Levy Fidelix foi uma prévia de Bolsonaro. O político, que morreu neste sábado (24) de Covid, levou para a campanha de 2014 temas da extrema direita que, quatro anos mais tarde, seriam aproveitadas por Jair Bolsonaro com mais sucesso. Ele saiu na frente de Bolsonaro ao usar nos palanques eleitorais ataques ao Foro de São Paulo, ao utilizar o lema integralista Deus Pátria e Família e ao reproduzir discursos de Olavo de Carvalho.
Professores da Universidade Federal de Juiz de Fora, Leandro Pereira e Odilon Caldeira, estudiosos da extrema direita no Brasil e autores do livro "O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo", explicam nesta entrevista quem foi o spoiler de Jair Bolsonaro.
O candidato do PRTB à Presidência da República, Levy Fidelix, em noite de debate entre os presidenciáveis
Marcos de Paula/Estadão Conteúdo
Qual a participação de Levy Fidelix na ascensão da extrema direita no Brasil?
Leandro Pereira Gonçalves - Caricaturado, Levy Fidelix, que tem em sua trajetória a defesa do aerotrem e candidaturas a cargos públicos pelo nanico PRTB, nos últimos anos soube tirar proveito da onda de fortalecimento da direita no Brasil, principalmente a partir de 2013. Com aproximação de grupos mais radicais, estabeleceu diálogos com os neointegralistas, que buscam retomar o momento de expressão que a extrema direita alcançou em décadas passadas. O partido passou a ser uma esfera de ação política dos fascistas no Brasil, que estabeleceram uma rede de apoio, principalmente nos períodos eleitorais.
E qual a relação dele com os integralistas?
Leandro Pereira Gonçalves - Essa radicalização política encontrou em Levy Fidelix uma possibilidade de ação partidária e com essa aliança conseguiu visibilidade ao seu partido nanico, o PRTB, com discursos homofóbicos, misóginos e radicais em torno do nacionalismo. Lideranças neointegralistas passaram a fazer parte do círculo do partido. O próprio Levy Fidelix em depoimento que circulou nas redes sociais, chegou a afirmar: "o movimento integralista de Plínio Salgado no passado eu acompanhei, sei, estudei. Eu acho que as minhas posições são muito similares". Plínio Salgado foi o líder máximo do fascismo brasileiro e Fidelix encontrou no movimento uma real possibilidade de ascensão em torno da radicalização.
Como era a relação de Fidelix com outras forças da extrema direita, como o bolsonarismo?
Odilon Caldeira Neto - Levy Fidelix participou do fenômeno da ascensão da extrema direita, mas não foi propriamente um bolsonarista. Ele disputou esse espaço com Bolsonaro, embora tenha auxiliado a popularizar diversas bandeiras que depois se tornaram marca registrada de Bolsonaro. Na eleição de 2014, Fidelix trouxe para a campanha alguns lemas e ideias de grupos que se organizaram, anos depois, em torno de Bolsonaro.
Levy Fidelix foi uma prévia de Bolsonaro?
Odilon Caldeira Neto - Em alguns termos, Fidelix auxiliou a antecipar o que foi a campanha eleitoral de Bolsonaro em 2018 e o fenômeno de sua eleição. Principalmente em torno das campanhas eleitorais para Presidente, a forma como utilizou pautas de costumes para angariar votos e destaque no noticiário. Esse movimento foi fundamental em 2014, quando Fidelix auxiliou a popularizar temáticas que, quatro anos mais tarde, seriam aproveitadas por Jair Bolsonaro com mais sucesso. Os discursos de conspiração relacionados ao Foro de São Paulo, a reprodução de discursos de Olavo de Carvalho, e assim por diante. Embora o sucesso eleitoral de Bolsonaro não seja explicado pelo trabalho prévio de Levy Fidelix, existe um quadro similar de discursos e narrativas que passaram a conquistar um capital eleitoral significativo.