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Especialistas afirmam que foco deveria ser na prevenção, e não apenas no tratamento de patologias A longevidade trouxe à tona uma questão que antes passava meio despercebida: nossa voz também envelhece. São mudanças que impactam não somente idosos frágeis, mas quem ainda está na ativa – e assim pretende continuar até uma idade avançada. Por isso, o papel da fonoaudiologia para manter e aprimorar a competência comunicativa ganha cada vez mais espaço, e foi um dos temas do Congresso da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, realizado entre os dias 13 e 16.Para a fonoaudióloga Renata Azevedo, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), trata-se de uma ferramenta indispensável atualmente: “trabalhar a competência comunicativa de uma pessoa possibilita que a voz dê vazão às suas demandas e necessidades”, resumiu. E por que a especialista diz isso? Cerca de 50% dos idosos relatam enfrentar momentos de disfonia, o que significa apresentar algum tipo de dificuldade na emissão vocal que impeça ou atrapalhe a produção natural da voz. A professora ressaltou que o estilo de vida se reflete na voz na maturidade: hábitos como o consumo de álcool e cigarros, alimentação e sono de má qualidade, sedentarismo, excesso de estresse – todas as variáveis terão peso, mas, mesmo diante de mudanças no organismo, é possível potencializar os recursos existentes.Comunicação inclui voz, articulação, clareza, dinamismo, fluência, gestos. Perder parte desses atributos tem impacto em atividades profissionais e de lazer Joseph Shohmelian para PixabayCom o envelhecimento, a laringe sofre duas alterações relevantes do ponto de vista fisiológico: o enrijecimento das cartilagens e a flacidez da musculatura. A rigidez impede a variação de tom e deixa a voz agudizada. Ela vai se tornando mais frágil, com menor projeção e intensidade, e é comum que saia “tremida”. A flacidez leva à perda do tônus muscular. Comunicação inclui voz, articulação, projeção, clareza, inteligibilidade, dinamismo, fluência, gestos. Perder parte desses atributos tem impacto em atividades profissionais e de lazer, nos relacionamentos e nas interações sociais. Em última instância, pode levar ao isolamento e à solidão.Nos casos de demência, Juliana Onofre de Lima, mestre e doutora pela Unifesp, e professora da UnB, enfatizou a importância de a abordagem fonoaudiológica não ocorrer apenas quando a doença está num estágio avançado. É comum que idosos só recebam atendimento quando já apresentam problemas de disfagia, que se caracteriza pela dificuldade na sequência dos movimentos da boca até o estômago ao engolir alimento, líquido, comprimido ou mesmo a saliva. “Intervenções voltadas para aprimorar a comunicação têm como objetivo maximizar a independência da pessoa pelo maior tempo possível, otimizando sua participação em atividades e incrementando sua qualidade de vida”, afirmou. Através de treino e estimulação, é possível que um paciente consiga se envolver em tarefas do dia a dia, o que, certamente, vai melhorar sua autoestima.