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Atropelamentos em alta: o que os smartphones têm a ver com isso?

Por Redação

30/12/2022 às 04:06:52 - Atualizado há
A tela que permite interagir com o mundo também toma a atenção e faz com que pedestres atravessem vias de alta velocidade com olhos presos ao celular e sem escutar corretamente o que ocorre no entorno, por causa de fones de ouvido. Dentro dos automóveis, até mensagens são digitadas, mobilizando não apenas o olhar do motorista como também suas mãos e reflexos. Já tido como a terceira principal causa de acidentes – perdendo para alta velocidade e embriaguez –, o celular é usado por quem caminha e quem dirige em algumas das vias mais perigosas de Belo Horizonte, como o Anel Rodoviário. Segundo especialistas, um componente importante no aumento de internações de pedestres em Minas Gerais e em na capital, segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS).
O saldo de internações em hospitais e pronto-socorros do SUS por acidentes de transportes terrestres apresentou aumento sobretudo entre pedestres. Em Minas, o total subiu de 3.141, entre janeiro e setembro de 2021, para 3.592 (alta de 14,3%) no mesmo período de 2022 (veja quadro). O mesmo ocorreu em Belo Horizonte, onde as internações de quem se desloca a pé somaram 673 de janeiro a setembro de 2021 e tiveram um salto 33,4%, passando a 898 em 2022. A capital ainda apresentou aumento de 18,6% em acidentes de carro no comparativo dos mesmos períodos. No somatório, as internações caíram 1,8% em Minas Gerais e aumentaram 2,3% em BH.
O uso de smatphones no trânsito é um componente importante na distração e pode ocasionar ferimentos graves, avalia o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra. “Percebemos aumento do número das chamadas 'Falhas de Atenção ao Conduzir' (FAC), que tem sido fator decisivo no aumento de acidentes. O celular é o principal exemplo, causando distração visual e motora quando associado ao volante. O fenômeno também é observado entre pedestres que se deslocam com o olhar totalmente voltado para as telas e muitas vezes com o agravo do uso de fones de ouvido.”
Quem se desloca a pé está mais exposto, o que ajuda a explicar os aumentos de internações em nível estadual e da capital, na avaliação do diretor científico da Ammetra. “Essa combinação é a responsável por esses eventos evitáveis. Os pedestres são o elo mais desprotegido do sistema de trânsito e, por isso, estão mais sujeitos a ferimentos graves e, portanto, a internações”, avalia Coimbra.
No Anel Rodoviário de Belo Horizonte, há muitos pontos onde pessoas ignoram passarelas quando estão disponíveis, ou se arriscam em pontos sem condições propícias a travessias. Basta trafegar pela rodovia para flagrar muitos deles usando smartphones com fones e muitos até acionando as telas enquanto cruzam as pistas movimentadas.


“Aventura” no asfalto

Um dos pontos em que a atitude é observada com mais frequência é na altura da Vila da Luz e Bairro Nazaré, na Região Nordeste de BH. Nesse trecho, até pais com filhos pequenos são vistos em disparada para chegar ao ponto de ônibus e não perder a condução, ainda que o pequeno ganho de tempo signifique um alto risco.
A atendente de lojas Madrizela Dornelas, de 48 anos, desce sempre de sua casa no Bairro Nazaré para esperar o ônibus no Anel Rodoviário e, quando precisa atravessar, prefere a passarela. “Só quem mora aqui sabe o tanto de gente que já morreu ou ficou inválida por causa da travessia do Anel. Há três anos, morreu o senhor Sebastião, de uns 70 anos, que ia trabalhar, correu na hora errada e foi atropelado por um carro. Esses dias, um rapaz novo foi pego por um carro e ficou com a perna e a cintura todas quebradas. Acho que deveria ter mais radares ou quebra-molas, mas as pessoas também precisam de colaborar”, afirma a atendente.
A grande população, a numerosa frota de veículos e a maior disponibilidade de atendimentos hospitalares para pessoas de cidades próximas também influenciam no número de internações em Belo Horizonte, avalia o diretor da Ammetra, Alysson Coimbra. “BH é uma das regiões mais populosas do estado. É também a região que tem a maior frota de veículos, o trânsito mais complicado e um grande deslocamento diário de pessoas. Naturalmente, haverá na capital maior ocorrência de acidentes e feridos. Além disso, há que se considerar que o número maior de atendimentos na cidade pode ser fruto da maior disponibilidade de assistência hospitalar em relação ao restante do estado”, pondera o especialista.


Dor, sofrimento e alto custo social

O grande número de internações por acidentes de transporte terrestre em Minas Gerais e em Belo Horizonte representam não apenas dor para vítimas e suas famílias, mas também um grande custo social. O diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra, lembra que, nos hospitais, várias equipes precisam ser mobilizadas para tratar desse contingente.
“Os acidentes estão mais graves, devido à imprudência e ao excesso de velocidade. Esses atendimentos demandam equipe multidisciplinar, exames de alta complexidade, cirurgias de emergência, internação em leito de UTI e hospitalizações prolongadas. Historicamente, os acidentes de trânsito respondem por uma ocupação de 60% dos leitos de UTI e 50% das Cirurgias do SUS. É um número bem alto”, avalia Coimbra.
O médico salienta que a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o Brasil gaste, todos os anos, cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) com acidentes de trânsito. “Estamos falando de algo em torno de R$ 261 bilhões, metade do que o país gastou com o auxílio emergencial no auge da pandemia, em 2020. Esse cálculo engloba o socorro às vítimas, atendimento hospitalar e gastos com Previdência gerados tanto pelo afastamento do trabalho quanto pelo alto número de aposentadorias por invalidez antes do tempo”, conta.
O impacto econômico muitas vezes vem seguido de impactos sociais. “Muitas das vítimas são jovens e acabam deixando suas famílias financeiramente desamparadas. Milhares de famílias brasileiras ficam financeiramente vulneráveis e empobrecidas toda vez que um jovem, pai ou mãe de família perde a vida ou fica incapacitado para trabalhar”, aponta o especialistas.

Onde há mais risco para quem está a pé

Em meio ao aumento nas internações de pedestres, a situação do personagem mais vulnerável no trânsito é pior em vias como o Anel Rodoviário de BH ou no Centro da capital, segundo avaliação da coordenadora de Projetos Especiais e Segurança no Trânsito da BHTrans, Jussara Bellavinha. “Os acidentes mais graves acabam chamando muito a atenção, mas quase todos os dias uma pessoa é atropelada no Anel Rodoviário. Já a Avenida Afonso Pena é sempre a campeã de atropelados por quilômetro”, afirma.
Outro fator que agravou internações de pedestres atropelados, segundo a coordenadora da BHTrans, é o conflito com as motocicletas, responsáveis por 36,65% dos atropelamentos em 2021, apesar de responderem por não mais que 14% da frota. “Muitos pedestres que tentam atravessar fora da faixa, entre os carros, acabam sendo atingidos pelas motos, que chegam em velocidade superior nos corredores entre os carros. É comum também que motociclistas acelerem antes da abertura dos semáforos, enquanto pessoas ainda estão tentando aproveitar para atravessar”, afirma.
Jussara Bellavinha afirma que a BHTrans atua em três frentes para enfrentar esse tipo de questão: engenharia, educação e fiscalização. “Fizemos revisão da programação semafórica para aumentar em 33% o número de oportunidades de travessia, para que os pedestres possam ter mais tempo. Instalamos mais redutores de velocidade, reduzindo em 78% os acidentes com motos, e fizemos os motobox na frente do semáforo o que ajuda a reduzir em 23% os acidentes. Também fazemos ações de educação nas escolas, mídias sociais e parceiros, sem falar nos detectores de avanço e de velocidade acima de 60km/h”, cita.
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