Planalto avalia que pressão da sociedade pela vacina vai desgastar presidente e dificultar caminho para a reeleição. Até aqui, governo deu sinais de que não tem um projeto claro de imunização. Presidente Jair Bolsonaro e ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello em foto de 9 de junho
Adriano Machado/ Reuters
A antecipação do calendário da vacinação pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pressionou o Planalto a dar alguma resposta a respeito de um planejamento de vacinação nacional.
No Palácio do Planalto, o diagnóstico de aliados do presidente é de que a pressão na sociedade pela vacina desgastará o presidente politicamente, o que pode dificultar o caminho para 2022.
A reeleição de Bolsonaro, na avaliação desses aliados ouvidos pelo blog, dependerá do tripé: abandonar discursos radicais, arrumar a economia e organizar a vacinação pelo país.
Sobre a vacinação, até aqui, o governo dá sinais claros de que ainda não tem um projeto claro. E, pior: trata a vacina do Instituto Butantan, do governo de São Paulo, como menor.
Na reunião de terça-feira (9) com os governadores, Pazuello foi questionado a respeito da CoronaVac. Primeiro, o ministro fez questão de pontuar a Joao Doria – inimigo de Bolsonaro – que a vacina é do Instituto Butantan, “não de São Paulo” – uma discussão inócua porque o instituto é ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o ministro disse que, quando comprovada, se houver “demanda”, a vacina será avaliada e a decisão sobre a compra será levada ao Palácio do Planalto, para só então ser adquirida.
O governo vinha ignorando responder com um planejamento conjunto com governadores, e só se reuniu com as autoridades de diferentes estados por cobrança deles.
Mesmo assim, as respostas dadas pelo ministro Pazuello a questionamentos de governadores, principalmente sobre a CoronaVac, causaram insegurança nos governadores.
Da esquerda à direita, nos bastidores, governadores avaliam que Pazuello tem medo de ser novamente repreendido por Bolsonaro. Por isso, “não tem autoridade para dar autorização para nada sem antes consultar Bolsonaro”, nas palavras de um governador do Nordeste ouvido pelo blog.
Agora, o Palácio do Planalto aguarda os próximos passos Doria e acredita em uma estratégia conjunta de autoridades no Judiciário para garantir o maior número de vacinas comprovadas para a sociedade.
Por isso, aliados do presidente têm defendido que o governo deixe a política para um segundo momento e, mesmo se for a “vacina de Doria”, faça movimentos para garantir investimento no imunizante fabricado em parceira com o Instituto Butantan.