 às 06:00:01 - Atualizado há
Em 2022, 1,3 milhão de alunos recorreu ao Prouni, Fies ou outro financiamento. Veja dicas de como fazer as contas e garantir o sonho do diploma sem cair em cilada. Veja dicas de como organizar as finanças antes de escolher o curso superior privado.

Antony Trivet/Pexels

O motoboy Marcos Brito, de 21 anos, é morador de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, e sonha em cursar administração pública, mas não sabe ainda se será possível por causa da questão financeira. A realidade dele é a de milhões pelo Brasil.

???????????? Se você não conseguiu uma vaga em faculdade pública pelo Sisu e vai tentar uma vaga em faculdade privada, saber a renda familiar líquida e botar no papel os custos todos são os primeiros passos para fazer a graduação caber no bolso, segundo especialistas ouvidos pelo g1.

Se ainda assim a conta não fechar, bolsas de estudo e financiamentos podem ser um caminho, mas é preciso ficar atento às condições. (Veja mais abaixo.)

Em casa, Marcos tem feito os cálculos. Desde que terminou o ensino médio, em 2018, ele trabalha em tempo integral. O irmão dele também trabalha e complementa a renda da família, composta ainda pela sobrinha de 4 anos.

O motoboy chegou a fazer o Enem 2023, mas não conseguiu uma vaga em universidade pública pelo Sisu. Apesar dos dois salários em casa, ele avalia que seria difícil pagar as mensalidades em uma faculdade privada. Por isso, considera tentar uma bolsa ou financiamento.

Consegui [pré-aprovação] no Prouni para uma bolsa parcial. Vou ter que ver direitinho porque [a faculdade] tem outros gastos além da mensalidade. Ainda não sei se vou conseguir me matricular. Em último caso, tento financiar o restante no Fies, mas também posso tentar de novo no segundo semestre. Nada está decidido.

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A preocupação dele também é a de muitas famílias. Em 2022, por exemplo, a renda domiciliar per capita média era de R$ 1.625, segundo dados mais recentes do IBGE. Com isso, a prioridade é entrar no mercado de trabalho, e a busca pelo ensino superior vem só depois.

E essa ginástica financeira para conseguir fazer uma faculdade é parte da rotina de muita gente. Em 2022, das quase 9,5 milhões de matrículas em cursos de graduação no país, 78% foram realizadas em instituições de ensino privadas.

Dos ingressantes, quase 1,3 milhão solicitou bolsa do ProUni (parcial ou integral), auxílio do Fies ou outro financiamento para acessar o ensino superior.

Cálculos

Segundo Carol Stange, educadora e consultora financeira, não é comum no Brasil que os gastos todos com faculdade sejam considerados, o que pode comprometer a etapa de ensino. Apesar disso, a especialista explica que existe, sim, um cálculo possível, inclusive para famílias com renda limitada.

Muitas famílias deixam de realizar sonhos por falta de condições financeiras, mas existem opções que podem ajudá-las a se planejar para fazer o curso.

Abaixo, veja o que considerar na hora de calcular e quanto da verba familiar investir em uma graduação.

Composição e divisão da renda familiar

Como a renda familiar é composta

Freepik

Antes de tudo, é preciso entender como a renda familiar é composta. Imagine uma família de cinco pessoas, formada pelos pais, um irmão mais velho e dois mais novos.

Renda familiar líquida: é calculada somando os ganhos dos membros da família. Por exemplo: salários dos pais e do filho mais velho.

Renda familiar per capita: é calculada somando os ganhos dos membros da família e dividindo pelo número de pessoas na família. Por exemplo: salário dos pais e do filho mais velho, divididos pelos cinco membros da família.

Saber a renda familiar líquida e a renda per capita é importante para ter uma ideia de como e quanto da renda mensal deve ser gasta.

O planejamento financeiro que envolve as despesas é algo extremamente pessoal. Não existe uma receita de bolo. Cada família vai refletir sobre suas determinadas necessidades e prioridades.

Apesar disso, ela explica que é possível fazer a seguinte divisão se a renda familiar permitir:

50% da renda para despesas fixas (contas de água, luz, telefone, aluguel, condomínio e mensalidade escolar).

30% para gastos variáveis (gastos que mudam de um mês para outro ou são ocasionais, emergências pontuais).

20% para investimentos.

"Não há regra. A depender da estrutura familiar, a divisão pode ser de 60%-20%-20%, ou mesmo 40%-30%-30%. O importante é que esteja dentro da realidade daquela família", diz a especialista.

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Fatia da renda para faculdade

Quando se trata da faculdade, a educadora financeira diz que tende a considerar que 5% da renda familiar é uma boa fatia. Esse valor estaria incluso nas despesas fixas. "Daria até para pensar em 10%, mas seria uma forma de tentar simplificar algo que não é simples", diz.

Não há uma fórmula universal, pois algumas variáveis podem impactar esse cálculo:

Uma delas é o nível de prioridade que o curso superior tem para a família naquele momento.

Outra variável é o próprio curso, que pode ter mensalidades mais em conta ou mais caras a depender da área. Cursos da área de saúde podem ser bem mais caros que cursos da área de linguística, por exemplo.

"Se um membro da família quer cursar medicina, pode fazer sentido comprometer o custo como se fosse um aluguel, de 20% a 30% da renda familiar, por um período de curto a médio prazo, porque depois o retorno financeiro pode acontecer, como um investimento mesmo", explica Stange.

No entanto, esse cálculo é quase impossível para aquelas famílias limitadas à renda per capita de R$ 1.625. Em uma família de 5 pessoas, isso representa uma renda bruta de R$ 8.125.

O cenário mudaria se o curso de interesse fosse ciências contábeis. Neste caso, talvez o cálculo de 5% a 10% da renda fique mais próximo da realidade.

O que torna essa matemática difícil é saber que o curso superior é um sonho para muitos estudantes, e sonhos não estão limitados à lógica financeira familiar — e nem deveriam estar. Mas é importante conversar e refletir sobre isso e, claro, adequar as dicas à realidade de cada um.

Mensalidades e custos extras

Outro elemento que pode impactar a verba familiar são os custos extras relacionados ao curso superior. Além da mensalidade, é preciso considerar também os gastos com equipamentos, material escolar, viagens e eventos da área - variáveis que, por si só, vão depender do curso escolhido.

Alguns cursos teóricos podem exigir do estudante participações regulares em eventos que discutam temas relacionados à graduação. Em contrapartida, cursos práticos podem carecer de equipamentos, alguns muito específicos, que demandem certo investimento financeiro.

Gostaria de dizer que existe uma fórmula mágica para todos, mas não é bem assim. O gasto extra pode ser de até 50% em alguns casos, superar essa porcentagem em outros, ou até ser menor. É preciso avaliar caso a caso e decidir com base na realidade daquela família.

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Alternativas financeiras

No Brasil, existe uma gama de opções que podem ser consideradas pelos alunos e suas famílias quando se trata de acesso ao ensino superior.

Algumas delas são simples e diretas, enquanto outras podem ser mais complexas e exigir certo comprometimento financeiro a médio prazo.

No âmbito do governo federal, existem três programas que auxiliam nesta etapa:

Sisu: o Sistema de Seleção Unificada é aberto a participantes do Enem que concluíram o ensino médio e buscam vagas em universidades públicas. A edição única de 2024 já divulgou os aprovados.

Prouni: o Programa Universidade Para Todos concede bolsas (descontos) parciais e integrais em universidades privadas. O candidato deve ter concluído o ensino médio e se encaixar em alguns critérios financeiros e sociais. A lista de pré-selecionados no primeiro semestre foi disponibilizada na terça-feira (6). O resultado da segunda chamada sairá em 27 de fevereiro.

Fies: o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior é, como o nome diz, um financiamento a estudantes que querem cursar o ensino superior em instituições privadas. As mensalidades são parciais ou integralmente cobertas pelo financiamento e os alunos devem devolver o valor aos poucos ao final do curso. O edital da edição do primeiro semestre ainda não foi divulgado.

Além dos programas do governo, existem ainda outras opções oferecidas pelas próprias universidades ou por instituições financeiras, como:

Descontos e bolsas das instituições: Algumas faculdades privadas oferecem descontos ou bolsas a novos alunos que fizeram o Enem. O processo é feito internamente e varia de instituição para instituição. Em geral, os descontos levam em conta a pontuação do estudante no exame. No entanto, é preciso estar atento às condições de manutenção do desconto ou da bolsa, que muitas vezes estão atreladas às notas e assiduidade do aluno.

Financiamento privado: Muitos bancos e instituições financeiras oferecem financiamento privado, com condições próprias, para alunos de ensino superior. Em geral, o valor das mensalidades é parcialmente coberto pelo financiamento, e o aluno deve devolver o valor com os juros contratados ao final do curso.

Empréstimo: o empréstimo oferecido por instituições financeiras é outra possibilidade que não necessariamente precisa estar atrelada ao ensino superior. No entanto, os prazos para pagar e juros podem ser menos flexíveis se comparados com o financiamento privado. A alternativa também pode exigir um compromisso financeiro a longo prazo.

???? Atenção: pesquise todas as condições das alternativas listadas acima antes de contratar uma delas.
Fonte: G1
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