Um alerta para a saúde do órgão Acúmulo de gordura na região é fator predisponente de algumas doenças, entre elas o câncer de fígado
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Chamamos de esteatose hepática ao acúmulo de gordura no fígado, e trata-se de um dos fatores de risco para desenvolvimento de cirrose hepática e câncer de fígado (hepatocarcinoma).
Com o aumento do número de pessoas com sobrepeso e obesidade no mundo, a prevalência de esteatose hepática entre os brasileiros chega a 30,45% e de 50% entre os diabéticos e obesos. A chance de desenvolver câncer no fígado e cirrose hepática entre as pessoas acometidas pela esteatose é relativamente pequena, mas o número de pessoas com esta condição clínica é alto.
A gordura no fígado já é atualmente a segunda causa de transplante nos Estados Unidos e, no Brasil, é a terceira causa. No câncer primário de fígado, cerca de 90% dos pacientes têm cirrose hepática, que é uma doença na maioria das vezes silenciosa. A pessoa que recebe o diagnóstico de câncer de fígado muitas vezes convive com a esteatose hepática por anos, ou mesmo décadas, sem ter noção de que isso pode levar ao desenvolvimento do câncer do fígado e a necessidade de transplante hepático.
A sequência habitual é que ocorra inicialmente a esteatose (acúmulo de gordura), que progride para uma esteatohepatite (inflamação do fígado provocada pelo acúmulo de gordura que danifica as células hepáticas) e, a partir desse processo de inflamação crônica, se desenvolve a cirrose.
O fígado vai perdendo progressivamente a função depois de muito tempo de inflamação. Neste processo de cirrose, algumas células podem sofrer mutações e se tornarem malignas, processo que pode levar em torno de 10 a 15 anos.
Vale ressaltar que existe ainda o câncer hepático não relacionado à esteatose, e sim, a causas virais, como as hepatites B e C. Para a cirrose do vírus tipo B, temos o recurso de prevenção sob a forma da vacina contra hepatite B, integrante do calendário básico de vacinação.
Em pacientes com câncer hepático relacionado ao acúmulo de gordura no fígado, cerca de 40 a 50% desenvolvem o tumor no fígado não cirrótico, o que significa que nem sempre toda esta sequência de "esteatose - esteatohepatite - cirrose" estará presente.
A gordura acumulada no fígado já deve ser considerada um alerta para que atitudes comportamentais sejam prontamente iniciadas para evitar o desenvolvimento de uma hepatopatia severa.
Apesar de o sobrepeso e a obesidade serem importantes fatores para o acúmulo de gordura no fígado, há pacientes magros com alterações metabólicas que predispõem à esteatose hepática por fatores genéticos. Por isso, avaliações médicas periódicas são essenciais.
A mais nociva forma de obesidade é a central, ou seja, a de predomínio abdominal, pois está associada a maior o risco de doenças como cirrose, câncer de fígado e mesmo outros tipos de tumores e doenças cardiovasculares.
Todo paciente, independentemente se está magro, com sobrepeso ou obesidade, que apresente alteração de colesterol ou não, precisa fazer uma avaliação de risco cardiovascular a partir dos 50 anos, e a avaliação de gordura no fígado pode ser abordada nesse rastreamento, através da realização de exames laboratoriais, aliada a ultrassonografia abdominal. Se for detectado um risco maior, o paciente deve procurar um hepatologista ou gastroenterologista para fazer outros exames complementares cabíveis.
Não há método de rastreamento para câncer de fígado relacionado apenas ao acúmulo de gordura, de forma que o diagnóstico ocorre após o paciente já ter desenvolvido alguma hepatopatia crônica. Se o paciente tem esteatose (acúmulo de gordura) e desenvolveu uma cirrose, aí sim existe um programa de rastreamento.
A indicação para todos os pacientes é a alteração de hábitos de vida, com uma dieta mais hipocalórica, pobre em gorduras, sem muitos alimentos processados, rica em legumes e vegetais, com pouca frutose adicionada (bastante comum em produtos industrializados). A alimentação de risco para essa doença é aquela que tem dietas hipercalóricas, comida multiprocessada, muito rica em carne vermelha, e dietas com muita frutose adicionada em que se consome bastante fast food, batata frita, fritura, suco de caixinha e refrigerante. Essa é a dieta que mais propicia a doença hepática não alcoólica.
Em relação à atividade física, a OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda uma média de 150 minutos por semana, reunindo tanto atividade aeróbica quanto musculação, exercícios que ajudem na perda e manutenção do peso e aumentam o tônus muscular.
Vamos cuidar de nossa saúde hoje mesmo!
Fica a dica, pois trata-se de tarefa a ser iniciada por cada um de nós!
Tatyene Nehrer de Oliveira | CRMMG 34.218 | Oncologista Clínica
Solus Oncologia
Tatyene Nehrer de Oliveira
Oncologista Clínica
CRM-MG 34.218
RQE 12913