Os dados do sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia por Satélite), que revelam o desmatamento anual na floresta amazônica, só devem ser publicados nesta quarta (30) pelo governo federal.
A data prometida consta em uma resposta do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações) a um pedido de Lei de Acesso à Informação feito pelo Observatório do Clima, rede que reúne dezenas de organizações socioambientais.
A reportagem apurou que a pasta já recebeu os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que faz a gestão do Prodes, há semanas, desde a primeira quinzena de novembro. O ministério, no entanto, decidiu divulgá-los apenas após a COP27, a conferência do clima da ONU, que terminou no último domingo (20).
Até então, porém, a pasta não havia dito a data exata para a publicação do número anual de desmate da Amazônia.
Segundo o ministério, a divulgação nesta quarta está prevista em um cronograma sugerido pelo setor do Inpe responsável pelo PAMZ+, programa de monitoramento que inclui o Prodes. Embora o levantamento sobra a Amazônia saia no dia 30, as informações sobre desmatamento no cerrado só serão conhecidas em 14 de dezembro.
O pedido, diz o texto, foi avaliado pela direção do Inpe e encaminhado ao ministro, Paulo Alvim, que não fez objeções ao calendário.
"Sendo assim, a divulgação do Prodes Amazônia para o período de 1º agosto de 2021 a 31 julho de 2022 será realizada no dia 30 de novembro de 2022. Em relação ao Prodes Cerrado a divulgação será realizada no dia 14 de dezembro de 2022", afirma a pasta.
Essa não foi a primeira vez que o governo de Jair Bolsonaro (PL) adiou a divulgação de dados de desmatamento em uma COP do clima -quebrando uma tradição que vinha sendo mantida desde 2005 pelos governos brasileiros.
Desmatamento passou de 10,9 mil km² para 13,2 mil km² em um ano
Em 2021, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, defendeu ao longo da COP26 (realizada na Escócia) que o desmatamento na Amazônia apresentava tendência de baixa, usando dados dos últimos meses do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real).
Embora tivesse o dado anual do Prodes disponível desde o dia 27 de outubro daquele ano, o governo só revelou o resultado após uma nota do SindCT (sindicato dos servidores públicos federais do setor aeroespacial) ter afirmado que a informação já estava disponível há quase um mês.
Nos últimos anos, o desmatamento passou de uma média de 7.000 km² -mantida entre 2015 e 2018, em uma média simples dos dados do sistema Prodes- para mais de 10 mil km² em 2019, subindo novamente para 10,9 mil km² em 2020 e para 13,2 mil km² em 2021.
Se uma alta for confirmada novamente na gestão Bolsonaro, será a primeira vez desde o início das medições (em 1988) que ocorrem quatro saltos consecutivos na taxa de desmatamento da Amazônia.
(Lucas Lacerda/Folhapress)
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