Chanceler disse que Kátia Abreu lhe pediu 'gesto' sobre a tecnologia 5G no Brasil. Senadores reforçaram cobrança pela demissão de Araújo. Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo
Marcos Brandão/Senado e Itamaraty
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), repudiou neste domingo (28) o ataque do chanceler Ernesto Araújo à senadora Kátia Abreu (PP-TO) e disse ter certeza de que há uma necessidade constante de criação de fatos políticos para “sombrear ou para estabelecer uma cortina de fumaça” em relação aos reais problemas do país.
Em entrevista à GloboNews, Pacheco foi questionado sobre a publicação do ministro das Relações Exteriores em uma rede social em meio à pressão dos senadores para que o presidente Jair Bolsonaro demita o chanceler, cujo trabalho é apontado como entrave para o combate à pandemia do novo coronavírus.
Araújo escreveu neste domingo que durante almoço com Kátia Abreu, presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado, “pouco ou nada” se falou sobre vacinas contra a Covid-19. Por outro lado, ele relatou que a parlamentar lhe disse que um "gesto" em relação à tecnologia 5G o transformaria no "rei do Senado".
Em nota, Kátia disse que o chanceler "falta com a verdade" e reforçou a pressão por sua demissão. "Temos de livrar a diplomacia do Brasil de seu desvio marginal", disse a parlamentar, que recebeu o apoio de colegas, que também cobram a demissão do chanceler, integrante da chamada ala ideológica do governo.
Segundo o blog do jornalista Gerson Camarotti, aliados de Bolsonaro entendem que Araújo sugere que sua possível demissão não tem relação com a busca por vacinas. A pressão teria como motivo um suposto lobby a favor da China na implementação do 5G (telefonia móvel de quinta geração) no Brasil. O ministro tenta se vitimizar diante da base ideológica de Bolsonaro.
Questionado sobre a publicação, Pacheco afirmou que recebeu com “perplexidade” e “indignação” o ataque à senadora. O senador disse ter a certeza de que há pessoas no entorno de Bolsonaro que trabalham para “desagregar”, o que é o caso de Araújo.
“É de se ter essa certeza de que há constantemente uma necessidade de criar fatos políticos para sombrear ou para estabelecer uma cortina de fumaça sobre os problemas sérios que nós temos no Brasil. Nós vivemos uma pandemia muita aguda, as pessoas estão morrendo sem leito de hospital”, disse Pacheco.
Pacheco declarou que enquanto os três poderes tentam trabalhar em conjunto por soluções para o drama da pandemia, que matou mais de 312 mil brasileiros, “sempre há um interesse por vezes oblíquo, obtuso de se atrapalhar essa agregação de soma de vontades”.
O presidente do Senado voltou a dizer que considera a política externa do governo Bolsonaro “falha” e “capenga” e que é preciso mudá-la. Pacheco, contudo, afirmou que o Senado não pretende retaliar o chanceler que, na sua opinião, se inviabilizou por contra própria.
“Senado Federal não vai entrar nesse jogo de inviabilização, fazendo qualquer tipo de boicote ou de retaliação a quem quer que seja. Na verdade, a inviabilização do ministro Ernesto Araújo tem sido feita por ele próprio, com a sua incapacidade de fazer a gestão diplomática do Brasil como se espera de um chanceler”, declarou Pacheco.
Ernesto Araújo diz que senadora Kátia Abreu sugeriu gesto por 5G
Orçamento de 2021
Pacheco afirmou na entrevista que os parlamentares não medirão "esforços" para corrigir "eventual distorção" no orçamento de 2021, aprovado na semana passada pelo Congresso Nacional.
O texto aprovado e enviado para sanção de Bolsonaro foi alvo de críticas porque, segundo técnicos legislativos, os parlamentares adotaram manobras para maquiar o valor das despesas obrigatórias em 2021.
De acordo com analistas ouvidos pelo G1, o orçamento não tem parâmetros realistas, o que fará com que a área econômica do governo realize um forte bloqueio de despesas para cumprir as regras fiscais.
Conforme economistas, o Legislativo efetuou manobras contábeis para aumentar as emendas parlamentares — instrumento que os congressistas dispõem para destinar mais recursos aos seus projetos nos estados e municípios.
Pacheco disse não ter "informações mais detalhadas" sobre o assunto e defendeu o trabalho do senador Márcio Bittar (MDB-AC), relator do orçamento no Congresso.
"Não há nenhuma irregularidade, nenhuma inconstitucionalidade, nenhuma injuridicidade no parecer do senador Márcio Bittar, que foi aprovado por ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Eventual distorção que haja é plenamente possível de ser corrigida, e nós não mediremos esforços para pode poder corrigir o que precisa ser feito”, afirmou Pacheco.
Camarotti: 'Governo corre risco de pedalada fiscal se cumprir Orçamento aprovado pelo Congresso'