Neurocirurgião explica como o tratamento pode ser eficaz em casos de dor crônica Não será a primeira vez que trato do tema no blog – e está longe de ser a última, mas o assunto sempre causa celeuma: o uso do canabidiol para fins medicinais, que vem avançando no Brasil e no mundo. Um dos maiores entraves para sua utilização se expandir é justamente a falta de conhecimento sobre a substância, o CBD, que leva muita gente a achar que as pessoas entrarão numa espécie de “barato” semelhante ao experimentado pelos usuários de maconha. No entanto, aos poucos o preconceito vai sendo vencido e a iniciativa parte até dos próprios pacientes, observa o neurocirurgião Marcelo Valadares, coordenador do ambulatório de dor do setor de neurocirurgia da Unicamp, onde também faz doutorado: “quem tem um quadro de dor crônica sabe o impacto que isso causa em sua vida. Tem sido cada vez mais frequente que a demanda chegue aos consultórios através de pacientes nesta situação ou com Doença de Parkinson, porque a aplicação terapêutica tem se mostrado positiva.”
O neurocirurgião Marcelo Valadares, mestre e doutorando em Neurologia pela Unicamp
Divulgação
De acordo com o médico, embora ainda não represente a primeira linha de medicamento a ser utilizado, já há um volume robusto de pesquisas que apontam para o emprego do canabidiol em casos de osteoartrites (artroses) e neuropatias diabéticas, doenças que afetam duramente os mais velhos e comprometem a qualidade de vida. A lista não para aí: é eficaz para reduzir o quadro de náuseas, vômito e inapetência de pacientes sob tratamento oncológico. Infelizmente, o custo continua sendo inviável para a maioria: cerca de 600 reais por mês.
Numa outra coluna, eu havia explicado que nosso organismo tem seu próprio sistema endocanabinoide, que está associado a uma lista grande de funções cerebrais, incluindo ansiedade e humor. Quando há um desequilíbrio interno, os sintomas podem ser atenuados ou eliminados com medicamentos à base de canabidiol – essa é uma boa evidência de que ele funciona como uma espécie de reparador do circuito que está dando curto, auxiliando no tratamento de transtornos e doenças neurológicas.
Desde dezembro de 2019, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a regulamentação de produtos à base de cannabis sob prescrição médica, disponíveis em gotas ou óleos. O doutor Valadares lembra que o tratamento é feito apenas com o canabidiol, e não com o THC (tetrahidrocanabinol), componente da maconha responsável pelos efeitos alucinógenos. Nos últimos anos, pacientes com epilepsia, especialmente crianças, se beneficiaram com uma diminuição drástica do número de crises convulsivas graças ao CBD. “Estamos num estágio inicial de identificar as possibilidades terapêuticas do medicamento, o mais estimulante é que ainda há muito para aprendermos”, resume.