Presidente insiste em medicamento desde 2020 e fez Exército investir na fabricação do remédio. O início dos depoimentos na CPI da Covid ocorre na data em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) completa 410 dias de defesa pública da cloroquina, remédio comprovadamente ineficaz para Covid.
A primeira vez em que o presidente fez propaganda para o remédio foi em 21 de março de 2020, segundo levantamento do jornalista Renan Peixoto. Na época, a droga ainda estava sendo testada, mas o então ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta advertia que a cloroquina tinha muitas limitações e muitos efeitos colaterais. "É indicado para casos graves e entubados. É fake news a informação que temos um comprimido que toma e sara", alertou Mandetta.
Bolsonaro com uma caixa de cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a Covid, em foto de setembro de 2020..
REUTERS/Adriano Machado
Mas mesmo assim
Bolsonaro não ouviu o ministro médico e anunciou gasto público para financiar o que já era uma hipótese temerária.
Na "mensagem inaugural" pró-cloroquina, o presidente anuncia que ele e o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, haviam decidido que o Laboratório do Exército iria ampliar a produção do medicamento. Já o almirante Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, iria proibir a exportação de cloroquina. As duas ordens foram cumpridas.
Moral da história
Era um clima de "a cloroquina é nossa, com o brasileiro não há quem possa". O blog não é bom de matemática, mas fez as contas: nos 410 dias de defesa apaixonada da cloroquina morreram mais de 410 mil pessoas. Uma média de mil mortos por dia de propaganda presidencial.