Roque Liberato Nolasco foi o 'cariá' dos cortejos. Ele não resistiu a uma queda e faleceu nesta segunda-feira (11).
O integrante mais antigo do bloco Zé Pereira dos Lacaios, tradicional grupo dos festejos carnavalescos de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, morreu nesta segunda-feira (11). Roque Liberato Nolasco foi o "cariá", personagem com chifres e capa preta que, ao raspar uma lança no chão, ajudava a abrir os caminhos para o cortejo.
Segundo o presidente do grupo, Arthur Ramos, Roque estava com 86 anos e sofreu uma queda há cerca de uma semana. Estava internado desde então e faleceu nesta segunda, em Ouro Preto. O enterro está previsto para ocorrer na manhã desta terça-feira (12), no cemitério Bom Jesus de Matozinhos.
Os mais de setenta anos de festejo só faziam as memórias mais fortes. Roque lembrava aos companheiros de bloco que contava com a ajuda da mãe para brincar o carnaval. Enquanto o pai, mais rígido, proibia a presença na festa, era a mãe dele quem deixava a porta aberta e dava o sinal para que ele pudesse sair na "surdina" para pular a folia.
Na companhia desde os 14 anos, o veterano ainda fazia questão de carregar pelo o estandarte nas apresentações. A última da qual conseguiu participar foi em 2019. Em 2015 e em 2017, ele foi homenageado pelos companheiros.
Em tom de despedida, mais uma mensagem de gratidão ao "cariá":
"Agora o Zé Pereira dos Lacaios lá no céu recebe mais um membro que com certeza foi um dos mais importantes da história desta sesquicentenária instituição", disse o grupo em uma postagem nas redes sociais.
Segundo o presidente do grupo Arthur Ramos, o Zé Pereira dos Lacaios preserva a cultura do "Zé Pereira" no estado de Minas Gerais, com características da cultura portuguesas, seguindo o mesmo estilo de toque e instrumentos dos que ainda existem em diversas regiões de Portugal.
O Zé Pereira original foi um português chamado José Nogueira de Azevedo Paredes, residente nessa cidade. Decidido a participar da folia carioca, em 1846 ele abriu o primeiro dia de carnaval desfilando pelas ruas do centro. A novidade foi transferida para Ouro Preto junto com seu fundador, que veio trabalhar no Palácio do Governo em 1867, como Lacaio.
Portanto, neste mesmo ano nascia o Zé Pereira do Clube dos Lacaios, organizado por funcionários do Palácio. O nome Lacaios é uma referência aos colegas puxa-sacos e seus fraques e cartolas, que se tornaram marca registrada nas apresentações do renomado Clube Folclórico Ouro-Pretano.