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Minas Gerais

Volta às aulas em Juiz de Fora: especialistas, pais e professores avaliam situação que ainda segue indefinida


O não retorno dos estudantes para as salas foi parar na Justiça após questionamentos do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Entenda o caso. Imagem de arquivo mostra sala de aula

Jonathan Lins/Seduc

Apesar do início do 2º semestre letivo da educação, Juiz de Fora ainda não tem previsão para liberação das aulas presenciais. O não retorno dos estudantes para as salas foi parar na Justiça após questionamentos do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e manifestações foram realizadas nos últimos meses no município pela volta.

Leia mais: 'Não temos data definida', afirma secretária de Educação sobre a volta às aulas presenciais em Juiz de Fora

Para falar sobre o assunto, o G1 conversou com pais que são contra e a favor do retorno presencial das atividades. Além disso, uma pedagoga explicou como o ensino remoto pode influenciar a vida dos estudantes. Um infectologista também abordou o assunto e a Covid-19. A Prefeitura ainda foi procurada. (Veja abaixo mais detalhes).

Opiniões contrárias

A favor

Com 3 filhos, entre 2 e 11 anos, Célia De Santi é a favor da volta às aulas na cidade. "A ausência causou diversos transtornos, tanto para os pais quanto para as crianças. As últimas foram as mais prejudicadas, sem o contato com professores e amigos, e principalmente, porque muitas delas não se habituaram com o ensino a distância".

"Não acho que o ensino remoto esteja sendo suficiente para uma boa aprendizagem. As crianças muitas vezes nem querem assistir às aulas, se dispersam com outros afazeres, apesar de todo o esforço dos pais. Ainda existem aqueles que não têm acesso à internet", complementou.

Letícia Lanna, que tem duas filhas, de 3 anos e 5 anos, também é favorável ao retorno. "Sou totalmente a favor. As crianças estão sofrendo demais com o isolamento, perdendo o vínculo com a escola e com os amigos. Ainda, não absorvem mais o conteúdo no ensino remoto. Dentre várias outras situações a que estão expostos com o afastamento dos colégios. Sem falar que estão literalmente abandonados sem ter acesso nem ao ensino remoto".

Sobre as aulas remotas, Letícia explicou que as filhas delas criaram uma resistência terrível, choram ao ver o computador ligado, se escondem, ficam o resto do dia ansiosas querendo ver os amigos de perto. "Apresentaram vários tipos de atraso no desenvolvimento e manias", finalizou.

Movimento Escolas Abertas

Com o fechamento das escolas e sem prazo para a reabertura, surgiu o Movimento Escolas Abertas no Brasil. Em Juiz de Fora, o grupo também é representado.

"O movimento foi criado em fevereiro de 2021 para a mobilização política e judicial em defesa do retorno das aulas presenciais no modelo híbrido e facultativo", explicou Maressa Souza, que é jornalista e líder do Escolas Abertas no município.

Leia também: Pais e alunos se reúnem na porta de escolas e pedem o retorno das aulas presenciais em Juiz de Fora

De acordo com ela, o ensino remoto e o não retorno da modalidade presencial causam diversos prejuízos para as crianças.

"São de ordem da saúde física e emocional: obesidade, depressão, crises de ansiedade e stress. Além da ordem social, como evasão escolar, aumento da violência doméstica e retrocesso na educação, uma vez que o ensino 100% on-line tem se mostrado ineficaz para todas as crianças, sobretudo aquelas em situação de vulnerabilidade, que não têm acesso diário a internet, computadores e smartphones", finalizou.

Contra

Viviane Dalmonech é mãe de Beatriz Arantes, de 9 anos. A estudante está no 4º ano do Ensino Fundamental. "No momento, sou completamente contra o retorno escolar, haja vista que ainda não existe nenhuma vacina infantil para essa doença que tanto mata", analisou.

Acho que essa retomada deveria ser bem estudada, até o atual momento concordo com a posição da Prefeitura. Espero que a Administração continue com o posicionamento de não reabrir as escolas

Assim como Viviane, Jussara Cardozo de Campos, que é mãe de Bruna, de 12 anos, também é contra as atividades presenciais neste momento da pandemia.

"Sou totalmente contra a volta até que especialistas e pesquisadores digam que o retorno é 100% seguro para as crianças e para todos nós. É muito difícil saber como o vírus reage em cada corpo e eu não quero arriscar mandando a minha filha para a escola até que ela esteja vacinada, assim como toda a população. Isso com a segunda dose, porque é quando a imunização está completa", avaliou Jussara.

Com a situação indefinida em Juiz de Fora, Jussara complementou que "fica de olho e se informa sobre o que está acontecendo e procura saber sobre a situação".

"Acho que a Margarida, como professora, sabe do dia a dia nas salas de aula e acho que crianças não vão saber manter os protocolos, principalmente as pequenas. Vão tirar máscaras, vão beber água no bebedouro, vão correr juntas e dividir alimentos. Não acho que é algo seguro ainda, mas claro que seria ótimo voltar até porque o ensino a distância não dá o mesmo retorno no aprendizado. Mas a vida vem em primeiro lugar", finalizou Jussara.

Professores contrários ao retorno presencial

A professora e coordenadora pedagógica da Instituição Obras Sociais do Bom Pastor, Thassiane Amaral Bacha, é contra o retorno das aulas presenciais e falou a sobrecarga de trabalho adquirida pelos profissionais da educação durante a pandemia de Covid-19.

"Considero este debate sobre volta às aulas de extrema importância. A pandemia foi uma fatalidade inesperada para todos os setores da sociedade, inclusive para nós da educação, que passamos os últimos meses aprendendo habilidades que antes não nos eram exigidas. Os professores tiveram que se reinventar e hoje trabalham com uma carga de exaustão pela demanda exigida no ensino remoto".

No entanto, a profissional ressalta que voltar para a sala de aula seria uma negligência, visto que falta pouco mais de um mês para a segunda dose da vacina para os profissionais. "Já esperamos muito e voltar agora pode colocar em risco a saúde dos profissionais, das crianças e dos familiares".

Para Thassiane, a prioridade é o bem-estar de todos, apesar de saber que a creche faz muita falta no dia a dia dos alunos.

"Sempre defendi o aprendizado das crianças no ambiente escolar, com profissionais preparados e habilitados. A pandemia provocou um momento atípico, mais do que nunca devemos priorizar a saúde física e mental das crianças e também dos professores, que no período certo poderão dar continuidade ao excelente trabalho que já realizam", concluiu.

Profissionais a favor

Para a professora e universitária Carla de Assis, o retorno, desde que híbrido, facultativo e seguindo protocolos é necessário para todas as fases de aprendizado.

"A gente tem que pensar que a educação é um direto fundamental de todo cidadão e quando a gente pensa no profundo impacto que a escola tem na saúde mental, aprendizagem e no desenvolvimento de habilidades, como interação social, sociabilidade, enfim, vários aspectos que nossas crianças estão perdendo. O retorno se trata também de proteger essas crianças e esses adolescentes porque a escola também é um lugar de nutrição", afirmou a professora.

Carla ressaltou ainda a falta de recursos que vários alunos têm para o acompanhamento das aulas on-line. "Vamos pensar na rede municipal e estadual de ensino onde as crianças estão com pouco apoio, e nos recursos que muitas não têm. Então, nem todo mundo tem internet, um dispositivo eletrônico para entrar na aula, além de crianças com necessidades especiais que estão sem rotina. Será que estão fazendo atividade adaptadas para essas crianças? Elas estão desenvolvendo habilidades ou será que essas crianças estão perdendo?", questionou.

A professora ainda ponderou que não concorda comm as medidas tomadas pelo Executivo em relação a volta às aulas em Juiz de Fora.

"Somos uma cidade de médio porte onde todas as cidades vizinha estão com as escolas funcionando, onde o estado vizinho tem aula desde outubro e onde a Organização Mundial da Saúde, Unesco e Unicef hoje reafirmam que é de fundamental importância a reabertura das escolas, além do índice de contaminação ser bem baixo com as crianças. Então, eu não concordo, afirmou Carla.

Aulas remotas e desenvolvimento do estudante

Em conversa com a pedagoga e coordenadora pedagógica da Creche e Ação Comunitária Sol Nascente, Fernanda Ribeiro Corrêa, ela contou sobre os desafios das aulas remotas e desenvolvimento do estudante.

"Encontramos muitos desafios para o atendimento remoto na educação infantil e no desenvolvimento das atividades pedagógicas sugeridas de forma lúdica para as crianças de 2 a 3 anos que atuo na instituição", analisou Fernanda.

De acordo com a profissional, um grande desafio é a disponibilidade dos pais/familiares em auxiliar as crianças nas atividades pedagógicas de forma lúdica sugeridas, já que alguns alunos ficam com outras pessoas para que os pais trabalhem.

"Um outro desafio é ter acesso à internet para acessar os vídeos que gravamos e enviamos nos grupos de Whatsapp e, claro, a exposição das crianças por muito tempo às telas de computador e smartphone, devido a faixa etária que atendemos".

Sobre a falta de socialização das crianças e adolescentes, Fernanda contou que a distância pode prejudicar. "Precisamos nos socializar, interagir com outras pessoas para o nosso desenvolvimento psíquico social, assimilando a nossa cultura que é própria. É nas trocas de experiências, que aprendemos a lidar com o próximo, com as nossas frustações e as conquistas, com o meio em que vivemos", analisou sobre a situação.

Retorno das atividades presenciais e Covid-19

A reportagem entrevistou um especialista para saber quais os possíveis riscos de um retorno presencial às salas de aula. De acordo com o infectologista Marcos Moura, a volta pode ser feita, desde que seja híbrido e com algumas observações.

"É claro que não pode ser um retorno igual antigamente, tem que ser um retorno híbrido onde você mantém uma flexibilização dos horários das crianças, abre oportunidade para as que queiram assistir e que os pais autorizem e aquelas que não, então a escola tem que se adaptar a fazer o presencial e também manter o domiciliar, analisou o médico.

Sobre a idade segura para retorno, Mauro afirmou que a volta é importante para as crianças mais novas. "Algumas classes podem ficar mais tempo em casa, como os alunos mais velhos talvez porque os mais novos precisam da escola por vários motivos, como a fase de alfabetização por exemplo. Eu acredito que o risco de uma escola aberta, reduzido e minimizado, ele é superado pela importância do estudo porque a gente imagina que com quase 2 anos de paralisação, essa perda pode ser irreparável para algumas crianças, tanto no aprendizado como na vulnerabilidade social e urbana", afirmou.

O profissional ressaltou ainda que devido ao tempo de pandemia, uma redução dos casos, diminuição de internações e uma grande parte da população já vacinada, os municípios que se organizaram e vacinaram prioritariamente os profissionais de educação já têm condições para o retorno.

"De forma geral, as crianças não frequentam as escolas, mas vão a diversos outros lugares onde o risco de contágio pode ser muito maior, inclusive festas familiares. Na escola esse contagio existe, o risco existe, mas você tem como montar protocolos que amenizam esse risco. Além disso, dependendo das atividades que serão realizadas dentro do planejamento das escolas, você consegue sim um contato menor entre as crianças até porque eles já estão acostumados ao álcool em gel, a usarem máscara e manterem o isolamento. É difícil, mas é possível."

Sobre o bem-estar e segurança dos profissionais e dos estudantes, o médico explicou que quem tiver alguma restrição deve manter o trabalho remotamente e o aprendizado em casa até que "tenhamos plenitude na vacinação ou que se prove que o risco diminuiu", concluiu.

Investimentos para o retorno

Sobre investimentos necessários para o retorno presencial, Moura explicou que muitas escolas ainda não têm estrutura tecnológica para atender os alunos e funcionários, que muitas vezes precisam usar o próprio material para dar ou assistir aulas, além do uso de plataformas que não foram criadas para o setor educativo, como o WhatsApp por exemplo.

"Nesse modelo híbrido há um investimento que no setor privado parece ser mais simples, mas no público não. A gente ainda vê em em todo o Estado e alguns municípios escolas sem internet adequada, sem estrutura, sem pessoal para dar suporte tecnológico e sem fornecimento de tablets e computadores. Já deveria ter sido feita uma adaptação no planejamento no último ano até porque esse modelo de estudo é a tendência do futuro, um sistema mais tecnológico, com mais uso da internet e com a inserção de computadores na rotina escolar, tanto em casa como na escola", explicou.

Leia também: Especialistas explicam em 10 pontos como fazer um retorno mais seguro

O infectologista falou também sobre investimento em atendimento médico e de monitoramento dentro das escolas.

"As escolas precisam ter um contato médico que possa dar suporte, tanto aos pais como para as crianças e professores em caso de qualquer coisa que fuja da normalidade. As escolas precisam fazer um planejamento de testagem, avaliação diária daquela criança, além de não deixarem as crianças frequentarem o local com qualquer sintoma respiratório ou febre. Ressaltando que em caso de qualquer sintoma ou diagnóstico, a quarentena deve ser realizada para que depois o retorno aconteça".

O infectologista também não descartou a possibilidade de um possível fechamento pós retomada das atividades presenciais. "É um início de retorno e isso tem que ser monitorado. Caso qualquer evento adverso aconteça, se alguns casos começarem a surgir na escola é claro que aquela turma ou escola devem parar novamente e aguardar por um novo retorno, mas isso é feito paulatinamente e não de forma absoluta", finalizou.

O que diz a Prefeitura

Em nota, a Prefeitura de Juiz de Fora informou que "não há definição de data para o retorno presencial e que todas as questões relacionadas ao retorno de atividades presenciais de ensino são discutidas no Grupo de Trabalho e no comitê criados para avaliarem a situação da educação na pandemia".

Volta às aulas: entenda o caso

Discussões são realizadas

Desde o ano passado, o retorno das aulas presenciais é discutido em Juiz de Fora.

Em maio de 2021, o MPMG realizou uma reunião para discutir a proibição de aulas presenciais na cidade. O objetivo do órgão foi entender melhor os fundamentos da Prefeitura para não liberar o retorno das atividades. Na ocasião, um novo encontro foi marcado para o dia 17 do mesmo mês, após os promotores de Justiça ponderarem que não foram esclarecidos pontos sobre o assunto pelos representantes do município.

Protocolo sanitário é divulgado

Posteriormente, a Prefeitura divulgou um protocolo sanitário para o retorno às atividades presenciais nas escolas públicas municipais e na rede particular de ensino.

Audiência debate assunto

Já em junho, uma audiência entre representantes da Prefeitura e do MPMG para discutir a situação das atividades escolares no município terminou sem acordo na cidade.

Para debater a situação das aulas presenciais, a Administração criou um Grupo de Trabalho e um comitê. Atualmente, os mesmos realizam encontros.

Seguir o 'Minas Consciente'

No fim de junho, em uma decisão, a Justiça determinou que o município seguisse o "Minas Consciente" para o retorno das aulas presenciais. No entanto, a Prefeitura recebeu parecer favorável para continuar no "Juiz de Fora pela Vida", mas tinha 15 dias para adotar medidas sobre o assunto.

Programa com critérios técnico-científicos

Após ter 15 dias para divulgar regras, a Administração apresentou no fim de julho critérios técnicos para volta às aulas de forma presencial.

Na ocasião, o município informou que o retorno poderá ser feito na faixa amarela, etapa em vigor, porém desde que seguidos outros indicadores, como por exemplo, a imunização completa dos trabalhadores da educação. Ainda não há data para a volta.

Manifestações

Durante todo o período, o G1 mostra que manifestações foram realizadas pelo apoio da volta às aulas presenciais.

'Sem data'

Em entrevista à TV Integração, a secretária Municipal de Educação, Nádia Ribas, afirmou que "não há data definida" para o retorno das aulas presenciais em Juiz de Fora.

"[…] estamos nos pautando sempre na ciência e temos um plano organizado de retorno e discutido também com toda sociedade civil. Não temos uma data definida, mas toda uma organização que vem sendo feita com muito diálogo e com efetividade para que a gente retorne com segurança e garantia de vida de todos e todas", explicou ao MG1.

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