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Brasil: escalada do desmatamento eleva número de espécies ameaçadas de extinção

Por Redação

18/07/2022 às 03:12:28 - Atualizado há

O Brasil já observa impactos diretos da escalada do desmatamento vivenciada nos últimos anos. A recente atualização da lista que trata de animais, plantas e árvores ameaçadas de extinção no país, divulgada em junho, indica que houve um crescimento de 52% no número de espécies de flora que correm o risco de desaparecer dos biomas brasileiros. O aumento leva em consideração o período entre 2014, último ano em que houve publicação da listagem, e 2022. 

Em relação à fauna, o salto no período foi menor, de 7%, mas representando 76 espécies que têm a existência colocada em xeque. Se analisados os dados de desmatamento na região da Amazônia, entre 2014 e 2021, a área total que foi ilegalmente suprimida subiu 160% no Brasil, conforme o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). 

Em 2014, o índice foi de 5.012 km², enquanto ao final de 2021 chegou a 13.038 km² - perímetro que supera em quase nove vezes o território da cidade de São Paulo. Somente entre janeiro e maio deste ano, o desmate já consumiu 3.360 km², mostra um levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Já nas regiões de Mata Atlântica, a devastação cresceu 17% ao final de 2021, se comparado com 2014, e chegou a 21 mil hectares - o maior índice desde 2015. 

O desmate, conforme explica o pesquisador em ecologia aplicada das Universidades de Lancaster, no Reino Unido, e da Federal de Lavras (Ufla) Cássio Alencar, pode ocorrer sob ação das motosserras, mas também por queimadas - infração essa que é mais comum no segundo semestre no período de estiagem. Nunes ressalta que o desmatamento interfere diretamente no aumento dos números de espécies em extinção no Brasil. 

O especialista explicou que o principal motivo que leva à listagem é a perda do habitat natural das espécies. “Às vezes a retirada de uma única árvore pode levar à extinção de uma espécie”, explicou. O corte ilegal de árvores, alerta o estudioso, pode desequilibrar a umidade, temperatura e iluminação em áreas florestais habitadas por grupos de animais ou por espécimes da flora. As mais impactadas, avalia, são as espécies raras ou que têm núcleos menores. 

“Se você transforma as características do ambiente de floresta em um pasto, por exemplo, áreas de agricultura, isso gera uma degradação nas condições biofísicas e as espécies não sobrevivem”, observa. Na análise da lista divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente, entre as espécies de fauna mais ameaçadas estão grupos de borboletas e mariposas, anfíbios, répteis, aves e peixes de água doce. Já na flora, há plantas como um gênero de bromélia - o Dyckia distachya - que é endêmico de Mata Atlântica, e árvores como o amarelão, que tem origem Amazônica, e o capim-rabo-de-raposa. 

“São perdas bastante significativas, porque estamos eliminando nosso patrimônio natural. A perda de uma espécie gera uma série de impactos no ecossistema não só para a espécie, mas para as presas e o restante da cadeia. Uma casca de árvore, por exemplo, pode ter um composto medicinal que pode ser cura para uma doença, mas que estamos perdendo as espécies sem ao menos ter conhecido”, destaca o pesquisador. 

Para o pesquisador, o corte de gastos em fiscalização ambiental resulta no cenário atual de índices elevados de desmate. Levantamento da ONG Contas Abertas feito em parceria com a WWF-Brasil aponta que em 2013 o orçamento do Ministério do Meio Ambiente foi de R$ 5 bilhões, mas foi reduzido a R$ 3,6 bilhões em 2014, patamar em que permaneceu até 2017, quando atingiu R$ 3,7 bilhões. 

Em 2018, conforme o Portal da Transparência do órgão, a receita foi ainda menor, de R$ 2,9 bilhões. O empenho financeiro chegou a aumentar em 2019, chegando em R$ 3,66 bilhões, mas foi rebaixado a R$ 2,98 em 2021. Neste ano, a verba prevista pela pasta ambiental é de R$ 3,61 bilhões. 

Queimadas atingem 90% das espécies

Pesquisa feita pela Universidade do Arizonas, nos EUA, com participação do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG entre 2019 e 2021 com 11.514 espécies de plantas e 3.079 espécies de animais vertebrados, entre aves e mamíferos, foi verificado que 90% das espécies foram atingidas por queimadas que atingiram a Amazônia. 

O estudo foi feito considerando toda a extensão da Bacia Amazônia, levando em consideração um período de 20 anos. “Está claro que os impactos negativos sobre as espécies aumentaram muito nos últimos anos. De 2016 para cá, com a diminuição da fiscalização, o cenário só piorou. Como resultado, em 2019, as queimadas ficaram acima da média histórica recente no país. Isso é preocupante”, diz, em nota divulgada pela UFMG, o professor do ICB, Danilo Neves. 

Para combater o desmatamento e as queimadas, a pesquisadora Bianca Santos, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), defende o fortalecimento de órgãos ambientais responsáveis por fiscalização e controle de supressão ilegal de vegetação. “Evitando assim invasões de florestas públicas e áreas protegidas como territórios indígenas, quilombolas e unidades de conservação. Dessa forma será possível frear o cenário de grilagem de terras que vem ficando cada vez mais frequentes na Amazônia”, opina.

Fonte: O TEMPO
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