Artistas denunciam o silêncio dos que se omitem diante do racismo no single que antecede o álbum 'Cura', previsto para ser lançado em maio pelo músico carioca. ? Diante do racismo resistente na sociedade do Brasil, Jonathan Ferr endurece o discurso sem perder a esperança. Pianista e compositor carioca que transita com liberdade pelo universo do jazz urbano, com flertes com gêneros musicais como funk e jazz, Ferr recorre à voz grave de Serjão Loroza – ator e cantor carioca criado no mesmo bairro de Madureira em que o pianista veio ao mundo há 33 anos – para mandar o recado poético e assertivo de Esperança.
Música inédita de autoria do Ferr, Esperança está sendo propagada em single lançado pelo músico nesta Sexta-Feira da Paixão, 2 de abril, pelo selo slap, da gravadora Som Livre.
Com capa assinada por Jesus Paixão, o single Esperança abre caminho para o álbum Cura, previsto para ser lançado em maio.
Mixada e masterizada por Arthur Luna, a gravação da música Esperança foi feita com arranjo e produção musical do próprio Jonathan Ferr, que toca piano com a habitual habilidade em melodia delicada que serve de base para Serjão Loroza dar voz ao discurso irado de Ferr.
Quase ao fim dos cinco minutos da gravação, ouve-se os toques imponentes do violoncelo de Flávia Chagas, do violino de Gabriel Paixão e da viola de Vinicius Rego. Contudo, Esperança é basicamente calcada no toque requintado do piano de Jonathan Ferr e no discurso declamado por Serjão Loroza em tom de manifesto político.
Recitado com as devidas inflexões por Loroza, em interpretação que vai do ódio à ternura, os versos de Ferr em Esperança propõem reflexão sobre o papel do ouvinte no combate ao racismo, denunciando o silêncio conivente dos que nada fazem ou se limitam a mostrar indignação nas redes sociais, palanques para exposições de ideologias nem sempre sinceras.
? Eis o poema escrito por Jonathan Ferr e ouvido na voz de Serjão Loroza no single Esperança :
Aqui é Jonathan Ferr,
Te mandando esse recado
Se você não entender, já tô super preparado
Tô pronto e muito armado com minha arte nas mãos
Munido de verdade e ainda tem muita munição
Porque eu falo de amor,
Mas falo de ódio também
Já cansei de sentir dor
Cansei de ser refém
Dos tiros de fuzil, que matam só inocentes
Um corpo preto cai a cada 13 minutos
Me diz você..
Quem é o delinquente?
Já morreu criança,
trabalhador e aposentado
E a carteirinha pra morrer é só ser preto e favelado?
Que morre todo dia executado, assassinado
Sem direito a julgamento e com atestado de culpado
Até quando você vai fingir que não vê isso?
Vai ligar a TV e achar que não tem compromisso?
Normatiza homicídio, e se cala, omite.
Porra! Suas ações valem bem mais que sua hashtag no twitter!
Fora homofônico, Misógino, fora Racista!
Seu preconceito mata mais que mil fuzis
E legitima as barbáries que acontecem nos Brasis
Mas olha
Se você tá nessa luta comigo
É um aliada, aliade, aliado
Porque nossas forças juntas vão deixar um legado
Eu não vou me calar, eu vou falar até o fim
Porque eu tenho um sonho, igual Martin Luther King
Um sonho de um mundo com amor, afeto e abundância
Porque eu sei que, a cada nove meses,
Nasce uma nova esperança