Uma estimativa da prefeitura de São Paulo divulgada nessa quinta-feira (6) aponta que o número de casos de síndrome gripal com confirmação laboratorial para covid-19, ou seja, de pacientes com sintomas leves de coronavírus na cidade, pode ser atualmente o dobro do registrado no pico da pandemia, em abril de 2021, recorde até então.O levantamento faz parte do estudo que baseou a decisão da gestão municipal de cancelar o carnaval de rua na cidade neste ano. Os dados, no entanto, não correspondem a todos casos confirmados de covid-19 porque levam em consideração apenas os pacientes com sintomas gripais leves e excluem os internados. Atualmente, as informações sobre o conjunto de casos confirmados de covid-19, leves ou graves, estão prejudicadas pelo apagão de dados nos sistemas do Ministério da Saúde.Apesar disso, o coordenador da Coordenaria de Vigilância em Saúde (Covisa) da capital, Luiz Arthur Vieira Caldeira, disse que a prefeitura faz uma estimativa sobre o atraso dos registros das últimas quatro semanas para calcular quantos casos leves de síndrome gripal a cidade tem atualmente.Informações sobre o conjunto de casos de covid-19, leves ou graves, estão prejudicadas pelo apagão de dados do Ministério da SaúdeAP Photo/Andre PennerA covid leve, ou síndrome gripal, é caracterizada pela pessoa com quadro respiratório agudo, com pelo menos dois dos seguintes sinais e sintomas: febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou degustativos e que não fica internada. Síndrome respiratória aguda grave é quando a pessoa com esses ou mais sintomas é internada.A administração municipal não publicou os dados completos dos estudos, apenas uma apresentação de slides com os gráficos. Também não é possível saber se os dados represados durante o período do apagão já foram totalmente inseridos nos sistemas.Para o pesquisador da USP Paulo Inácio Prado, membro do Observatório Covid-19 BR, o valor exato de casos leves, e se eles de fato já passaram o pico de 2021, ainda é incerto. Mas a tendência de crescimento acelerado de casos "está muito clara, confirmada por diferentes fontes de dados e análises"."Em geral, há bastante incerteza nos pontos finais da previsão. É normal isso, porque o dado dos últimos dias é menos completo, portanto temos mais incerteza sobre quantos casos de fato aconteceram e ainda não entraram na base de dados", disse Prado. "Mas está muito clara a tendência de crescimento acelerado, e foi muito importante que a prefeitura tenha dado este alerta", explicou.Embora as internações por covid-19 também tenham aumentado no Estado, com um crescimento de 100% em 23 dias, como já mostrou reportagem do g1, a prefeitura da capital estima que apenas os casos leves da doença devem superar os números registrados no pico da doença. Ao apresentar as projeções da covid-19 na capital, a prefeitura também mostrou gráficos que mostram todos os casos de pacientes com síndrome gripal, seja covid, seja gripe."Neste momento já podemos estar com praticamente o dobro do número de casos [de síndrome gripal] que nós tivemos no pico da pandemia, provocados pela P1 [variante] em março ou abril de 2021. Síndrome gripal, no total, incluindo covid”, disse Caldeira.De acordo com Caldeira, o aumento de casos na capital corresponde ao verificado em outros países afetados pela variante ômicron do coronavírus, que é mais contagiosa."É uma disseminação extraordinária, uma explosão de disseminação na população. Por isso estamos observando as unidades de pronto atendimento lotadas, mas de casos leves. No entanto, a quantidade de pessoas que atinge ao mesmo tempo é mais que o dobro do que vimos na P1. Em que pese as pessoas estarem mais protegidas, mas muito mais contaminados nesse momento", disse o representante da prefeitura.Em entrevista à GloboNews na noite desta quinta (6), o secretário da Saúde da capital, Edson Aparecido, disse que a ômicron já representa 58% dos casos sequenciados na capital. "Quando surgiu a ômicron na cidade de São Paulo, no dia 5 de dezembro, os testes sequenciados nos davam conta de 5% de ômicron. Na semana epidemiológica seguinte isso saltou para 37% dos casos. Ontem nos casos preliminares já atingiu 58%", disse Aparecido."A delta levou nove semanas para ser a variante prevalente na cidade. A ômicron, em menos de três semanas, e ainda com os dados atrasados, em menos de três semanas já representa 60%. Estamos na subida de casos de ômicron. Janeiro e fevereiro serão meses que a gente vai enfrentar, sem dúvida nenhuma, uma onda muito grande com a nova variante", completou.Em nota, a prefeitura declarou que "realiza o monitoramento e a vigilância de acordo com os dados disponíveis em banco de notificações do governo federal" e que "os gráficos apresentados nesta quinta-feira (6), seguem o padrão de atraso de notificação de rotina e não leva em consideração os ataques sofridos pelo banco de dados do Ministério da Saúde."Covid X GripeO representante da Covisa também afirmou que, ao contrário do que aconteceu em dezembro de 2021, as internações por covid voltaram a superar as de gripe no município."Na segunda quinzena de dezembro, nós observamos aumento na internação de pessoas que agravaram pelos vírus respiratórios. O que temos diferente é o vírus da influenza. O vírus que não apareceu o ano todo, nem sequer na sazonalidade, se disseminou, e por três semanas de dezembro foi o que mais causou internações na cidade. Já observamos que começou a cair o número de internações por influenza. Em contrapartida, há o aumento de internações por covid", disse Caldeira.A mesma tendência também foi observada em hospitais particulares da cidade. Nos cinco primeiros dias do ano, o HCor registrou 1,5 mil atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios. Destes, 51% testaram positivo para covid-19, e apenas 6% para o vírus influenza da gripe.O Hospital Albert Einstein também registrou aumento dos casos de covid na primeira semana de janeiro. Entre os dias 02 e 06, o hospital confirmou 3.675 casos de covid-19 e 902 casos de influenza. Atualmente, o hospital tem 60 pacientes internados com covid e 23 com influenza.
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