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Política

Voto em legenda nas eleições municipais registra menor patamar dos últimos 20 anos


PSDB, MDB e PT apresentam queda; DEM, PSD e PSL crescem. Para especialista, crises e escândalos recentes têm impactado partidos. A eleição de 2020 acentuou a tendência de queda do voto em legenda em todo o Brasil. Foram pouco mais de 5,6 milhões contra 7,4 milhões registrados em 2016. Esta foi a disputa municipal com a menor soma de votos direcionados diretamente aos partidos em 20 anos. O total de agora corresponde à metade do que foi registrado, por exemplo, na eleição de 2000.

O voto em legenda ocorre quando o eleitor escolhe depositar o voto para vereador ou deputado em um partido e não em um candidato. Os votos são somados e ajudam o partido a atingir o quociente partidário, ou seja, a definição de quantas cadeiras, afinal, cada legenda poderá ocupar no Legislativo local.

Pela série histórica montada pelo G1, com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre 2000 e 2008 houve variação no total de votos em legenda, com uma redução de 11 milhões para 9 milhões, seguida de um aumento novamente para o patamar de 11,4 milhões em 2008. A tendência de queda começa mais claramente em 2012 e vem se mantendo.

Total dos votos em legenda

Fernanda Garrafiel/G1

Para especialistas, há diversas causas que podem ajudar a explicar a tendência de redução do voto em legenda no período 2008-2020. Mas, nesta eleição, outros fatores podem ter acentuado também a queda, como a pandemia, o interesse dos eleitores em manter nos cargos candidatos que já eram conhecidos ou mesmo o fim das coligações para a eleição proporcional, que passou a vigorar neste ano.

Crises políticas e pandemia

Segundo a professora e coordenadora da pós-graduação em ciência política da Universidade Federal de São Carlos (UFscar) Maria do Socorro Braga, o voto em legenda é um indicador importante porque ele expressa de algum modo a identificação do eleitor com os partidos e sua visão programática. "Ele vota na legenda independentemente dos candidatos apresentados. Para os partidos, por outro lado, construir laços de identificação ajuda a estruturar a legenda nacionalmente."

“Entre 1994 e 2010, nós tivemos no Brasil um sistema partidário relativamente estável, com partidos e atores políticos de algum modo conseguindo estruturar dois campos políticos. A partir daí, temos algumas crises que, a meu ver, ajudam a explicar a tendência de queda identificada nos dados. Tivemos a crise do mensalão, em 2005, depois os casos de corrupção identificados pela Lava Jato a partir de 2014, e, por fim, o impeachment da ex-presidente Dilma. Tudo isso contribui para afastar os eleitores e, a meu ver, impactou também nas eleições”, explica Maria do Socorro.

Na avaliação da professora, a queda do voto em legenda preocupa, mas os dados deste ano precisam ser analisados considerando outros fatores contextuais.

“Acho que 2020 foi uma eleição que traz outros fatores. A pandemia levou os eleitores a preferirem votar mais em quem já era conhecido ou que tivesse demonstrado capacidade de enfrentar o cenário de crise. Houve uma taxa alta de reeleição para prefeitos e isso também se refletiu na eleição de vereadores. Além disso, tivemos o fim das coligações, o que pode ter impactado também o voto em legenda. Portanto, o que quero dizer é que ainda precisamos analisar melhor esses dados para entender o peso desses diversos fatores”, observa Maria do Socorro.

Os votos legenda por partido

A soma dos votos em legenda por partido mostra um impacto forte no PSDB e no MDB, que tiveram perda de até 50% de votos. Houve redução expressiva também para o PDT (-34%) e para o PSB (-36%). O PT também apresentou queda, mas em um patamar menor: de 9% entre 2016 e 2020. Isso fez com que o partido superasse o MDB em votos de legenda neste ano.

Votos de legenda por partido

Fernanda Garrafiel/G1

Alguns partidos conseguiram um aumento pequeno de votos em legenda nesta eleição. Foi o caso de DEM (16%), PSOL (6%) e PSD (4%). Um terceiro grupo registrou um crescimento relativo maior. Parte disso porque vinham de um patamar baixo em 2016. Foi o caso do PSL, que teve aumento de 127%. O partido conseguiu pouco mais de 68 mil votos em legenda em 2016, e agora chegou 156 mil. O Novo também cresceu, passando de 43 mil para 93 mil (114%).

"É muito significativo o impacto no PSDB e no MDB e isso, a meu ver, expressa o resultado das eleições como um todo. Embora muitos considerem que o centro político saiu fortalecido, os dados desses dois partidos mostram que eles foram impactados. O aumento dos votos do DEM e de alguns partidos de direita, como o PSL, por exemplo, sugerem que esse campo político tem conseguido se expressar melhor para os eleitores, de tal forma que isso está se refletindo nos votos de legenda", explica Maria do Socorro Braga.

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