Apesar de preservar o presidente Jair Bolsonaro, o Palácio do Planalto avalia que a entrevista do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten abriu uma guerra com o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e deu munição para as investigações da CPI da Covid.
Em entrevista à revista "Veja", Wajngarten responsabilizou a equipe de Pazuello pela falta de vacinas no Brasil. Afirmou que por "incompetência e ineficiência" o governo não comprou, no ano passado, vacinas da Pfizer, oferecidas ao país por volta de agosto, cerca de 70 milhões de doses.
Na avaliação de assessores presidenciais, mesmo buscando preservar o presidente Bolsonaro, a quem Wajngarten exime de qualquer responsabilidade, a fala do ex-secretário é ruim para o governo porque vai reforçar uma das linhas de investigação da CPI: de que houve falha do Planalto na compra de vacinas e que isso comprometeu o programa de imunização.
'Incompetência' atrasou aquisição de vacinas contra a Covid, diz Wajngarten
Mesmo eximindo Bolsonaro de responsabilidade, seguidas declarações do presidente no ano passado mostram que ele não priorizava a vacinação, duvidava da eficácia de vacinas e chegou a dizer que não compraria a vacina da Pfizer por causa dos supostos efeitos colaterais que ela provocaria, o que nunca foi comprovado.
Segundo interlocutores de Bolsonaro, havia uma guerra nos bastidores do governo entre Wajngarten e Eduardo Pazuello.
O ex-secretário de Comunicação mantinha conversas com representantes da Pfizer e defendia a compra das vacinas. Já a equipe de Pazuello chegou a dizer que a vacina da Pfizer não deveria ser adquirida por causa das dificuldades de armazenamento, com refrigeração de 70 graus negativos.
Depois veio a polêmica dos efeitos colaterais da vacina e, em seguida, as cláusulas exigidas pelo laboratório, recusadas publicamente por Bolsonaro.
Na avaliação de auxiliares, Wajngarten, ao saber que será chamado para depor na CPI, decidiu se antecipar e conceder a entrevista à "Veja" para falar do tema.
Um interlocutor do presidente disse ao blog que o ex-secretário de Comunicação deve ter avaliado que Pazuello poderia falar sobre as disputas dentro do governo em relação à compra de vacinas, citando seu nome.
Dentro da CPI, senadores já incluíram tanto Wajngarten como Pazuello na lista dos que serão convocados a depor.
No caso do ex-ministro da Saúde, integrantes da CPI não só vão questioná-lo sobre vacina, cloroquina e falta de coordenação nacional, como também indagá-lo sobre quem ele falava quando disse, numa despedida de assessores da Saúde, que havia pessoas pedindo pixuleco (dinheiro) nas negociações com o Ministério da Saúde.