Até agora, mais de 600 mil pessoas foram internadas neste ano em decorrência de casos confirmados ou suspeitos de covid-19 e cerca de 250 mil pessoas morreram, segundo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Unidade de hospital exclusivo aos pacientes da Covid-19.
AFP/Getty Images via BBC
Embora o presidente Jair Bolsonaro diga que a pandemia está no "finalzinho", todos os Estados registram aumento de casos e o Brasil tem hoje pelo menos 31 mil pessoas internadas com a doença. Do total, 17,5 mil estão em leitos clínicos e 13,5 mil, em unidades de terapia intensiva (UTI) — esse número pode ser ainda maior porque alguns Estados não divulgam dados sobre hospitais privados.
Esse total de pacientes internados, compilado pela BBC News Brasil a partir de dados estaduais, municipais e federais, seria suficiente para lotar um estádio usado da Copa do Mundo de 2014, o Arena das Dunas, em Natal. No RN, foi confirmado o primeiro caso de reinfecção por covid-19 do país e a ocupação de leitos críticos já é a maior desde agosto.
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Não é possível comparar a situação atual com o pico do primeiro semestre por dois motivos. Nem todos os Estados divulgam dados históricos e a taxa de ocupação dos leitos pode mudar ao longo do tempo conforme governantes ofertam mais leitos adaptados ou contratam camas na rede privada, por exemplo.
Mas já dá para ter uma ideia da situação com base nos dados mais recentes.
Há dezenas de unidades de saúde ou regiões lotadas ao redor do país, como a região oeste de Santa Catarina, a zona metropolitana de Campo Grande, o pronto-socorro do Hospital Geral das Clínicas de Rio Branco, o Hospital Regional do Sertão Central do Ceará e os leitos clínicos do Instituto Couto Maia, em Salvador.
Ao menos seis capitais passaram de 90% de ocupação de UTIs nos últimos dias e estão à beira do colapso: Campo Grande, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Porto Velho e Boa Vista.
Filas e hospitais lotados
E a situação tem piorado. A capital fluminense registra hospitais lotados, fila com centenas de pessoas à espera de leitos, falta de equipamentos e insumos e salários atrasados.
Em Curitiba, a taxa de ocupação das UTIs passou de 79% em 20/11 para 93% em 11/12. Na macrorregião de Campo Grande, a ocupação na rede pública ultrapassou 100% e os governantes estão precisando contratar leitos em hospitais privados.
Porto Alegre já não conta mais essa saída como a capital sul-mato-grossense. A cidade gaúcha tem 84% de ocupação de leitos UTI, sendo que a rede particular está 100% lotada.
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E quem são essas pessoas? Os números estaduais, divulgados cada um à sua maneira, dão algumas pistas. No Acre, mais de 80% dos internados têm mais de 40 anos. Em Pernambuco, 75% são negros. Em Alagoas, 55% são homens. No Distrito Federal, 90% ocupam os leitos por até duas semanas e 8% por mais de um mês. No Brasil, 41% já tinham doenças cardiovasculares e 25%, diabetes.
Até agora, mais de 600 mil pessoas foram internadas neste ano em decorrência de casos confirmados ou suspeitos de covid-19 e cerca de 250 mil pessoas morreram, segundo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Levantamento publicado neste ano pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) calcula que o Brasil tem 48.848 leitos de UTI, sendo 22,8 mil no SUS (Sistema Único de Saúde) e 23 mil na rede privada.
Mas esse número esconde distorções. O Sudeste, região mais populosa do país, tem uma proporção maior de leitos (27 por 100 mil habitantes) em relação à região Norte (9 por 100 mil habitantes), por exemplo.
Está ruim, mas pode piorar
O avanço da pandemia no país não dá sinais de desaceleração. Pelo contrário. Todos os Estados do país têm pelo menos uma região com tendência de alta do número de casos.
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Além disso, há dois fatores relevantes que podem piorar bastante a situação.
O primeiro é a “sincronia” entre a pandemia no interior e nos grandes centros urbanos do país. O segundo são as festas de fim de ano.
No dia 8/12, a Fiocruz alertou para o risco do sistema de saúde do país entrar em colapso com o provável agravamento da alta de casos de covid-19 após o fim do ano.
Reportagem da BBC News Brasil explicou que isso se deve ao estágio da pandemia no país. Se antes as epidemias nos grandes centros e nas cidades menores tinham intensidades diferentes e inversas, o que permitiu atender a população por meio da redistribuição de pacientes, o mesmo não ocorre agora.
E o agravante aqui é o período de festas de fim de ano. No Brasil, embora não haja recomendações oficiais específicas para as datas festivas, infectologistas se preparam para a possibilidade de, poucas semanas após as festas, o país se ver diante de novos aumentos de casos e mortes.
"Se fossemos reproduzir os encontros natalinos da forma que tradicionalmente ocorrem, neste momento epidemiológico (de alta dos casos), o que espero é um repique brutal no número de casos, devido à contaminação que vai ocorrer neste momento", disse à BBC News Brasil Jaques Sztajnbok, supervisor da UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, sugerindo que as pessoas evitem festas de fim de ano em 2020.
No resto do mundo, diversos países têm emitido advertências contra aglomerações e deslocamentos nos períodos festivos.
E a mensagem dos médicos é clara em todos esses lugares: qualquer encontro, por mais cuidado que se tenha, representa um risco de transmitir e contrair coronavírus.