Reportagem mostra trabalhadoras que atuam no combate à doença na cidade, o cansaço da rotina e a convivência com os filhos. Nelma Aparecida é mãe e técnica de enfermagem em Juiz de Fora
Nelma Aparecida/Arquivo Pessoal
Há mais de um ano, profissionais de saúde tiveram as vidas modificadas em função da pandemia de Covid-19. Neste domingo (9), quando é comemorado o Dia das Mães, o G1 traz uma reportagem especial com as trabalhadoras que atuam no combate à doença em Juiz de Fora. Em comum, todas relataram um único sentimento: o cansaço da rotina.
Conheça abaixo as histórias de Rosana Ambrósio, Nelma Aparecida e Eliane de Souza.
Rotina cansativa
Rosana Ambrósio é mãe e enfermeira em Juiz de Fora
Rosana Ambrósio/Arquivo Pessoal
Enfermeira no Hospital Universitário (HU), Rosana Ambrósio atua no Centro de Terapia Intensiva (CTI) Covid-19. Ela tem dois filhos, um de 17 e outro de 20 anos. Com a pandemia da doença, a trabalhadora da saúde relatou ao G1 que a rotina tem sido cansativa e os plantões exaustivos.
"São perdas de vidas todos os dias independente da idade ou doenças pré-existentes, o que nos faz sentir mais vulneráveis. Apesar disso, os afazeres domésticos não dão trégua. Com a Covid-19 tenho que ter mais cuidado ao chegar em casa com roupas e calçados", descreveu Rosana.
A enfermeira ainda contou que, apesar do estresse vivido pela profissional e angústia por causa das perdas, ela ainda tem que estar bem para dar atenção aos filhos. "Eles também têm os problemas deles para dividir comigo como a falta da escola, amigos".
No início da pandemia, Rosana explicou que chegava em casa e não tinha muito contato com os jovens.
"Tomava banho e ficava no meu quarto, mas eles chegavam perto de mim e me pediam um abraço. Nesses momentos os protocolos acabavam dando lugar para o sentimento de compaixão entre mãe e filhos".
Depois de mais de um ano, a enfermeira contou que apesar das dificuldades impostas pelo novo coronavírus, a família aprendeu a lidar com o momento. "Significa que eles sabem que abraço é só depois do meu banho antisséptico", finalizou.
Rosana Ambrósio e os filhos em Juiz de Fora
Rosana Ambrósio/Arquivo Pessoal
Convivência entre mães e filhos
Nelma Aparecida fala como é ser mãe em tempos de pandemia e profissional de saúde
Com uma rotina cansativa e vários plantões, Nelma Aparecida também atua no HU. "Saio às 5h30 e pego no plantão às 6h até às 18h. Nesses momentos fico afastada da minha filha de 21 anos", contou.
Com as dificuldades impostas pelo momento, a trabalhadora de saúde relata que é complicado o momento vivido hoje em dia. "Está sendo difícil para a minha filha também pois ela é caloura e veio a pandemia. Além disso, também andou bem ansiosa e triste".
Com a distância dos plantões, mãe e filha encontraram no mundo virtual um momento de alento. "Quando estou no hospital nos falamos pelo WhatsApp. Já nas folgas passamos juntas porque temos cumprido o isolamento social".
"A pandemia me mostrou a importância de sermos solidários, de cuidar dos outros, dos amigos, sendo com uma palavra amiga, um gesto de carinho. Além de ter um novo olhar para a família e conseguir identificar o que é realmente relevante para nosso convívio e tentar minimizar a sensação de isolamento afetivo e social".
Eliane Aparecida de Souza é mãe e enfermeira em Juiz de Fora
Eliane Aparecida/Arquivo Pessoal
Já para Eliane Aparecida de Souza, que também é técnica de enfermagem, com a pandemia de Covid-19, para ela e a filha, de 21 anos, a rotina mudou.
"Tenho passado esse tempo todo mais com ela. Quando estou de folga por exemplo ficamos juntas. Estou mais em casa e saio só pra trabalhar e coisas essenciais", explicou a profissional de saúde à reportagem.
Com a pandemia, a técnica de enfermagem contou que aprendeu a ter mais empatia apesar das dificuldades impostas. "É escutar mais. Ser feliz com as pequenas coisas. Querer fazer o que tenho vontade e realizar nossos objetivos. Ter mais fé é buscar mais Deus. Meditar e exercitar".
Rotina de trabalho x casa
Bárbara Lima é profissional de saúde em Juiz de Fora
Bárbara Lima/Arquivo Pessoal
Bárbara Lima Pereira é enfermeira da UTI do Hospital Universitário e tem uma filha de 5 anos, a Helena.
Conforme a profissional de saúde, a rotina de trabalho e casa intensificou muito com o fechamento das escolas.
"Vivenciamos um ano intenso em casa e com uma rotina desgastante de aulas on-line. A Helena sentiu muito o isolamento social e com isso dediquei meu tempo maior com ela, sendo assim passando mais tempo ao lado dela pra suprir as demandas", contou Bárbara.
"Minha rotina nesse ano que se passou sofreram muitas mudanças. As saídas, os passeios já não existem mais, é do trabalho pra casa e vice e versa. Com a Helena conseguimos adaptar a rotina de aulas e atividades da escola on-line. As atividades físicas tanto minha quanto do meu marido passaram a ser dentro de casa, e assim fomos adaptando a um novo modo de viver".
Sobre a pandemia, Bárbara revelou que no início foi difícil já que a doença era desconhecida e o medo tomou conta. "Em contrapartida a missão da profissão que nos foi dada não poderia ser abandonada naquele momento, então eu fui com medo mesmo. Todos os dias ao trabalhar o medo de ser contaminada e de levar esse vírus pra dentro de casa. São dias de muita tensão e medo", finalizou.
Bárbara e a filha, Helena - Juiz de Fora 8 de março
Bárbara/Arquivo Pessoal
O que é ser mãe?
Ao fim da entrevista, o G1 perguntou o que é ser mãe para as entrevistadas. Veja abaixo o que cada uma respondeu.
Rosana Ambrósio
"Sublime experiência que só quem tem filhos sabe. É se doar sem querer nada em troca. É o coração que bate fora do peito e chega até a doer de tanto amor por eles. É ficar mais feliz com as conquistas deles do que a própria conquista! Amo ser mãe de dois meninos".
Nelma Aparecida
"Ser mãe é se reinventar a cada dia e crescer em prol de outro ser. É doar sem esperar nada em troca. Amor sem limites".
Eliane Aparecida
"Ser mãe é a missão mais importante e difícil que já tive na vida e que só me trás felicidades. Minha filha é minha maior razão de continuar firme e querendo ser cada dia melhor ela é minha vida. Meu orgulho".
Bárbara Lima
"Ser mãe pra mim é divino. É um presente ter uma amiga, companheira ao meu lado, no meu dia a dia. Não sabemos que mundo deixaremos para nossos filhos e isso me preocupa muito, mas ensino ela a ser bondosa, a cuidar das pessoas e do mundo. A educação é a única coisa que eles herdarão de nós. A rotina de mãe com jornada dupla não é fácil, é exaustivo, por vezes estou cansada, triste, mas a Helena me faz ser um nova mulher a cada amanhecer. É dela que vem a minha força. Com sua ingenuidade e leveza ela me sustentou no ano mais difícil da minha vida. Esse é o presente de ser mãe".
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