O número de compradores do exterior aumentou significativamente nos últimos dois anos, e a alta demanda já impacta a oferta nos bairros da Zona Sul Destino preferido de estrangeiros em visita ao Brasil, o Rio de Janeiro tem confirmado nos últimos dois anos uma outra vocação: a de “Meca imobiliária” para investimentos de estrangeiros. Segundo empresas do setor, a cidade vem registrando um aumento no volume de negócios junto a clientes do exterior. A explicação é a desvalorização recente do real frente ao dólar e ao euro. Em 2020, a moeda brasileira teve o sexto pior desempenho do mundo, com queda de 22,4%.
Bairros da Zona Sul, como Ipanema, Leblon e Copacabana, concentram grande parte dos contratos de venda ou locação, com destaque para o segmento de alto padrão, o mais procurado. Quanto à origem, Estados Unidos e Europa são os maiores emissores desses clientes que chegam ao Rio.
Esse filão de mercado tornou-se um pilar fundamental para corretoras e incorporadoras da cidade. É o caso da Bait, recentemente adquirida pelo grupo Gafisa, que tem entre 30% e 40% de suas vendas feitas a estrangeiros, segundo o diretor de Incorporação Frederico Kessler. O empreendimento Canto do Rio — uma sofisticada torre de estúdios localizada em um dos últimos terrenos disponíveis na Praia do Arpoador — teve 35% de suas unidades compradas por investidores residentes fora do Brasil. O preço médio do metro quadrado ali fica em torno de R$ 30 mil.
Com sua operação voltada exclusivamente para o mercado internacional, a Rio Exception também vem registrando um significativo aumento da demanda desde 2020. Benjamin Cano, sócio da imobiliária, conta que, em 12 anos de atuação na compra e venda de imóveis de luxo no Rio, a empresa vive hoje seu melhor momento.
“Só na última semana de março, recebemos cinco consultas por apartamentos na faixa de R$ 6 milhões”, diz ele, que trabalha com um ticket médio no valor de R$ 3 milhões e se ressente do fato de não haver maior disponibilidade de imóveis de alto padrão para atender à crescente demanda.
Quanto ao perfil do cliente, as descrições são as mais variadas: expatriados, executivos que vêm para trabalhar no Brasil, estrangeiros casados com brasileiras e turistas que ficam encantados com o país e decidem ter aqui uma segunda moradia.
O mercado de locação para clientes do exterior também vive momento de forte procura na cidade. Claudio Castro, diretor Comercial da Sergio Castro Imóveis, afirma que os estrangeiros pagam o valor estabelecido, sem pedir desconto. No entanto, são exigentes com a qualidade dos imóveis.
“Além da exigência de sofisticação e do padrão elevado em decoração e materiais de acabamento, eles não abrem mão do mais alto nível de conservação”, afirma Castro, que ainda pontua uma variação no interesse dos locatários conforme a idade. “Clientes acima dos 40 anos preferem alugar apartamentos em Copacabana. Os mais jovens, em Ipanema.
”Ele cita como exemplo uma locação recente de três apartamentos de 550 metros quadrados em um prédio de luxo na Avenida Atlântica. Os contratantes — um consulado e uma multinacional — pagaram o valor pedido sem negociar: R$ 48 mil por mês. “Um outro executivo, de uma empresa da Bélgica, preferiu algo menor e alugou um apartamento de 50 metros quadrados na rua Barão da Torre, Ipanema, por R$ 4 mil mensais.”
Além dos bairros mais turísticos, a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes também começam a ser procurados por conta do boom imobiliário de alto padrão na região. O condomínio de luxo On The Ocean, em lançamento na Praia do Pontal, é um exemplo.
Com VGV de R$ 250 milhões e 134 unidades com até cinco quartos na cobertura, o residencial ocupará uma área de 8,5 mil metros quadrados e contará com serviços similares aos oferecidos por hotéis seis estrelas. “Mais de 30% dos apartamentos já vendidos foram para estrangeiros de diversas nacionalidades”, afirma Nayra Técia, diretora do grupo ON Brokers.
Em São Paulo, os âgringosâ preferem morar perto de escolas
Estrangeiros que buscam residência na terra da garoa dão atenção especial à educação dos filhos
Destino de muitos executivos expatriados, a capital paulista tem o mercado de locação de imóveis de alto padrão muito aquecido
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Assim como no Rio, a capital paulista também tem sido destino de moradia para quem vem do exterior. Porém, esses novos residentes são, em sua maioria, executivos expatriados que vêm trabalhar nas multinacionais localizadas na Grande São Paulo e na região do ABC. Isso faz com que o mercado de locação seja mais aquecido do que o de compra de imóveis.
Uma outra característica é a presença da família, incluindo os filhos, o que pesa na decisão sobre o perfil de residência e o bairro. “Eles sempre vão escolher o imóvel que ficar mais próximo das escolas internacionais da cidade, onde os filhos vão estudar. Para eles, isso é muito importante”, afirma Rosi Castro, head de Operação de Compra e Venda da Bamberg Imóveis.
Como muitos alemães são transferidos para trabalhar na indústria automobilística, a clientela da empresa tende a ocupar bairros na Zona Sul, como Alto da Boa Vista, Brooklin e Chácara Flora. “São bairros verdes também, planos, bons para caminhar, com um campo de golfe e uma hípica perto, criando uma similaridade com a Europa”, diz.
Para Marco Túlio Lima, CEO da Esquema Imóveis, outro fator importante é a proximidade com o futuro local de trabalho. “São profissionais do C-level que preferem ficar perto dos eixos financeiros da cidade”, explica. Dessa forma, Itaim, Jardins e Vila Nova Conceição entram no radar, por conta das regiões da Berrini e da Faria Lima.
Outro dado é a predileção por casas em condomínios horizontais, mais seguros e com maior privacidade. Rosi confirma ainda aumento no atendimento a estrangeiros em seu escritório. “Após um período de retração, antes e durante a pandemia, temos percebido uma recuperação”, informa.