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BRASIL

Como o ataque a Cristina Kirchner impacta o Brasil? Veja análises


A tentativa de um brasileiro de atirar contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, não deve afetar diretamente as boas relações econômicas entre os dois países, que renderam US$ 10,46 bilhões ao Brasil em exportações entre janeiro e agosto deste ano. No entanto, o ato praticado por Fernando Andrés Sabag Montiel, de 35 anos, que acabou preso após o ataque, lança atenção sobre o cenário eleitoral no Brasil e traz ainda mais prejuízos à diplomacia brasileira.

A avaliação foi feita por especialistas consultados pela reportagem de O Tempo nesta sexta-feira (02), horas após o ocorrido no tradicional bairro Recoleta, em Buenos Aires. O ministro nacional da segurança na Argentina, Aníbal Fernández, afirmou que a arma utilizada no atentado seria uma 3.8 e estava carregada com cinco balas. O brasileiro tem antecedentes criminais por portar uma faca de 35 cm nas ruas, sendo detido em março do ano passado.

Informações da imprensa argentina indicam que o homem era crítico de programas sociais e seria seguidor, nas redes sociais, de movimentos radicais. Doutor em Direito Internacional e professor da Fundação Getúlio Vargas, Evandro Menezes de Carvalho diz que a violência no país vizinho, pelas circunstâncias políticas observadas, aumenta a tensão e atenção no processo eleitoral brasileiro. Ele cita discursos de personalidades e integrantes do governo de Jair Bolsonaro (PL) contra o processo democrático que podem contribuir para alimentar movimentos de ódio no país.

“O problema dessas ideologias é que quem as alimenta e promove está no poder, mas não executa, diretamente, o serviço sujo. Estimula as pessoas, alimentando nelas o ódio, para executar os atos. O Brasil é uma panela de pressão que precisa ser desmobilizada. É evidente que há um ambiente propício para esse tipo de ato no Brasil, onde há, inclusive, estímulo ao armamento de parte da sociedade”, comentou Menezes.

Conforme o docente, Brasil e Argentina vivenciam, assim como outros países, o retorno de ideologias associadas ao nazismo e fascismo. “E isso radicaliza o debate político, que deixa de ser racional para ser extremamente e unicamente ideológico e assume uma narrativa própria salvacionista onde o adversário político é visto como inimigo e que pode ser até aniquilado”, complementa.

Para ele, o momento é de um endurecimento na resposta contra mínimos atos que fogem aos princípios democráticos. “Há um risco grave se as democracias não prestarem atenção no nazifascismo, que tenta convencer a população de que duelam contra um comunismo que, reforço, é idealizado por eles porque precisam de um inimigo”, sustentou Evandro.

Diplomacia em xeque

O alerta foi feito também pelo professor de disciplinas de Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF) Eduardo Manuel Val. Nascido na Argentina, mas morando no Brasil há 30 anos, o docente afirma que o episódio violento envolvendo o brasileiro nesta quinta reflete a escalada de discursos de ódio que reverberam no país nos últimos anos, sob impacto da crise econômica que se arrasta na Argentina.

Somente em julho a inflação no país foi de 7,4% e em 12 meses a carestia chega a 70%, quase sete vezes mais do que o registrado no Brasil atualmente. “O ataque é gravíssimo, é uma afronta à democracia no seu caráter universal. É extremamente grave porque leva a potencializar as tensões sociais e a colocar em risco a instabilidade democrática do país. Foi um atentado com risco à vida de uma chefe de Estado”, detalhou o professor.

Val acredita que o ataque contra a vice-presidente e as recorrentes ofensivas do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao governo argentino e demais países da América do Sul, como Chile e Colômbia, não chegam a surtir efeitos para as relações econômicas, fundamentais para ambos os lados.

Levantamento do Ministério da Economia indica que entre janeiro e agosto deste ano, as vendas de produtos brasileiros para a Argentina cresceram 34,1%, se comparado ao ano passado. As exportações cresceram 18,1% totalizando um saldo positivo de US$ 1,96 na balança comercial dos dois países.

“Estamos passando por um processo de ideologização da política externa brasileira. O Brasil integra com Argentina, Paraguai, Uruguai o Mercosul e tem tratados de livre comércio. Esse tipo de intervenção, de ingerência, em assuntos que não dizem respeito ao Brasil, de alguma forma ameaçam nossas relações. Em termos de política regional, até ameaça uma liderança brasileira que foi construída progressivamente em princípios democráticos e na participação em fóruns internacionais multilaterais”, acrescentou o professor.

Outro risco, alerta o docente, é a ameaça ao Estado Democrático de Direito. “Nos governos eleitos podemos gostar ou desgostar dos presidentes e dos partidos. Mas foram eleitos em pleitos democráticos. Quem perde, até da própria posse, já começa uma campanha feroz contrária. Isso foi muito evidente na Argentina”, complementou o professor ao lembrar também o cenário político em outros países como Chile e Colômbia.

O TEMPO

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