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Sacristia de igreja do século 18 vira museu temporário de Aleijadinho


Ouro Preto – No caderno de registro de visitantes, aberto sobre uma mesinha, há assinatura de australianos, franceses, italianos e brasileiros de vários estados. “Isso apenas num dia. Tem vindo muita gente aqui, neste período de férias”, orgulha-se o padre Edmar José da Silva, pároco e reitor do Santuário Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, na Região Central de Minas. Satisfeito, o religioso mostra a sacristia-mor do templo, reinaugurada em dezembro e transformada, temporariamente, no Museu Aleijadinho. Ouro Preto recebe, anualmente, entre  500 mil e 600 mil turistas, de acordo com a prefeitura local. A sacristia-mor ou sacristia maior foi restaurada no pacote de obras estruturais e de elementos artísticos que contemplou a igreja do século 18, durante nove anos, com recursos federais R$ 7 milhões. Os serviços na matriz do Bairro Antônio Dias, no Centro Histórico da cidade, foram supervisionados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo tombamento, em 1939. No espaço, há peças importantes esculpidas por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814: o Cristo Crucificado, a imagem de São Francisco de Paula e o conjunto de madeira escura formado por quatro figuras com cara de animal, supostamente leões. Chamado de “Essa”, trata-se de adorno de um estrado usado, nas igrejas, para se colocar o cadáver durante as cerimônias fúnebres. Muitas histórias povoam Ouro Preto e sua atmosfera barroca, e uma delas envolve o esquife. “Contam que Aleijadinho criou essas quatro figuras a partir do relato de escravizados. Como nunca tinha visto a figura de um leão, baseou-se no relato dos africanos, e dá para ver que a cara não é propriamente de um leão”, conta o reitor do santuário. Segundo padre Edmar, está em andamento uma campanha para remontagem do Museu do Aleijadinho, criado em 1958 pelo bispo emérito dom Francisco Barroso Filho, de 93 anos, residente perto da Matriz Nossa Senhora da Conceição. "Fazemos um apelo à sociedade, aos empresários e ao governo para que nos ajudem nessa cruzada em prol da cultura, da história, do conhecimento", diz o padre Edmar, ressaltando que o acervo, com cerca de 200 peças, está guardado e precisa ser exposto.
ACERVO Na sacristia, estão em exposição 10 peças barrocas, e o curioso conjunto para cerimônia fúnebre chamou a atenção do casal de namorados Rodrigo Kohl, médico, e Ana Carolina Fontana, designer, de Santa Catarina. Pela primeira vez em Ouro Preto, os dois gostaram do acervo. “Nestas férias, viemos a Minas para uma viagem cultural”, contou o médico. Vindos de São José do Rio Preto (SP), o casal Adriano Marques e Edinalva David Marque e a filha Adrielle David Marques, estudante de arquitetura, admiraram as peças expostas e aproveitaram para ver, no corredor de acesso à sacristia, a mostra “Descortinar”, com 80 fotografias sobre o minucioso processo de restauração do Santuário Matriz Nossa Senhora da Conceição. “É tudo muito bonito, ainda mais restaurado”, disse Adriano, enquanto a filha Adrielle prestava toda a atenção nos detalhes da arquitetura da igreja. Como um atrativo a mais para os visitantes, o altar da Boa Morte, o primeiro no lado direito de quem entra no templo, abriga os restos mortais de Aleijadinho. Também no interior da igreja está sepultado o pai de Aleijadinho, Manuel Francisco  Lisboa, falecido em 1767 e autor do projeto arquitetônico da matriz. Pagando R$ 10 por um ingresso (no mês que vem passará para R$ 15), o turista tem direito a três visitas nesse circuito, além da Matriz Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias: a Igreja São Francisco, ícone do Barroco e uma das sete maravilhas do mundo colonial português, e a Igreja das Mercês e Perdões, também do século 18 e destaque de Ouro Preto, cidade reconhecida, em 1980, como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O ingresso, dividido em três partes, pode ser adquirido em qualquer uma das três igrejas.
HISTÓRIA Vinculado à Arquidiocese de Mariana, o Santuário Nossa Senhora da Conceição, também chamado de Matriz Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, foi erguido pelo grupo do bandeirante Antônio Dias no então arraial homônimo, como uma pequena capela devotada a Nossa Senhora da Conceição. Por volta de 1705, a ermida foi ampliada, reflexo do desenvolvimento local e da subsequente demanda pela constituição de uma paróquia própria. A freguesia de Antônio Dias, junto com a de Nossa Senhora do Pilar, passou a compor a recém-fundada Vila Rica, unificando, sob a mesma jurisdição política e administrativa, dois dos principais arraiais de Ouro Preto. Em 1727, o templo começou a ser reconfigurado e ampliado por Manoel Francisco Lisboa, pai de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Nos anos seguintes, a igreja passou por diversas obras, intervenções e melhoramentos internos até a segunda metade do século 18. A Matriz Nossa Senhora da Conceição, tombada isoladamente pelo Iphan em 1939, foi sede de vários eventos históricos importantes, como a posse do governador Gomes Freire de Andrade, em 1735.

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