A médica Sley Tanigawa afirma que abrir mão de maus hábitos desafia nossa “imunidade à mudança” Em sua quarta edição, realizada semana passada, o Congresso Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida encorpou, tornando-se latino-americano. É bom saber que aumenta o número de médicos interessados em ajudar os pacientes a abraçar hábitos saudáveis, mas um dos maiores desafios é justamente garantir que as pessoas deixem para trás maus costumes e consigam mudar. “É fundamental não partir do pressuposto de que é tudo ou nada. Não há caminho em linha reta, é preciso saber lidar com lapsos e recaídas sem abandonar o plano inicial ou achar que ele não é eficaz”, enfatizou a médica Sley Tanigawa Guimarães, presidente do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida e coordenadora da pós-graduação nesse campo de estudo no Hospital Albert Einstein.
Ela batizou sua palestra de “Contornando a imunidade à mudança” e explicou que as chamadas recomendações médicas se constituem no desafio técnico – algo mais racional, baseado nas evidências científicas. No entanto, a grande dificuldade está em alcançar o desafio adaptativo, que engloba as transformações nas nossas estruturas mentais, porque é aí que mora nossa resistência! Para a maioria, isso não se dá sem algumas idas e vindas, e exige que o profissional de saúde seja um aliado, e não um crítico. “Além disso, sempre haverá aniversários, almoços de família e happy hours, o mais importante é a pessoa não se deixar levar por velhos gatilhos”, acrescentou.
Alimentação saudável: hambúrguer pode ser um lapso, mas o segredo é não abandonar o plano inicial
RitaE para Pixabay
Realmente, não faltam “armadilhas” para ameaçar os seis pilares da medicina do estilo de vida: nutrição, atividade física, sono, manejo do estresse, relacionamentos saudáveis e controle de tóxicos, categoria que inclui cigarro, álcool, drogas ilícitas e mesmo automedicação. Falando em alimentação, nossas opções são determinantes para garantir uma microbiota intestinal saudável, essa complexa e dinâmica associação de trilhões de bactérias, fungos, vírus e archaea (seres unicelulares semelhantes às bactérias). Como todos já deveriam saber, dietas baseadas em alimentos ultraprocessados, gorduras e açúcares não são o caminho indicado para o equilíbrio do organismo.
Essa é a área de atuação da nutricionista Ana Carolina Franco de Moraes, com doutorado em nutrição em saúde pública pela USP e pós-doutoranda em epidemiologia pela mesma universidade, palestrante do evento. Entre os 2 e 3 anos, tal ecossistema se estabiliza, o que só mostra a relevância da qualidade da alimentação desde o início. “O padrão alimentar é crucial para o estabelecimento das espécies comensais dominantes. Cerca de 57% da variação de microbiota está relacionada à dieta. Quando há disbiose, isto é, desequilíbrio, a diversidade bacteriana fica reduzida, há alteração da composição bacteriana e das barreiras funcionais e cria-se um quadro de inflamação subclínica crônica, aumentando o risco para o desenvolvimento de uma série de doenças, como obesidade, câncer colorretal e diabetes”, afirmou.