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Pampulha é a segunda regional mais violenta de Belo Horizonte


Mesmo com a segunda menor população das regionais de Belo Horizonte, com 226 mil habitantes, a Pampulha se destaca como a segunda com maior taxa de crimes violentos por 100 mil habitantes. É o que mostra levantamento exclusivo feito pelo Estado de Minas com base nas ocorrências de crimes violentos por bairros de Belo Horizonte, entre janeiro e julho de 2022, segundo dados obtidos por fonte da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e a orientação de especialistas.

Como foi mostrado na edição de ontem do EM, a Regional Centro-Sul, com 283 mil habitantes, é a concentradora de criminalidade, muito pelos altos índices de registros do Centro da capital mineira.

Contudo, a taxa de crimes por 100 mil habitantes da Centro-Sul é de 360,84, enquanto a da Pampulha registra 326,83, bem acima da terceira colocada, a Regional Noroeste, com 258,54 crimes por 100 mil habitantes.

Ou seja, mesmo sem grandes aglomerados urbanos ou centros com densa concentração de pessoas, os habitantes da Pampulha se encontram em convívio próximo com a criminalidade e a insegurança. Pelo mesmo levantamento, as regionais Oeste, com 143,25 crimes violentos por 100 mil habitantes, e a Barreiro, com 134,84, são as que registaram menos crimes e insegurança.

São considerados crimes violentos pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) o estupro, a extorsão, a extorsão mediante sequestro (sequestro-relâmpago), a tentativa de homicídio, o homicídio, a tentativa de roubo, o roubo, o sequestro e cárcere privado tentado e a sua modalidade consumada.

Os crimes violentos na capital mineira, no entanto, não têm aumentado, se encontrando em curva de estabilidade. Segundo dados da secretaria, de janeiro a setembro, caíram 0,78%, de 7.295, em 2021, para 7.238, em 2022.

Na Pampulha, observa-se a ocorrência de bolsões de comércio onde se aglutinam mais pessoas, mas também quarteirões residenciais de casas onde o tráfego é pequeno, bem como a vigilância em áreas como o Bairro São Luís, onde ficam o Mineirão e o Mineirinho.

Há também muitos condomínios verticalizados em torres em bairros como o Castelo, onde também as ruas acabam sendo pouco movimentadas, com as pessoas circulando preferencialmente de carro devido às grandes distâncias para supermercados, padarias etc.

Rede de vizinhos pela segurança


O medo já tem impactado a vida de muitos moradores e trabalhadores da região. Uma das estratégias dos moradores tem sido a Rede de Vizinhos Protegidos da PMMG, iniciativa que transforma a vizinhança em um grupo. Por meio do aplicativo de comunicação WhatsApp, representantes de condomínios, síndicos ou donos de casas trocam informações sobre suspeitos de crimes e conhecem de perto oficiais da polícia especificamente incumbidos  desse monitoramento.

“Pagamos também para vigias fazerem rondas de motos à noite. Eles passam pelas ruas apitando, e isso afugenta os criminosos. Se o vigilante ver algo suspeito, informa para a polícia”, afirma o proprietário de uma padaria no Bairro São Luís, Roberto Carlos dos Santos, de 56 anos.

O São Luís é o que mais tem registros de crimes violentos na regional, com 69 entre janeiro e julho, o quinto pior de BH, atrás de Centro (474), Santa Efigênia (76), Carlos Prates (75) e Floresta (71).

Aplicativos, seguranças e preparação se tornaram mais necessários com o aumento da violência sentida por alguns moradores, como a dona de casa Carla Kalil, de 62, e que há 53 mora no mesmo bairro.

“A Pampulha era afastada, tranquila, quase um interior. Mas agora sinto que se tornou uma cidade grande. A gente se assusta com os crimes, principalmente temos ouvido falar de sequestros-relâmpago de vizinhos e gente sendo roubada por motoqueiros que querem que você faça PIX para eles pelo telefone celular”, afirma.

Uma das raras horas em que a dona de casa se permite sair pelas ruas é para levar o neto às aulas particulares. “Toda vez que vejo motoqueiros com garupas suspeitos tento evitar ficar muito exposta. Prefiro sair também no horário do almoço, que é mais cheio de pessoas, e sempre passo pelos centros comerciais, na porta de lojas, padarias e lanchonetes”, afirma Carla.

A diarista Luciana Santiago, de 45, conta que os dias de jogos de futebol no Mineirão ou de eventos acabam trazendo muita gente de fora, e os casos de roubos e agressões costumam ser mais frequentes nessas ocasiões.

“Não é perto dos estádios, mas é nas ruas mais afastadas, onde tem menos polícia e segurança, que isso ocorre. Muda demais o perfil das pessoas para os moradores daqui. Tem gente que coloca churrasqueira no jardim do passeio, gente que faz as necessidades na porta das casas. Não dá para saber quem é suspeito, pode ser qualquer um”, pondera.

No Bairro Castelo, onde predominam edifícios e condomínios verticais, o registro de crimes violentos no período foi de 40 ocorrências, o 25º pior da capital.

“A gente tem notícia de muitos roubos a mão armada. Pessoa chegando em casa ou saindo pela garagem que acaba abordada por motociclista. Por isso, muita gente procura usar táxi até para fazer supermercado. A gente também precisa ficar atento, muitos bandidos chamam táxi e aplicativo daqui por ser rota de fuga fácil pelo Anel Rodoviário, BR-040. Um colega acabou sendo roubado e foi trancado dentro do porta-malas do táxi”, conta o taxista e morador do Castelo André Junio Silva, de 42.



Vulnerabilidades abrem brechas para criminosos


A zona cinzenta do entorno de locais que sediam eventos esportivos e culturais, como Mineirão e Mineirinho, tem sido motivo de preocupação das forças de segurança pública, segundo o coronel Carlos Júnior, especialista em inteligência de estado e segurança pública.

“Essa preocupação fez inclusive surgir um batalhão específico na PMMG, que é o Batalhão de Eventos. A prefeitura também cobra estrutura dos eventos para que haja seguranças, mas o entorno, em si, acaba se tornando vulnerável, e é nessas brechas onde atuam os criminosos. O criminoso sabe por onde as pessoas passam e calcula onde está mais afastado da ação policial”, observa o coronel.

“Na área da Lagoa da Pampulha predominam grandes propriedades e lotes, sendo uma questão geográfica de difícil atu- ação. Só as margens do lago têm 18 quilômetros, que recebem uma intrincada malha de vias dos bairros, dificultando um controle pontual. A questão de termos ali locais baldios se torna uma oportunidade para os ladrões e dificulta a denúncia da vizinhança sobre a presença de suspeitos”, afirma o especialista em segurança pública.

Já na questão de bairros como o Castelo é necessário atuação tanto de presença das forças nas ruas como o uso de câmeras e bloqueios rodoviários para desestimular as rotas de fuga pelo Anel Rodoviário, afirma o coronel. Há muitas áreas de limite com Contagem.

Na área do shopping do Bairro Cabral, vemos grande expansão, com empreendimentos de alto poder aquisitivo surgindo, mas um policiamento ainda aquém”, considera o especialista.

Orientações da Polícia Militar


Para os moradores da Pampulha e de outros bairros onde a violência esteja presente, a PMMG recomenda que, ao sair de casa, tranquem portas, janelas e portões.

“Evitem deixar visíveis ferramentas, escadas ou outros objetos que possam facilitar a entrada de pessoas (suspeitos)”, indica a corporação, destacando também cuidados E cuidados ao dirigir e quando estacionar carros: “Na condução de veículo, estacione sempre em locais iluminados e movimentados. Mantenha os vidros sempre fechados, portas travadas e alarme acionado. Evite deixar objetos à mostra no interior do veículo.”

Orientações ainda em relação ao comportamento preventivo quando a pessoa estiver nas ruas: “Se notar que está sendo seguido, entre em algum local movimentado e acione a Polícia Militar pelo telefone 190. Procure caminhar no centro de calçadas e contra o sentido do trânsito. Assim é mais fácil perceber a aproximação de algum veículo suspeito. Evite passar por ruas ou praças mal iluminadas e ermas; faça opção por locais iluminados e movimentados”.

Outros pontos importantes destacados pela PMMG dizem respeito ao entorno das residências: “Esteja alerta à presença de pessoas suspeitas nas imediações de sua residência, principalmente nos momentos de chegada ou saída. Ao atender estranhos, mantenha os portões fechados e as pessoas do lado de fora. Em caso de assalto, não reaja. Sua vida é o mais importante. Mantenha a calma, guarde os traços físicos do infrator. Não o enfrente, pois geralmente ele não atua sozinho. Acione a Polícia Militar assim que possível”.

Estado de Minas

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