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Primeiro álbum solo de Cassiano, 'Imagem e som' faz 50 anos como joia ainda moderna do baú da música brasileira

Por Redação

26/07/2021 às 00:59:19 - Atualizado há
Lançado em 1971, disco tem vocais luminosos do grupo Os Diagonais e funks compostos pelo artista em parceria com Tim Maia. ? MEMÓRIA – Lançado em 1971, o primeiro álbum solo de Genival Cassiano dos Santos (16 de setembro de 1943 – 7 de maio de 2021), Imagem e som, completa em 50 anos em 2021 como joia ainda moderna que precisa ser tirada do baú da música preta brasileira. Até para honrar a memória do artista, morto há dois meses.

Embora Cassiano fosse o parceiro de Silvio Roachel na composição de duas grandiosas baladas que haviam virado hits em 1970 na voz de Tim Maia (1942 – 1998), Eu amo você e Primavera (Vai chuva), a repercussão do disco Imagem e som foi tão pequena que o soulman – paraibano nascido em Campina Grande (PB) que chegara ao Rio de Janeiro em fins dos anos 1940 – saiu da gravadora RCA.

Dois anos depois, o cantor e compositor voltou ao mercado fonográfico por outra gravadora, Odeon, com a edição de um segundo álbum solo, Apresentamos nosso Cassiano (1973), cujo título fazia supor erroneamente (e talvez intencionalmente) que tratava-se de artista estreante.

Marketing à parte, a estreia solo de Cassiano acontecera mesmo em 1971. Gravado com arranjos de Waldyr Arouca Barros, o álbum Imagem e som tinha os vocais luminosos d'Os Diagonais, grupo que lançava o segundo álbum pela mesma RCA com metade do repertório creditado a Cassiano, integrante da formação original desse grupo carioca originado do Bossa Trio e pioneiro na mistura da música negra norte-americana com o caldeirão rítmico brasileiro.

Presentes ao longo dos 35 minutos de Imagem e som, os vocais dos Diagonais resplandeciam já primeira das 12 músicas do álbum – Lenda (1965), bossa negra de autoria de Marcos Valle e Lula Freire, apresentada há então seis anos em gravações de Wilson Simonal (1938 – 2000) e do Sambalanço Trio, sendo aquecida no registro de Cassiano com metais em brasa – e também davam brilho à última melancólica faixa, Não fique triste, balada da lavra refinada de Cassiano.

E por falar em balada de nobre linhagem soul, o álbum Imagem e som apresentou exemplar sublime do soulman no gênero, Já, faixa de beleza inebriante que já vale o disco, inclusive pelo arranjo de metais.

A presença de Tim Maia paira no álbum. Com Cassiano (suposto arranjador não creditado do primeiro álbum do cantor carioca, blockbuster fonográfico de 1970), Tim assina o funk Ela mandou esperar e Tenho dito, outra joia do repertório, além de ter a balada Azul da cor do mar (Tim Maia, 1970) e o próprio nome citados nominalmente na letra de outro funk do disco, Minister (Cassiano).

Ela mandou esperar é tema curto e bem ao estilo de Tim, calcado em dois versos (“Ela mandou esperar / Ele não esperou”) entremeados pelos vocais dos Diagonais nos contracantos feitos com “Tu, Tu-ru” e “Hey, baby”.

Sem falar que, em Imagem e som, Cassiano apresentou a versão do autor para a balada Primavera (Vai chuva), com suingue sedutor e o canto macio, alguns decibéis abaixo do trovão vocal de Tim.

Faixa mais curiosa do disco, com balanço e vocais (em que os Diagonais evocam marotamente Os Cariocas) que redime a música da melodia tortuosa, O caso das bossas (Zil Bozenio e Dablio Namor) aborda o samba revolucionário de João Gilberto (1931 – 2019) até a chegada de Jorge Ben Jor com a bossa negra do samba esquema novo.

Entre baladas (Uma lágrima e Eu, meu filho e você) e funks (É isso aí, com citação de frase famosa da obra do dramaturgo inglês William Shakespeare) de harmonias requintadas, o repertório majoritariamente autoral do álbum Imagem e som apresentou compositor inspirado, mas distante dos padrões radiofônicos da música brasileira da época.

Influenciado pela black music propagada pela gravadora Motown no universo pop ao longo dos anos 1960, mas sem jamais se limitar a reproduzir o som da Motown, Cassiano iniciou a discografia solo com obra-prima.

O álbum Imagem e som mantém o pique até nas músicas de lavra alheia, caso da humanista Canção dos hippies (Paz e amor), composição atribuída a autor creditado como Prof. Pardal.

Com orquestra de cordas e sopros tocados por músicos nunca creditados no LP original de 1971 e na reedição em CD de 2001, o álbum Imagem e som também deve muito do brilho a instrumentistas identificados apenas como Capacete (baixo), Charles (piano), Paulinho (bateria) e Pestana (ritmo).

Com Cassiano (na guitarra), esses músicos deram o perfeito acabamento instrumental a um repertório primoroso que faz com que, ao completar 50 anos, o álbum Imagem e som permaneça como joia moderna, do mais alto quilate. Uma prova, entre outras, da genialidade de Genival Cassiano dos Santos.
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