A infectologista Helena Duani explica que a alta de casos da doença ocorre de tempos em tempos. Esse fenômeno pode estar relacionado com os quatro tipos de vírus da dengue. “A cada ano, um dos tipos prevalece, e só se pega cada um deles uma vez. Por isso, existe um intervalo de cerca de quatro anos entre um surto e outro. Como não muda, de um ano para outro o vírus, geralmente, o mesmo que circula neste ano vai circular no ano seguinte. Varia um pouco, mas é mais ou menos assim”, explica.
Segundo ela, por esse processo, no ano seguinte, a ocorrência de casos tende a ser menor. O último surto ocorreu em 2019, quando a capital registrou 116.266 casos confirmados e 41 mortes.
Subnotificação de casos e testagem
Outro fato que chama atenção no levantamento divulgado pela SMS é a queda acentuada de casos em 2020, em relação ao ano anterior, quando BH teve 5.082 casos confirmados e uma morte pela doença. O isolamento social decorrente da pandemia pode ser uma das explicações para a diferença, segundo a infectologista.“Pode ter ocorrido muita subnotificação porque não tem como o vírus desaparecer assim. Os próprios profissionais de saúde não deveriam estar voltados para isso por causa da COVID”, afirma Duani.
Ela também ressalta a falta de diagnóstico para a doença: “O número de exames também deve ter caído. Se você não faz exame, também não há diagnóstico. Antes da pandemia, todos os serviços de saúde tinham um sistema de notificação automática. Já existia uma preocupação por causa dos surtos anteriores”.
"O que reparei é que, nos últimos três anos, não existia o fluxo da dengue. Em algumas UPAs, tinham dois médicos apenas para atender casos de dengue. Por causa da COVID, as atenções se voltaram todas para ela”, completa.
Outra hipótese que a especialista levanta para a queda é a menor infecção dos mosquitos. Durante a coletiva, os pesquisadores da Fiocruz-Minas falaram sobre o projeto Wolbachia, em que mosquitos são infectados com uma bactéria que reduz a capacidade de transmitir os vírus para as pessoas, diminuindo o risco de surtos.
O isolamento social também pode explicar a redução dos casos. “As pessoas estavam se deslocando menos, a dengue não se pega só em casa. A circulação fica menor e com isso, se houver um surto, ele ficará contido naquele lugar. A tendência é não se espalhar por toda a cidade como antes da pandemia”.
Chuvas e sazonalidade
O ano de 2023 começou com um grande volume de chuvas atingindo Belo Horizonte. Com isso, cresce a preocupação com aumento de focos da doença. “Tem também a questão da sazonalidade. O último surto foi em 2019, estamos em 2023. É provável que um novo surto aconteça. Talvez não nas mesmas proporções de 2019. Outro problema é que, com isolamento, as pessoas ficaram menos expostas ao vírus, e ninguém pode ter tido um dos subtipos”, destaca.Ela acredita que neste ano a população deve se manter alerta, principalmente no fim do período chuvoso. “Essa chuva mais forte, que lava é menos preocupante para dengue. Daqui para frente é que pode acontecer, em março, no fim do período chuvoso. Essa chuva forte, lava os focos e não há tanta reprodução. As chuvas mais fracas é que proporcionam uma reprodução maior, já que deixa a água parada por mais tempo”, comenta.
Veja a evolução da dengue:
Ano Casos confirmados Mortes
2022 1.214 1 2021 1.072 02020 5.082 1 2019 116.266 412018 516 0
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